Nós temos uma quedinha por personagens complexos, isso é fato. Nada mais delicioso em um roteiro do que um protagonista bem desenvolvido e que, da forma mais natural e realista possível, representa como os seres humanos são. Dentro de nós há a luz e as trevas, já diziam alguns filósofos, ou seja, somos feitos de nuances entre o certo e o errado e talvez por isso nos identificamos tanto assim com personagens anti-heróis nas telonas do cinema, ou seja, protagonistas que defendem ideias facilmente identificadas na personalidade de antagonistas.
Além de ser divertido e de filmes com personagens desse tipo geralmente ter uma classificação etária maior, certamente há outros motivos para que possamos gostar tanto assim de anti-heróis, como explica a psicóloga Natielle Dassi: “Acredito que os anti-heróis nos fascinam tanto, pois refletem o mundo complexo e paradoxal da mente humana. Os anti-heróis podem ser considerados o reflexo da parte “boa” e “má” da nossa personalidade, pois sentimentos como inveja, ciúmes, ódio, são difíceis de admitir para si mesmo, sendo mais “fácil” projetar/criticar/apontar às falhas/defeitos/erros no outro.”
Dessa forma, personagens icônicos do cinema e da TV, como Arlequina (da Margot Robbie), o Sawyer (de LOST) e o Dexter Morgan, por exemplo, despertam nossa identificação por não se tratar apenas da “mocinha” ou “mocinho” da história, mas sim, do protagonista bad ass que luta por si mesmo, mas que tem uma noção do efeitos que causa a sua volta, sendo afetado de forma moderada. “Os anti-heróis funcionam como um reflexo de todos os sentimentos e comportamentos, sejam eles “éticos” ou não, “morais ” ou não, que habitam dentro de nós. Posso dizer que acredito que todos construímos ao longo da vida sentimentos e comportamentos “heróicos” e “anti-heróicos”, pois estes podem ser considerados a nossa busca incessante por reconhecimento de algo. Todos em busca de sentido que alimente a mais primitiva vaidade, o “narcisismo do ego”. Até no sofrimento somos vaidosos, somos egoístas.”
Pensando nessa maravilhosa complexidade, o time de conteúdo da Betway Cassino, site de caça níquel online, produziu um infográfico que destaca os maiores anti-heróis do cinema, além de ressaltar os níveis de moralidade, empatia e crueldade de cada um. Confira abaixo os 5 mais influentes e amados pelos fãs que ocuparam o topo do ranking:
5 – Deadpool
Um dos personagens da Marvel que mais tem dado certo nos cinemas definitivamente é o Deadpool, interpretado pelo hilário Ryan Reynolds. Além da liberdade criativa de pular de um filme para outro, mesmo que sejam em “universos diferentes”, o protagonista está envolvido com os X-Men, apesar de não se considerar um, exatamente por ter atitudes mais “adultas” e violentas do que as dos mutantes. No seu mundo não há regras e parte da sua motivação nos filmes é puramente por vingança pessoal.
Esse “mal exemplo” de super-herói tem agradado os fãs e tem feito o personagem garantir sua estadia na Marvel Studios, após a compra da Fox pela Disney, que aliás, prometeu que não vai reduzir as cenas violentas e o palavrões dos próximos filmes em que o personagem for o protagonista. Como podemos ver no ranking, apesar de ser sarcástico e parecer não se importar com o mundo, seu nível de empatia ainda é maior do que o de violência, ou seja, há um lado “super” nesse anti-herói.
4 – Travis Bickle (Taxi Driver)
Certamente ‘Taxi Driver’, de 1976, foi um filme que ajudou a moldar a fórmula como se desenvolver anti-heróis, já que o protagonista (interpretado por Robert De Niro) se tornou uma espécie de representante do caos na época, algo similar ao que aconteceu com o filme recente do ‘Coringa’, que aliás teve grande inspiração na obra do Martin Scorsese.
Apesar da desvantagem de estrelar apenas um filme, o personagem representa a essência de um anti-herói, ou seja, um homem comum que segue uma jornada na tentativa de “limpar” o mundo e a sociedade de tudo que for oposto à sua visão de o que é certo. Os níveis de moralidade e empatia são os mesmos, pois ele acredita, de fato, que está fazendo algo melhor para o mundo ao seguir sua ideologia.
3 – Coringa
Ainda que já tenha havido muitos Coringas nos cinemas, definitivamente o mais recente, interpretado por Joaquin Phoenix, é o mais aclamado e também o mais complexo de ser analisado, afinal, sua ideologia (similar à do Travis Bickle) é distorcida pela forma como vê a sociedade após ter sido tratado, a vida toda, como um excluído e estranho. O filme, dirigido por Todd Phillips, faz questão de mostrar o quão perigoso o personagem pode ser quando decide “revidar”.
Ainda assim, mesmo sendo um icônico vilão do Batman, o novo filme o aproxima muito mais de ser um anti-herói por nos fazer ter pena, empatia e até mesmo concordar com suas atitudes drásticas, fatos esses que tem colocado o filme no meio de diversos debates sobre saúde mental e sobre a cultura dos chamados Incel, homens que se definem como incapazes de encontrar um parceiro romântico ou sexual, apesar de desejarem ter, e culpam as mulheres/sociedade por isso.
Pelo gráfico, podemos ver que o Coringa tem um nível baixo de moralidade, porém, sua crueldade está alta, o que pode resultar em uma explosão terrível de caos.
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2 – Alex DeLarge (Laranja Mecânica)
A radiação está ficando mais forte agora, já que a lista cita o polêmico Alex DeLarge (Malcolm McDowell), protagonista do aclamado ‘Laranja Mecânica’, do Stanley Kubrick. De fato, um anti-herói idolatrado por muitos fãs desde sua aparição nos cinemas, em 1971. Hoje, sua visão distorcida de mundo é quase que uma religião para muitos, mas vamos tentar entender o motivo. Como havia dito a nossa psicóloga no começo dessa matéria, os anti-heróis causam fascínio por defenderem o que nós talvez tenhamos medo de expor, por isso as ideias conturbadas do Alex conquistam tantas pessoas. É um personagem original, carismático, único na época e destemido.
O psicopata possui o nível de crueldade bem mais elevado do que o de empatia e moralidade, ou seja, essa adoração mundial, similar à que as pessoas tem por serial killers, é perigosa.
1 – Hannibal Lecter
Não teve para ninguém, o topo do pódio é do sanguinário canibal Hannibal Lecter (Anthony Hopkins). Por sua personalidade carismática, doce e encantadora, o personagem se tornou um dos mais interessantes anti-heróis do cinema, tendo uma legião de fãs desde sua primeira aparição, no longa ‘O Silêncio dos Inocentes’ (1991). A complexidade de sua mente, a forma como manipula seus oponentes e o charme que exala, fez dele um verdadeiro estudo psicológico, que influenciou diversos outros filmes desde então e, apesar do alto nível de crueldade visto no ranking, é o protagonista de sua própria história, mesmo que suas ideias sejam de um antagonista e, com isso, somos levados a “entender” seu objetivo na trama e até mesmo ter empatia, mesmo que tenha feito 27 vítimas conhecidas até então, com uma média altíssima de 4,6 assassinatos por filme na trilogia.
O amor por ‘O Silêncio dos Inocentes’ é tanto, que foi um dos poucos filmes na história do cinema a receber os 5 principais Oscars da cerimônia, incluindo de Melhor Filme e Ator para Hopkins. Sem dúvida, o personagem é um marco para o cinema, para a cultura pop e para o que entendemos como anti-herói.