Crítica | Tales From the Loop – Série da Amazon Prime é pura poesia visual

Tendo como base uma série de pinturas do artista sueco Simon Stålenhag, ‘Tales From the Loop’, nova ficção científica da Amazon Prime Video, é um fluxo contínuo de criatividade e originalidade, tão essencial em momentos como esse, em que parece que todas as produções são puramente repetições de fórmulas que já deram certo. A trama, inteligente, divide seus personagens em núcleos e foca cada um dos 8 episódios em um desse núcleos, que se interligam por detalhes e pela ambientação, uma pequena cidade dos Estados Unidos, localizada em cima de uma máquina construída para abrir e explorar os mistérios do universo, chamada Loop.

Como cada capítulo também funciona muito bem isolado, já que são inspirados em pinturas diferentes, as histórias variam entre emotivas, tristes e inspiradoras, porém, todas possuem o mesmo tom melancólico e misterioso, de um lugar atemporal, semelhante ao clima de séries como ‘Dark’ e ‘Stranger Things’. Por não especificar em que ano a história se passa (apesar de ser por volta dos anos 1980), o design de produção da série é espetacular e cria uma atmosfera de singularidade, que mescla o futurismo com uma vibe oitentista. Há elementos robóticos gigantescos pelos cenários, abandonados, como se o tal futuro já tivesse passado a muito tempo e sobrado apenas os vestígios dessa civilização. Esse contexto afasta a série do tão habitual futuro distópico e pessimista, estilo ‘Black Mirror’, que imagina o mundo devastado pelo caos e tecnologia. Aqui, se é que um dia existiu, o pior já passou e a vida segue a rotina.

O roteiro desenvolve histórias existencialistas, que debatem sobre vida e morte, sobre linhas temporais e sobre o tempo, de um modo geral. Aliás, o tempo e a morte são os dois elementos cruciais dessa 1ª temporada, presentes em todos os episódios. Mas não se engane, apesar de ter uma energia calma e triste, há sim elementos que assustam, até mesmo pelo fato de que a trama não entrega respostas sobre os mistérios mostrados, apenas os desenvolve. Troca de corpos, tempo congelado, viagens no tempo, todos esses mistérios são possíveis nessa cidade e, uma vez que embarcamos na aventura, é impossível não se envolver com o carisma dos personagens e das premissas delicadas de suas vidas.

Com produção de Matt Reeves (Cloverfield, Planeta dos Macacos), diretor do novo ‘The Batman’, o elemento fantasia dos episódios é o plot que muda a rotina dos personagens. Os efeitos visuais são eficazes e transformam as pinturas, que deram origem à tudo, em verdadeiros quadros vivos. A direção de fotografia é belíssima, valoriza luzes naturais e os cenários gigantescos ao ar livre, porém, é a trilha sonora que rouba a cena. As canções instrumentais preenchem os momentos de silêncio e deixam as histórias emocionantes e calorosas. É difícil não se emocionar com a condução da trilha e da direção, sendo uma série com poucos diálogos. É apreciativa e reflexiva a maior parte do tempo, algo que acaba por deixar o ritmo dos episódios mais lento e, para alguns públicos, pode cansar uma vez ou outra.

O elenco é excelente e se entrega ao máximo possível. Rebecca Hall (Christine: Uma História Verdadeira) e Paul Schneider (Channel Zero) vivem personagens repletos de camadas, mas é Jonathan Pryce (Dois Papas e Game of Thrones) que rouba a cena, com uma performance intensa, doce e verdadeiramente linda. Porém, ainda que os atores sejam bons, há muitos personagens e isso nunca é bom sinal. Não que a trama se perca, mas o desvio de foco aproxima a série de uma antologia e, por conta disso (e pelo fato de ter histórias intensas demais) é uma série que funciona melhor sem ser vista no ritmo de maratona. Ter um tempo entre um capítulo e outro é precioso e essencial para absorção.

Dessa forma, ‘Tales From the Loop’ tem uma temporada impecável, original e verdadeiramente poética. Diferente de tudo que vemos atualmente, é uma história sobre um futuro distópico otimista, cujas respostas para os mistérios não tem tanta importância quanto o mergulho na imaginação dos personagens e seus dilemas. De longe, uma das melhores e mais peculiares ficções científicas dos últimos anos, por trabalhar a perda, a morte e o tempo com uma delicadeza sem igual. Cada episódio é uma preciosidade.

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