Na maior parte do tempo, Jean-Claude Van Damme (Os Mercenários) se diverte muito no papel de Richard em O Último Mercenário (The Last Mercenary), nova comédia de ação original da Netflix. O astro – que estava afastado do cinema comercial desde 2016, tendo feito alguns poucos filmes menores após isso – desempenha seu papel um pouco pateta e até desequilibrado para o lutador ágil que costumava ser nos clássicos da ação. Mas, visivelmente, a curtição está ali, ainda que tenha aquela sensação de agente secreto idoso – que certamente é uma das inúmeras referências que a trama deseja parodiar de franquias como 007. Ainda que a vontade de revirar os olhos para tamanha presepada seja grande, o ator está em seu parque de diversões particular e sua alegria contagia boa parte da obra. Uma pena que não passa disso.
A trama e o elenco
A ação francesa concentra-se em combinar dois estilos da história do país com a comédia e, com isso, desperdiça tantas possibilidades – como prestar uma homenagem decente à carreira do astro nos anos 90 – que dá dó de assistir.
Na trama de O Último Mercenário, Richard Brumère é um ex-agente especial do serviço secreto francês que se tornou mercenário. Seu filho (vivido por Samir Decazza), no entanto, está de volta à prisão quando a imunidade concedida 25 anos antes é suspensa. Uma operação ameaça a vida dele. Para salvá-lo, Richard terá que buscar seus antigos contatos, unir forças com um bando de jovens imprudentes e um burocrata excêntrico – mas principalmente encontrar a coragem para assumir a paternidade.
Através desse enredo bastante genérico, o foco central do roteiro é desenvolver o relacionamento confuso entre um pai negligente e um filho totalmente irritante no meio de cenas de ação feitas com a mais baixa qualidade possível. A maioria das piadas erram o alvo e o personagem de Decazza é ingênuo demais para sua idade.
Van Damme, por sua vez, ainda tem carisma de sobra e até entrega boas cenas acrobáticas, mas o roteiro não o permite ir muito além disso. Ao viver um personagem totalmente unidimensional, uma caricatura exagerada, seu forte nunca foi o drama e segue o mesmo engessado habitual. Já os personagens coadjuvantes são uma mistura de pura estupidez com humor adolescente feito por um adulto que tenta replicar a juventude. E falha miseravelmente. O grande problema é que esse grupo de irregulares acaba por tirar o foco do protagonista e, com isso, sua chance de brilhar.
A direção
A condução do francês David Charhon é pura bagunça, mesmo que algumas cenas de ação funcionem no meio do caos. Falta equilíbrio entre o drama e o humor e, principalmente, trabalhar a química das relações entre as personagens. A mensagem sobre “passar o legado” é genuína e está ali, soterrada por toneladas de estereótipos e clichês de um roteiro que mais deseja progredir na agitada ação do que entregar uma mínima profundidade que seja para seu astro principal. A progressão da história, assim como seus conflitos, não soa natural e se apega demais em cenas superficiais de perseguição de carros e tiroteio que servem apenas de cortina de fumaça para encobrir as falhas da direção.
Conclusão
Em O Último Mercenário, Van Damme luta para mostrar suas habilidades cômicas pouco utilizadas, mas é nocauteado por uma tonelada de clichês maçantes, reviravoltas óbvias e ação genérica que torna a comédia francesa da Netflix apenas mais uma paródia limitada. O fascínio do astro e sua força gravitacional estão presentes, é uma pena que seu retorno ao cinema popular seja com algo tão esquecível assim.
Nota: 4/10
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