A produtora Blumhouse segue firme e forte na vertente do cinema de terror atual, que busca agradar o público mais jovem e mais interessado em um filme de terror rápido, direto ao ponto e repleto de conveniências já esperadas pelo gênero. Filmes corpulentos, com grande elenco apelativo e histórias mirabolantes, mas que não possuem praticamente nenhum cérebro e que jogam no lixo qualquer boa ideia que a versão original um dia teve, já que a grande maioria são remakes de clássicos do terror, como o recente fracasso ‘Natal Sangrento’ e agora a presepada ‘A Ilha da Fantasia’ (Fantasy Island) que se inspira na famosa série de TV de aventura (1978 a 1984), mas que, apesar da até boa premissa, nada e nada, para morrer na praia, literalmente.
No entanto, o desperdício de uma boa história não é o único problema aqui, já que há sim alguns elementos positivos, sendo o melhor deles, a construção inicial de suspense da narrativa, eficaz e que instiga, até a trama começar a degringolar para um caminho sem volta. Na história, uma ilha misteriosa, no meio do Oceano Pacífico, oferece para seus visitantes, escolhidos à dedo, uma experiência sobrenatural de poder realizar um único desejo, seja ele qual for, porém, como já é de se imaginar, é preciso tomar cuidado com o que deseja, pois nem tudo é como parece. Dessa premissa digamos “diferente” nasce um filme de terror, que não tem terror algum, mas que insiste em impressionar o espectador com suas manobras para fazer suspense com absolutamente tudo que acontece em cena. Até mesmo os sustos, que raramente dão as caras, são vergonhosos.
Inclusive, há um momento pontual na trama em que uma personagem diz que assistimos filmes de terror “para sentirmos algo” e, ironicamente, o roteiro aparentemente consciente dessas sensações, ignora qualquer chance de ousar na criatividade e não provoca absolutamente nada, pois prefere replicar clichês, tanto de personagens extremamente estereotipados, quanto de escolhas dramáticas óbvias e reviravoltas idiotas e forçadas. O humor é infantil e se perde por completo, o que faz lembrar uma comédia do começo dos anos 2000 chamada ‘Pânico na Ilha’ (Club Dread), na verdade, uma paródia de filmes slasher que, bizarramente, funciona infinitamente melhor na palhaçada. Já o drama, que permeia pelo plot twist principal, ao melhor estilo Scooby-Doo, centra-se em uma construção fraca e rasa dos personagens, que também empobrece a trama, principalmente pela ausência de um protagonista que sirva para algo útil, como questionar a maluquice que está vivendo.
Jeff Wadlow é um bom diretor, mas com um currículo difícil de digerir. Mesmo que grande parte de seus filmes, como ‘Verdade ou Desafio’, sejam intensamente ruins, ele sabe desenvolver um bom suspense e trabalhar com mistérios, como faz em ‘Cry Wolf: O Jogo da Mentira’. Essa mão pesada no mistério é também o único ponto forte de ‘A Ilha da Fantasia’ que, como citado, começa bem, cria situações promissoras e trabalha com diversos núcleos, algo que poderia ter funcionado, no melhor estilo ‘O Segredo da Cabana’, caso fosse um pouco mais fácil suspender a descrença quando a história começa a viajar além do necessário. O excesso de personagens também não ajuda, já que nenhum tem carisma ou provoca empatia. Lucy Hale (Pretty Little Liars) parece não cansar de fazer a protagonista sem sal e sem ânimo, já Michael Peña (Homem-Formiga), que vive o anfitrião Sr. Roarke, é um desperdício, afinal, o ator é bom na comédia e dessa vez nem sorrir pode, de tão engessado que está.
Sem a menor necessidade de existir, ‘A Ilha da Fantasia’ pega sua premissa interessante e enterra bem fundo na areia da praia, até desaparecer, encoberta por clichês, personagens idiotas, reviravoltas no estilo Scooby-Doo e um terror tão inexistente, que até ‘Cats’ é mais assustador. É um filme que não caminha para lugar algum, não provoca nenhum tipo de emoção e não convence em absolutamente nada. A lista de piores filmes de terror do ano foi atualizada com êxito e esse, ainda que nade para se salvar no oceano de presepadas que cria, morre antes mesmo que possa chegar à superfície. Que desânimo.