Crítica | Vingança a Sangue-Frio –

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Para começo de conversa, precisamos falar sobre a repetição de atores dentro de alguns gêneros específicos e até onde vai a criatividade de Hollywood quando escala o astro Liam Neeson para viver praticamente o mesmo papel que viveu em pelo menos outros cinco filmes. Mesmo que cada obra tenha valores distintos e que o ator, de fato, faça um bom trabalho quando o assunto é vingar sua família, fica extremamente previsível e genérico encaixa-lo no papel de pai desesperado que busca justiça com as próprias mãos.

Ao somar essa repetição, com o fato de ‘Vingança a Sangue-Frio’ (Cold Pursuit) ser um remake do longa norueguês ‘O Cidadão do Ano’ (2016) e, curiosamente, ter o mesmo diretor do original, fica quase impossível encontrar algum pingo de singularidade na proposta. Mas eis que o diretor Hans Petter Moland teve a rara oportunidade de refazer seu filme e aí que, felizmente, acerta no tom e entrega uma obra diferente do que se poderia esperar, até mesmo diferente do que o marketing do filme vende, já que a produção é muito mais lenta e artística do que a comparada trilogia ‘Busca Implacável’, por exemplo. Uma ótima surpresa, mas também uma amarga decepção para aqueles que buscam mais ação do que reação.

A trama começa pequena, ao acompanhar a vida pacata de Nels (Liam Neeson), um típico homem de família, que trabalha como motorista de um removedor de neve em uma pequena e fria cidade dos EUA. Porém, quando seu único filho é morto por um poderoso traficante da região, seu mundo vira de ponta-cabeça enquanto busca vingança ao confrontar um por um dos homens envolvidos no assassinato. Nada de novo até então, porém, a trama assume novas formas e acrescenta uma enxurrada de personagens para desenvolver outros núcleos e pontos de vista da história principal, cuja vingança é o elo que une todas as subtramas, que se afastam, em muitos momentos, do protagonista para privilegiar coadjuvantes e suas próprias jornadas, até colidir com maestria em um clímax sensacional e violento. O roteiro é bem construído, caminha de maneira lenta, porém instigante e entrega o que se propõe desde início, apesar de faltar um pouco mais de ação. Basicamente uma comida saborosa, mas com o tempero desequilibrado.

O tom do filme é voltado para o humor sarcástico e a paródia, que passa longe do clima pesado típico de filmes do gênero, outro acerto do roteiro, já que as tiradas funcionam e a vibe constrangedora dá um estilo próprio a narrativa, principalmente quando algum personagem morre e sua morte é anunciada em tela preta. Já que falta ação, o humor ocupa esse espaço de entreter e distrair das eventuais falhas. Apesar de diminuir o impacto dramático, é uma alternativa inteligente e trabalhada com habilidade pelo diretor, ao repetir basicamente os mesmos planos e enquadramentos da versão original, sem muita ousadia. Menos é mais e nesse caso funciona, uma vez que as poucas cenas de ação são filmadas de maneira confusa e tremida, por um diretor que parece não se dar muito bem no estilo, melhor então deixar como está e focar nos diálogos criativos, de personagens estereotipados.

O elenco é grande e, apesar de muitas tramas paralelas, todas são concluídas, sendo algumas conclusões mais satisfatórias que outras. O núcleo dos índios funciona quase como um alívio cômico, já que o núcleo dos traficantes é carregado de humor ácido e o dos policiais serve, basicamente, para se intensificar uma desanimada caçada estilo “gato e rato” que demora para pegar o ritmo. Neeson é ele mesmo, nada de novo a acrescentar, sobrando para Tom Bateman (Assassinato no Expresso do Oriente) e a sumida Emmy Rossum (O Fantasma da Ópera) a difícil tarefa de segurar a trama. Laura Dern (Big Little Lies) tem presença forte, mas pouca duração em tela, sendo o seu desfecho o mais criativo de todos. Os demais personagens entram e saem sem significativas modificações.

Dessa forma, ‘Vingança a Sangue-Frio’ é pretensioso e segue uma vibe ao melhor estilo ‘Fargo’, apesar do humor sombrio ofuscar a carga dramática da trama. É Liam Neeson vivendo o mesmo papel de pai vingativo só que, dessa vez, nos divertimos juntos e nos entretemos com a matança desenfreada. Um pouco mais de ação inteligente e bem dirigida não teria feito mal.

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