Crítica | Zona de Combate – Roteiro preguiçoso na primeira bomba da Netflix do ano

A visão distópica e destorcida do futuro faz mais uma vítima cinematográfica. Ou, no melhor dos casos, serve de base para mais um filme de ação com ficção científica sem grande inspiração e que se perde dentro de sua própria ideologia. Se por um lado Zona de Combate (Outside the Wire) investe pesado em cenas de ação para fisgar seu público-alvo, por outro, tem um roteiro tão minimalista que não alcança a grandiosidade de sua premissa. Na realidade, a nova aposta de guerra da Netflix tem dificuldade de sair da zona de conforto, imagina então entregar uma tal zona de combate que seja inovadora ou mesmo convincente.

A trama e o elenco

Ambientado no futuro de 2036, a trama acompanha um piloto de drone que é enviado para uma zona de guerra após tomar a decisão duvidosa que custou a vida de dois combatentes. Nessa jornada de punição e auto perdão, ele precisa se unir à um androide ambicioso em uma missão supersecreta que pode resultar em uma destrutiva.. adivinha? Guerra nuclear! Dessa premissa meio Eu, Robô, meio RoboCop, nasce um filme absolutamente genérico e mal desenvolvido, que desperdiça o potencial do elenco e parece ter sido escrito por uma torradeira ou uma máquina de lavar. Além da longa duração e da falta de conteúdo expressivo para preencher as lacunas entre uma cena mal dirigida e outra, a trama não engrena e, no fim das contas, caminha para lugar algum. Fora, claro, as reviravoltas de fazer o público revirar os olhos de tão tediosas e forçadas goela à baixo para fazer sentido, como a mudança de perspectiva do vilão, por exemplo.

Anthony Mackie (Falcão e o Soldado Invernal) está em seu melhor momento da carreira, mas os boletos chegam para todos, não é mesmo? O ator segue inexpressivo como de costume, no entanto, aqui seu esforço para entregar o mínimo parece ser bastante sofrido. Por outro lado, o jovem Damson Idris (Snowfall) rouba a cena (e o filme) para si e conduz muito bem sua parte da história, ainda que não tenha grandes ápices de atuação. Fora a dupla, o roteiro desenvolve muito superficialmente qualquer coadjuvante para que algum possa ter qualquer destaque, ou seja, os demais personagens apenas existem naquele universo para servir aos protagonistas ou para morrer. Inclusive, diversos dilemas e conflitos inseridos no primeiro ato de filme são deixados de lado mais pra frente, até serem totalmente esquecidos pela história com Alzheimer.

A direção

De fato, grande parte do que dá errado no longa vem do trabalho sem inspiração de Mikael Håfström (O Ritual) e sua falta de tato para conduzir cenas de ação. Além de cortes excessivos, que tornam as cenas confusas e sem eixo, o diretor também opta por uma direção enfadonha, apressada e que não mergulha no emocional dos personagens. Ao invés disso, utiliza explosões e até bons efeitos visuais para abafar a falta de consistência e manter o público distraído enquanto não sabe ao certo para onde quer ir com toda aquela presepada. As decisões visuais e estéticas da produção, por sua vez, também são questionáveis e o tal futurismo só funciona mesmo para alguns detalhes e quando a trama necessita desse tipo de contexto. O roteiro vive uma luta constante entre reproduzir a visão estereotipada e exaustiva do futuro e esquecer que, o que está entregando é, na realidade, demasiadamente ultrapassado.

Conclusão

No fim das contas, Zona de Combate habita, na verdade, a zona de conforto de um roteiro preguiçoso e genérico. Nem mesmo as cenas de ação tornam a experiência agradável, já que a nova aposta grandiosa da Netflix não passa de mais um filme-propaganda sobre o heroísmo americano que Hollywood não cansa de reproduzir. Satisfeito em desperdiçar seu bom elenco, proporciona pouquíssima diversão, mas deve ter sua falta de substância ofuscada pela presença de momentos de guerra que entretém o grande público. Uma coisa infelizmente é certa: o longa é realmente explosivo, afinal, é a primeira bomba significativa da Netflix esse ano.

Nota: 3/10

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