Como um recorte histórico de um momento delicado de confronto entre Estados Unidos e Cuba, ‘Wasp Network: Rede de Espiões’, que está disponível na Netflix, é eficiente em mostrar a história verídica de como uma rede secreta de pessoas foi estabelecida em solo americano para cumprir algumas funções para o governo de Cuba. Essa tal “rede de espiões”, na realidade, não tem espiões propriamente dito, pelo menos não nos núcleos principais, assim como o outro filme do mesmo diretor, ‘Personal Shopper’, também era um terror sobrenatural sem fantasmas. Olivier Assayasa costuma fazer um cinema subjetivo e que coloca o espectador no papel de observador, sem que haja interferências ou emoções. Nesse caso, é como assistir uma aula de história de duas horas, repleta de subtramas sendo desenvolvidas paralelamente, cujo desfecho já sabemos como será.
Enquanto histórias similares, como a comédia ‘Feito na América’, utilizam o tom cômico para mostrar uma rede de infiltrados entre dois países opostos, a trama de Assayasa aposta no suspense e no drama das situações de perigo e como regimes autoritários e ditaduras podem destruir famílias. A grande quantidade de personagens e idas e vindas no tempo acabam, curiosamente, sendo organizadas pelo olhar sensível do diretor. Por se tratar de uma drama baseado em fatos, que explora diversos anos, o resultado poderia ser uma enorme bagunça de acontecimentos mas, na realidade, é fácil de entender e se situar como a rede de espiões foi formada e como funciona, porém, enquanto isso não é um desastre, o mal desenvolvimento dos personagens é. O roteiro privilegia uns mais que outros e causa um desequilíbrio na narrativa e uma confusão sobre quem, de fato, protagoniza a trama.
Repetindo a dobradinha, Wagner Moura e Ana de Armas vivem novamente um casal após ‘Sérgio’, outro filme da Netflix, inclusive, ambos estão tão semelhantes no nível de atuação e química, que parece uma extensão do outro filme. Ainda que o ator brasileiro seja fantástico, aqui não tem a chance de brilhar, já que o destaque principal fica mesmo para Penélope Cruz e seu drama familiar, provocado após seu marido, vivido pelo ator Édgar Ramírez, deixar Cuba e fugir para os EUA. Com isso, ela precisa lidar com o fato de criar sua filha sozinha em um país que tira sua liberdade de ir e vir. O núcleo da atriz é o mais sensível e bem realizado pelo diretor. Passa veracidade e empatia. Já os demais, são realmente fracos. Falta – quem sabe – mais ação ou mesmo ousadia do roteiro de mostrar um nível de perigo mais claro e evidente.
Mesmo com muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, a montagem e a direção organizam os trajetos e não é uma história difícil de se manter imerso, já que há momentos de suspense que são realmente intrigantes e toda a construção da narrativa é eficiente. Hollywood talvez tenha criado um padrão de filme de espionagem que esse definitivamente não tem e isso é bom, uma vertente mais realista e direta sobre o assunto, sem exageros ou estereótipos que distorcem a realidade. Até mesmo o desfecho, esperado que seja para o lado trágico, trilha um caminho que busca mostrar a realidade e as consequências dos atos dos personagens na vida de outros inocentes, que são arrastados para o turbilhão de problemas. No drama, a trama é muito mais eficiente e interessante.
Dessa forma, ‘Wasp Network: Rede de Espiões’ é um filme de espionagem realista e pé no chão, que tem força no drama familiar, mas que perde energia pelo excesso de personagens e subtramas sendo desenvolvidas ao mesmo tempo. O diretor Olivier Assayasa tem um olhar peculiar sobre narrativas convencionais e sabe desconstruir gêneros como poucos atuais, mas o seu filme, ainda que seja um recorte histórico interessante e provocante, se torna mais um no meio de tantos que se perdem dentro da própria história grandiosa que desejam contar.