Se é para desenterrar franquias que já pareciam ter dito tudo o que tinham a dizer, que ao menos seja como Dan Trachtenberg faz em Predador: Terras Selvagens (Predator: Badlands). O diretor, agora em sua terceira incursão nesse universo de quase 40 anos de existência, faz o improvável mais uma vez: transforma o que podia ser só um exercício de nostalgia em algo realmente divertido, épico e, surpreendentemente, novo.
Com seu olhar nerd e uma precisão quase cirúrgica na construção do suspense, Trachtenberg tira a série do respirador mecânico e a coloca de pé, mirando alto, tão alto que, em alguns momentos, o filme chega a flertar com a grandiosidade mítica de Star Wars. É a prova de que boas histórias, quando bem contadas, sobrevivem ao tempo, às modas e até aos reboots duvidosos. Predador é um ótimo case de sucesso para Hollywood e é bom demais ver um filme que gasta seus milhões com qualidade técnica e visual para fazer valer a ida ao cinema IMAX.
Índice
Os acertos e erros de Predador: Terras Selvagens

Depois de Predador: A Caçada (Prey), um filme pequeno, mas cheio de ideias afiadas, que acabou soterrado pelo lançamento direto no streaming em plena pandemia, e da animação divertida Predador: Assassino dos Assassinos, Dan Trachtenberg (Rua Cloverfield 10) mostra que ainda tem cartas boas na manga. Dessa vez, ele se aventura num futuro distante e, pela primeira vez, coloca o próprio Predador como protagonista. É um movimento ousado, mas que funciona surpreendentemente bem.
O resultado é um filme elétrico, inventivo e com um senso de diversão que raramente sobrevive em franquias tão antigas. Agora com um orçamento generoso, Trachtenberg se permite sonhar grande e entrega um épico espacial que parece beber da energia de James Cameron e do olhar pop de J.J. Abrams, sem nunca perder a sua identidade. Há uma confiança em cada escolha de câmera, em cada sequência de ação, como se o diretor estivesse dizendo: “Sim, eu sei que isso soa loucura, mas vem comigo.”
Essa mudança de perspectiva — transformar o monstro em herói — poderia facilmente soar forçada, mas nas mãos de Trachtenberg vira um respiro criativo muito bem-vindo. Ele reinventa o jogo sem desrespeitar as regras, e o resultado é um Predador que, enfim, parece ter encontrado um novo motivo para existir nas telas.

Ainda que a história siga todos os passos de uma jornada do herói tradicional e, sim, a essa altura já dá pra prever quase tudo o que vai acontecer, Predador: Terras Selvagens compensa a previsibilidade com pura energia visual. O roteiro pode até não reinventar o arco narrativo, mas sabe muito bem onde investir: nas cenas de ação. É nelas que o filme realmente respira, aproveitando cada segundo no planeta hostil onde Dek, o novo Predador, parte em busca de seu troféu e da glória entre os seus.
O mundo criado por Trachtenberg é um espetáculo à parte. As criaturas locais, a vegetação exuberante e os detalhes da fauna alienígena remetem ao deslumbre de Avatar, mas com um toque mais bruto e terreno. Tudo pulsa com imaginação, e o resultado é uma aventura visualmente delirante, que beira o insano em alguns momentos, no melhor sentido possível.
Trachtenberg filma com a confiança de quem entende o poder da simplicidade. Ele não precisa de reviravoltas mirabolantes para manter o interesse do público; basta saber onde colocar a câmera. Cada plano parece pensado para extrair o máximo das ideias que tem em mãos, uma lição de estilo e economia narrativa. E é aí que mora o charme: com poucos recursos conceituais, ele faz um espetáculo elegante. Dá até pra imaginar o que ele faria se um dia o deixassem brincar no universo de Star Wars.

A outra metade dessa improvável dupla é Thia, a nova parceira sintética de Dek. Programada para ser ingênua, mas curiosa, ela acaba aprendendo tanto com ele quanto ele com ela e é justamente nessa troca que o filme encontra seu coração. Elle Fanning (Um Completo Desconhecido), vivendo duas versões da mesma personagem, entrega uma performance afiada. Ela se sai especialmente bem nas cenas de ação, exibindo um timing cômico natural e uma leveza que contrasta com o peso físico da história.
A violência aqui também ganha um tratamento curioso: é brutal, mas nunca gratuita, afinal, o filme não é para maiores de 18 anos. Há sempre uma pitada de humor ou um toque de inteligência que a torna mais divertida do que chocante. O único tropeço, pra mim, é a inevitável “criaturinha fofa” que parece ter escapado de um filme da Disney, um alívio cômico que não precisava existir e acaba roubando tempo de tela demais.
Visualmente, o filme é de encher os olhos de qualquer fã de sci-fi. O design das criaturas colossais é impecável, cada uma com personalidade própria e uma presença física que faz esse planeta parecer genuinamente perigoso. E por trás disso tudo, há um esforço palpável dos roteiristas em construir Dek como mais do que um simples guerreiro: ele é um jovem ansioso para provar seu valor, fiel ao código de honra Yautja, mas também inseguro sobre o seu papel nesse mundo perverso e brutal.
O ator Dimitrius Schuster-Koloamatangi dá a Dek uma camada de humanidade (ou o equivalente alienígena disso). Sua atuação é cheia de pequenos gestos e olhares que revelam um personagem dividido entre o orgulho e a vulnerabilidade. É esse detalhe que transforma o predador em alguém por quem realmente torcemos e faz esse filme ter seu distanciamento dos demais, assim como vimos nos filmes/série recentes de Alien.

Veredito
Predador: Terras Selvagens é aquele tipo de continuação que prova que franquias longas não precisam se arrastar, basta alguém com pulso firme e imaginação no comando. Dan Trachtenberg não tenta reinventar a roda, mas a faz girar com estilo. Ele entende que o charme do cinema de ação não está apenas em explosões ou criaturas colossais, mas na construção de um universo que tem alma, e aqui, até o silêncio entre um rugido e outro parece dizer algo.
O filme tem a estrutura clássica de uma odisseia heroica, mas veste essa jornada com um novo brilho. Há emoção, humor e uma energia quase contagiante, como se o próprio Predador tivesse redescoberto a alegria de caçar.
No fim das contas, Predador: Terras Selvagens é o melhor tipo de blockbuster: aquele que não se leva tão a sério, mas é feito com seriedade. É cinema de aventura com coração, filmado com o olhar de quem ainda se encanta com o que está fazendo. Trachtenberg entrega espetáculo, técnica e personalidade, uma combinação que anda em falta nas galáxias de Hollywood.
Se o Predador sempre foi um símbolo de força bruta e instinto, aqui ele ganha algo novo: carisma. E, convenhamos, se até um alienígena caçador pode evoluir, talvez ainda haja esperança para as velhas franquias. No fim, o troféu dessa caçada é todo de Trachtenberg e ele o exibe com o sorriso de quem sabe que, dessa vez, a presa foi o tédio.
NOTA: 9/10
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