Crítica | Tio Frank – Drama comovente sobre homofobia e masculinidade tóxica

Publicidade

O poder da mensagem de ‘Tio Frank’ (Uncle Frank) ultrapassa suas barreiras superficiais e atinge certeiramente o coração do público, através de uma reflexão didática sobre as consequências da intolerância. O novo drama do Amazon Prime Video chega nos últimos momentos de um ano conturbado e marcado por filmes duvidosos e já se consagra como uma das melhores produções de 2020, muito por conta da forma doce e comovente em que lida com um assunto pesado e por entregar um desfecho feliz, destacando a obra de tantas outras com protagonismo gay que terminam em tragédia amorosa. Mas há outras qualidades que valem destacar.

A trama e o elenco

De forma prazerosa, o humor da obra caminha lado a lado com o drama e equilibra as emoções, enquanto retrata a história de uma jovem (vivida por Sophia Lillis) que simpatiza com a sensibilidade de seu tio Frank em uma família americana machista e conservadora. Conforme a menina cresce e enxerga a vida de outra forma, ela descobre que seu tio adorado, na realidade, é gay e casado com outro homem e, juntos, os três personagens viajam de volta para o interior para enfrentar a visão destorcida da família. No melhor estilo road movie, a trama se constrói sólida e floresce de sensibilidade durante o processo de descoberta da menina e como ela percebe que precisa estar ao lado de seu tio perante o mundo homofóbico que lhe aguarda.

Desde o começo, com a narração detalhada dos sentimentos de Beth, somos apresentados ao contexto opressor da família branca e racista do interior e como Frank (Paul Bettany) faz parte da grande maioria dos casos de jovens LGBTQ+ que são rejeitados por suas famílias e expulsos de casa. A carga emocional é forte e as atuações são de arrepiar, especialmente Paul Bettany (Vingadores: Ultimato). Ainda que o astro seja heterossexual na vida real e sua escalação para o papel tire a oportunidade de um ator gay ter seu devido espaço, sua performance é impecável, uma das melhores do ano, sem dúvida. Mas Sophia Lillis (It: Capítulo Dois) não fica tão atrás assim. A jovem segue tão boa quanto de costume e acrescenta bastante doçura ao dividir seu protagonismo com Bettany. A química da dupla mostra como o trabalho de direção de atores faz diferença no resultado. Fora esses, o vasto elenco ainda abre espaço para nomes como Peter Macdissi, Margo Martindale e Judy Greer brilharem.

A direção e o roteiro

Apesar da boa premissa, o enredo pesa sim para o melodrama e segue uma fórmula já conhecida de exploração dos dilemas LGBTQ+ nos cinemas, porém, aproveita assertivamente o modelo pré-estabelecido para construir uma narrativa instigante e bem humorada sobre aspectos sentimentais. O drama é forte, emociona e está presente, mas seu foco está mesmo em retratar o pensamento retrógrado da época e mostrar como o preconceito não nasce na pessoa, como isso é um reflexo direto da sociedade e da educação que recebemos e, como tal, deve ser erradicado.

Além disso, a trama evidencia a masculinidade tóxica que impede homens de expressarem seus sentimentos e desejos com honestidade, culminando em dor, tristeza e solidão durante a vida adulta. Enquanto o roteiro replica o modelo previsível, o diretor Alan Ball (A Sete Palmos) faz o possível para mergulhar no íntimo dos personagens e fugir de alguns estereótipos comuns. Sua condução e a forma como trabalha o elenco não permitem que a trama caia no tédio eminente ou que seja melancólica em excesso. A parte técnica, por sua vez, é impecável em recriar os anos 1970 com o auxilio de uma fotografia amarelada e quente, assim como os figurinos e a ambientação do interior conservador dos EUA.

Conclusão

Com isso, ‘Tio Frank’ é um road movie tão doce e sensível em sua proposta, que leva das lágrimas ao riso com facilidade e, de quebra, ainda promove uma forte reflexão sobre intolerância, homofobia e masculinidade tóxica. Sem dúvida, uma das melhores obras do ano e que não deveria passar despercebida, já que a trama, mesmo previsível em sua estrutura, é deliciosamente gentil em rasgar o coração do espectador. E, além do mais, é possivelmente a melhor performance da carreira de Paul Bettany.

Nota: 9

Última Notícia

Mais recentes

Publicidade

Você também pode gostar: