Crítica | Velvet Buzzsaw –

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Na incansável busca por projetos icônicos, a Netflix encontrou o que possa vir a ser seu mais curioso artefato artístico, já que ‘Velvet Buzzsaw’, novo Original do serviço, assinado por Dan Gilroy, talentoso diretor e roteirista por trás do suspense psicológico ‘O Abutre’, é uma perfeita junção de drama de arte com terror clichê, mesmo que falhe em manter um equilíbrio entre os gêneros, acerta na criatividade de um roteiro cômico e sarcástico, porém, o maior mérito mesmo fica pela tentativa de fazer algo diferente do convencional e juntar um elenco de peso, como foi o caso de ‘Bird Box’, para criar um “filme espetáculo”, que assim como o estrelado por Sandra Bullock, promete muito, mas acaba entregando somente uma fatia murcha do bolo.

Na inventividade do roteiro, um talentoso e macabro artista morre de maneira misteriosa, no entanto, membros de uma conceituada galeria de arte colocam as mãos em suas obras sombrias e fazem comércio delas por valores exorbitantes. O que ninguém esperava é que os quadros são, na verdade, amaldiçoados pelo espírito do falecido, que busca castigar cada um que estiver com posse de suas tenebrosas obras. De fato, temos que concordar que a premissa é boa e, com o equilíbrio correto, renderia boas sequências de terror, algo que fica de lado em grande parte da trama, que decide gastar seu precioso tempo com um drama sem sal sobre personagens difíceis de alguém se importar.

Tudo bem que filmes que tratam sobre o mesmo tema já existem e todos parecem confortáveis em lidar com clichês e estereótipos, como o crítico de arte que é esnobe, a dona da galeria que só pensa no lucro, a assistente interesseira e por aí vai, não sendo diferente nesse caso, afinal, o excesso de personagens atrapalha o desenvolvimento da trama e desvia o foco, o que deixa o longa sem um devido protagonista, já que Jake Gyllenhaal (Okja) vive um personagem caricato, apesar de entregar uma atuação dedicada, que não é forte o suficiente para segurar as quase duas horas de filme, deixando para Zawe Ashton (Animais Noturnos) e Rene Russo (O Abutre) a maior parte da carga dramática. Aliás, destaque mais do que positivo fica para Toni Collette (Hereditário), deslumbrante e confortável no seu papel de megera rica.

O elenco de peso não é apenas o ponto positivo do longa, há também ótimas sequências bem dirigidas, com planos estilosos e elaborados que remetem a quadros e pinturas, fora uma fotografia viva, colorida e vibrante. Apesar de tudo remeter rapidamente a produções da Netflix, os efeitos especiais são aceitáveis e algumas cenas de terror são eficazes, realmente assustando ou causando desconforto. Veja bem, não é nada extraordinário que vai tirar o sono, mas a vibe creepy das obras de arte por si só já causam calafrios, tornando o filme muito mais eficaz no terror do que no drama, mesmo (como já foi dito!) não sabendo dosar nenhum dos gêneros.

Nas profundezas do roteiro há uma interessante crítica à arte moderna e sua comercialização em massa, além do culto aos ídolos e a hipocrisia que existe por trás de conceituadas galerias e artistas, no entanto, enquanto acerta em alfinetar o mundo da arte, erra na construção e coesão de personagens, principalmente na representação da comunidade LGBTQ+, que é tratada apenas com estereótipos e fetiches, visivelmente uma visão heteronormativa do que seria um personagem gay, aliás, Gyllenhaal só lembra que é homossexual na primeira metade do filme, já que no terceiro ato ele abandona completamente todos os trejeitos que havia construído para seu personagem.

Por todos esses aspectos, ‘Velvet Buzzsaw’ acerta na proposta de ser diferente da maioria, mas o excesso de grandeza do roteiro leva a trama para um lugar comum, que apenas entretém sem, de fato, se tornar marcante. Está longe de ser um filme ruim, mas também não é uma obra de arte com alma e coração, o que acaba sendo um completo desperdício de um elenco espetacular. Decepciona, mas não é uma perda de tempo, frase que anda definindo perfeitamente as obras sem carisma da Netflix.

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