Crítica | ‘A Morte Te Dá Parabéns’ é pura diversão disfarçada de terror

Na prateleira dos filmes de terror genéricos, se destaca aquele que consegue, pelo menos, contornar sua previsibilidade e entregar alguma novidade que seja ao gênero, algo que ‘A Morte te dá Parabéns’ (Happy Death Day), lançamento na Netflix, faz tão bem ao mesclar o clássico estilo slasher com uma loucura Sci-Fi criativa. É como se ‘Pânico’ tivesse colidido com ‘Feitiço do Tempo’ e, dessa colisão, nascesse um filme de terror de baixo orçamento, que usa grande parte de seus esforços na tentativa de aprofundar sua premissa criativa, afim de desenvolver uma trama engenhosa e divertida. Ainda que seja uma grande batida de diversos gêneros, como suspense, ficção científica, comédia e terror no liquidificador, o resultado surpreendentemente é melhor do que se poderia ter esperado.

A alma da trama é sua protagonista que, a princípio, parece apenas mais uma personagem fútil de filmes similares, mas que, conforme morre e revive todos os dias, tem seus sentimentos explorados mais a fundo a cada novo ciclo. A atriz Jessica Rothe (La La Land) cai como uma luva para viver essa personagem que precisa ser engraçada e furiosa ao mesmo tempo. Sua jornada pela história é consistente e o roteiro é tão engenhoso na construção, que consegue caminhar para frente, mesmo mostrando o mesmo dia repetidas vezes. O tom sério e assustador do início dá lugar a uma fantasia cômica conforme descobrimos que o dia ganha um reboot sempre que a personagem morre, inclusive, até mesmo ela começa a se aproveitar desse ciclo para fazer coisas que não tinha coragem de fazer antes. Com isso, o humor rouba o terror e o filme, sem dúvida, diverte mais do que provoca medo.

Para dar liga ao roteiro original, a direção precisa saber conduzir esse ciclo, caso contrário, a repetição de elementos pode cansar facilmente após alguns minutos. Felizmente, o diretor Christopher B. Landon (Como Sobreviver a um Ataque Zumbi) sabe aproveitar sua premissa cômica e entrega sequências hilárias, além de brincar com as possibilidades e não temer replicar, em forma de homenagens, clichês e estereótipos do gênero, especialmente na maneira como um slasher é filmado. Nesse quesito, até a trilha sonora intensa lembra filmes como ‘Pânico’ e ‘Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado’.

Na verdade, a tal criatividade do roteiro está mesmo em pegar a ambientação escolar, típica desses filmes de terror, e subverter para uma fantasia que mexe com ciclo temporal. Porém, manusear o tempo nem sempre é algo fácil de ser feito e grande parte acaba deixando furos de roteiro. Aqui, ainda que atencioso aos detalhes que constrói para revelar o verdadeiro assassino mascarado no final, acaba quebrando algumas de suas próprias regras durante esse reset de dias. Na tentativa de ser engraçado, se extrapola e esquece alguns conceitos básicos, fora que termina sem entregar respostas convincentes.

Outro deslize está exatamente no que o filme acredita ser o maior mistério: a revelação do assassino. Porém, na verdade, o que mais intriga é saber por qual razão o ciclo temporal existe (Spoiler: essa é a trama do segundo filme, porém, o primeiro encerra sem deixar claro que haverá um segundo) e essa decisão de priorizar o vilão acaba sendo anti-climática, especialmente pela escolha de quem estava por trás de tudo ser extremamente forçada e suas motivações definitivamente não convencerem. Essa preguiça do roteiro acaba tornando o final brega e tosco, sendo que poderia ter seguido por caminhos muito mais criativos e surpreendentes. Ainda assim, são detalhes e escolhas que, de modo geral, não tiram a qualidade da premissa.

Com isso, ‘A Morte Te Dá Parabéns’ deixa o terror de lado e entrega uma divertida paródia Sci-Fi, através de um roteiro engenhoso, que sabe brincar com as possibilidades. Não que não tenha clichês do gênero e reforce estereótipos previsíveis, mas sua premissa é tão eficiente, que se sobressai facilmente entre tantas outras genéricas, que nem ao menos sentem prazer dentro da proposta de fazer um filme com senso de humor. No fim, é uma ótima distração escapista, que diverte ainda mais quando assistida repetidas vezes.

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