Talvez, de forma coletiva e um reflexo da pandemia como um todo, você, espectador assíduo, esteja com a sensação de que faz tempo que não assiste um filme realmente bom nos cinemas. Não precisa ser uma obra-prima transformadora, mas algo que siga o mínimo de qualidade e proporcione uma experiência satisfatória, que possa valer o risco de sair de casa e retornar às telonas que tanto amamos. Infelizmente, a nova aposta da Warner Bros. com a estrela Angelina Jolie, Aqueles Que Me Desejam a Morte (Those Who Wish Me Dead), ainda se mostra um motivo a mais para ficar em casa por conta do seu roteiro mediocremente escrito e a falta de aproveitamento de um enredo previsível, cansativo de se acompanhar e sem inspiração alguma.
A trama e o elenco
É evidente que Hollywood está passando por um momento em que qualquer conteúdo – desde jogos de tabuleiro até filmes sobre o inventor do Cheetos picante – absolutamente tudo, rende uma história, seja ela desinteressante ou não. Como é o caso desse longa-metragem aqui, que, claramente – e sem lógica alguma – quase que funciona como uma espécie de homenagem aos incêndios florestais, quando, na realidade, o intuito era se solidarizar com os bombeiros que lutam contra essas tragédias diariamente nos EUA.
Dentro desse contexto até mesmo promissor para se desenvolver um filme de ação genuíno aos moldes de Efeito Colateral ou À Prova de Fogo, o roteiro (baseada no livro do autor Michael Koryta, lançado em 2014) é consumido por uma bagunça narrativa extremamente sem lógica e coerência, que segue a regra do “cool” apenas para pôr seus personagens em situações sem o menor nexo – como o momento em que a protagonista, vivida por Jolie, é atingida por um raio DUAS VEZES e nenhuma delas acrescenta absolutamente nada à sua jornada. Fora isso, os personagens são mal desenvolvidos, vazios e estereotipados, especialmente a dupla de vilões inconsequentes, que, de tão patéticos, parecem ter sido tirados de filmes infantis como Esqueceram de Mim.
Na premissa de Aqueles que me Desejam a Morte, que se desenvolve arrastada e sem muita explicação, um pai e um menino precisam sobreviver à uma caçada violenta por dois assassinos contratados – vividos pelo cínico Aidan Gillen (Game of Thrones) e o “entra mudo sai calado” Nicholas Hoult (The Great) -, porém, acabam por colidir com o mundo de Hannah (Jolie) e Ethan (Jon Bernthal), uma bombeira (que não combate incêndio algum a não ser em flashback) e um policial de Montana, que, além de lutar contra um enorme e devastador incêndio criminoso, ainda precisa salvar a criança das garras dos vilões. O excesso de momentos dramáticos para situações facilmente resolvíveis e o suspense com altos e baixos tornam toda a aventura um desperdício de potencial, tanto do talento e carisma de Jolie, que realmente está boa, apesar de viver uma personagem com traumas que a direção insiste em repetir para o público a cada 10 minutos de projeção, quanto dá oportunidade de fazer um thriller de sobrevivência menos desajeitado e mais condizente com a proposta realista, que, para nossa tristeza e investimento, culmina em um desfecho anticlimático brochante.
A direção
É curioso que um nome em ascensão como Taylor Sheridan, diretor e roteirista de diversos filmes aclamados nos últimos anos como Sicario, A Qualquer Custo e Terra Selvagem, tenha desempenhado aqui um papel totalmente obsoleto, exagerado e desesperado por fazer um filme de ação convencional com ares dos anos 1990. Sua condução nesta bagunça certamente é o fio condutor para o descarrilamento do trem. O diretor trabalha muito precariamente seus personagens e a ligação emocional entre eles, fora as cenas de ação mal dirigidas e os buracos do enredo que não são preenchidos. Nada funciona corretamente e, quando algo apresentado faz algum sentido e empolga, não demora muito para se perder no emaranhado de tentativas falhas de divertir onde não há diversão. Falta efeitos especiais mais convincentes, uma trilha para ajudar a imersão, fotografia menos escura em cenas noturnas e falta, acima de tudo, ritmo e alguns cortes na montagem para extrair a grande quantidade de cenas repetitivas em plano aberto para mostrar a floresta e a passagem de tempo. Até mesmo a ligação emocional de Hannah com o menino – algo que deveria ser o ponto forte da trama – é simplista, apressada e não convence.
Conclusão
Através disso, se você espera que Aqueles Que Me Desejam a Morte seja um filme de ação genuíno com o potencial e carisma de Angelina Jolie, certamente vai se decepcionar com a quantidade exorbitante de previsibilidade, falta de coerência e emoção de um roteiro preguiçoso, que joga um balde de água fria nas poucas chamas de entretenimento. O resultado é um suspense bagunçado, sem desenvolvimento e, definitivamente, um dos mais decepcionantes do ano até o momento. A oportunidade de diversão acaba sendo consumida pelo fogo e não sobra quase nada que faça essa obra ser lembrada.