Crítica | Noturno – Terror mediano com trama sobre ambição e perfeccionismo

Após o lançamento de quatro filmes abaixo da média, é visível que a parceria entre a Blumhouse e a Amazon, denominada Welcome to the Blumhouse, serviu mesmo como local de desova de projetos que não teriam força para os cinemas por inúmeras razões e, certamente, estavam aprisionados na gaveta do estúdio sem ter uma janela de exibição. Cada um dos filmes possui enormes defeitos e poucas qualidades, sendo Mentira Incondicional o pior e Caixa Preta o melhorzinho, porém, nesse miolo, tem o sombrio e estranho ‘Noturno’ (Nocturne), suspense psicológico aos moldes de sucessos como ‘Cisne Negro’, com uma pegada de ‘Carrie, A Estranha’. O longa, que não é pior de todos nesse projeto descompensado entre as produtoras e até possui boas ideias, se esforça para se sobressair e desenvolve uma atmosfera obscura, que realmente intriga o espectador. Porém, assim como os demais, se esgota muito rapidamente e perde força antes que qualquer coisa boa seja alcançada.

A trama e o elenco

Na trama obscura e carregada de metáforas de Noturno sobre ambição, perfeccionismo e loucura, a jovem Violet (vivida pela ótima Sydney Sweeney, de ‘Euphoria’) dedicou toda sua vida à música e não tem escrúpulos em passar por cima de tudo e todos para ser a melhor musicista da sua escola. Inclusive, seu objetivo de vida é derrotar sua irmã (Madison Iseman), que também toca piano e é promessa de se tornar uma estrela da música clássica. Nesse âmbito de competição e jogo sujo, Violet encontra uma partitura amaldiçoada (sem grandes explicações para sua origem), que a leva a fazer coisas que jamais poderia imaginar em busca do sucesso.

Como podemos ver, a premissa é ótima e a trama tem elementos de horror contemporâneo que são bem trabalhados, fora que o diretor Zu Quirke, novato no cinema, consegue estabelecer uma conexão curiosa entre a jornada de uma protagonista que tem nuances fortes de antagonista, com o ambiente sombrio e misterioso desse mundo competitivo da música. O uso de uma trilha sonora densa e lúgubre também se destaca, ou seja, toda a atmosfera soturna surpreendentemente funciona.

O elenco, como citado, é bom, destaque mesmo para o trabalho de Sweeney e Iseman, duas ótimas jovens atrizes em ascensão. Porém, a receita do bolo desanda mesmo quando a trama começa a andar em círculos, perde energia e mergulha em um tédio, que se arrasta até o desfecho impactante e diria até mesmo corajoso, apesar de previsível, porém, irresponsável, especialmente para um público mais jovem. Talvez, por conta desse final explícito e cruel, que o longa tenha sido jogado para streaming.

Roteiro

Sem dúvida, o tom de Noturno é diferente de outros da Blumhouse, cuja proposta geralmente é entregar um terror genérico e divertido, para um público mais jovem. Aqui, tudo é obscuro e angustiante, sem esperança e sem nenhum tipo de humor. Isso, por si só, é uma diferença bem-vinda, mas o problema está mesmo na forma como o filme desequilibra sua narrativa. A protagonista é ruim, no sentido da maldade mesmo, fora que é difícil se identificar com ela e manter uma conexão por conta de sua falta de humanidade e carisma. Mesmo que personagens assim sejam ótimos e mais verídicos, nesse caso, sua construção peca e não condiz com sua perversidade em determinadas decisões. Ela não aceita estar em segundo lugar e, para que isso não acontece, nada mais importa ao seu redor.

O roteiro lembra sim outros filmes, mas se sai bem em ter sua identidade própria. É original e criativo, ao menos em boa parte da história, mas a sensação é de que a fonte de criatividade se esgota muito rapidamente e o restante é apenas uma narrativa lenta, asfixiada de subtramas bobas, até a chegada do clímax fraco que, ainda que aguardado, não entrega, nem de longe, a construção de bizarrices que estavam sendo trabalhadas por 1 hora e meia de muito drama e pouco suspense.

Conclusão

Dessa forma, ‘Noturno’ poderia ser memorável e música para os ouvidos dos amantes do suspense, com sua atmosfera sombria, que trabalha muito bem a ambição e a loucura humana, porém, se perde dentro de sua própria ambição. Mas não é ruim, pelo menos não dentro de um projeto tão descompensado quanto o ‘Welcome to the Blumhouse’. Ainda que tenha um desfecho irresponsável e frustrante, por ser uma cópia menos sofisticada de ‘Cisne Negro’, nesse caso, ser mediano não é tão péssimo assim. E ah, Sydney Sweeney é ótima e vale o tempo gasto.

Nota: 5

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