Fugir do eixo norte-americano é algo bem-vindo, especialmente se tratando de mercados como o brasileiro, que consome majoritariamente conteúdo dos Estados Unidos e acaba não assistindo nem uma parcela de todas as produções estrangeiras que são realmente boas ou minimamente diferentes. Por conta disso que plataformas como a Netflix é tão fundamental, afinal, certamente não teríamos contato com obras menores, como ‘O Poço’, nos cinemas. Porém, a quantidade de filme sem qualidade também é maior, já que a curadoria é menor e a pressa mais evidente. Nesse contexto, digo isso pois, ainda que seja extremamente divertido poder assistir um terror italiano como ‘O Fascínio’ (Il Legame), sucesso na plataforma, é um sentimento agridoce que logo vai embora quando percebemos que a produção serve apenas para preencher as lacunas de lançamentos do catálogo e não agrega nenhuma novidade ao gênero, apenas um amontoado de referências, que mistura filmes de terror japoneses com elementos sobrenaturais de folk horror em um saladão para ser servido com água, senão fica difícil de engolir.
A trama e o elenco
Para começar, o grande problema dessa produção está em sua lentidão em desenvolver a trama e engatar na premissa que promete entregar. Até que algo realmente possa despertar nossa atenção, o tempo já passou e o espectador desistiu. Porém, caso tenha ficado para ver onde aquela história sem gás irá levar, sinto informar que praticamente para lugar nenhum, já que o clímax é tão desanimador quanto o restante. Mas ok, vamos lá. De início, ainda que lenta, a trama apresenta seus personagens clichês e estabelece um clima de estranheza que realmente envolve, especialmente pela ambientação no interior de uma Itália quente e cercada de lendas urbanas desconhecidas.
Essa atmosfera fisga o espectador pela curiosidade e até entrega bons momentos de medo, claro, feitos através do uso excessivo de jump scares, que testa o marca-passo do espectador mais idoso. No entanto, logo se perde em uma história sem pé nem cabeça, que erra ao mostrar demais o “monstro” e não saber desenvolver um terror sugestivo eficiente. O clima de terror passa, assim como nossa vontade de continuar investindo tempo para saber que, no desfecho óbvio, tudo vai terminar bem. Enquanto o elenco, ainda que superficialmente, entrega boas performances, especialmente a atriz Mía Maestro (Frida), nome mais conhecido da turma. Ninguém, de fato, alcança o nível de intensidade que a narrativa propõe, fora que os personagens são vazios, enjoados e cansativos demais.
A direção
O trabalho de direção do novato Domenico De Feudis em O Fascínio é quase a corda que resgata o roteiro do fundo do poço, mas, apesar da tentativa de dar uma sofisticação para alguns planos convencionais, não tem a menor força para segurá-la e deixa a trama afundar, gradativamente, em um emaranhado de clichês e previsibilidades. Toda a boa atmosfera que estava construindo até então é soterrada por reviravoltas fraquíssimas e uma criatura sobrenatural idêntica a tantas outras sem graça, que mais provoca uma risada nervosa do que medo no público. Além disso, uma trilha mais intensa e envolvente teria feito grande diferença em momentos cuja construção de terror falha absurdamente ou não entrega, nem de perto, o tal perigo crescente que estava sendo alertado.
Conclusão
‘O Fascínio’, ao contrário de seu título, não encanta em absolutamente nada e desperdiça uma boa premissa com um terror fraco e imerso na previsibilidade, que perde o espectador facilmente por conta de sua lentidão e ausência de originalidade. Se por um lado constrói uma atmosfera medonha e intrigante em seu começo promissor, em seguida despenca no abismo do tédio sem a menor chance de ser resgatado com vida, restando apenas mais um filme vazio para preencher as lacunas do catálogo da Netflix.