Em meio a uma enxurrada de remakes, reboots e continuações que insistem em reciclar as mesmas histórias, Bom Menino (Good Boy) talvez seja um dos poucos filmes desse ano que realmente tenta algo novo – e criativo, diga-se de passagem. A combinação de um filme “feel good” com um cachorro como protagonista e um terror sobrenatural de casa mal-assombrada visto pelos olhos do próprio animal, não só parece uma ótima ideia, como faz a gente se perguntar por que ninguém apostou nisso antes.
Claro que é preciso criatividade para manter essa proposta de pé, e o filme até escorrega em algumas repetições (e olha que a duração é curta). Ainda assim, a atmosfera de horror funciona tão bem, com aquela cara de produção independente que abraça o bizarro com paixão. E Indy, o grande protagonista de quatro patas, entrega uma performance tão autêntica — porque ele realmente parece estar vivendo aquele pesadelo todo — que fica impossível não torcer por ele.
Índice
Os acertos e erros de Bom Menino

Sair da caixinha ainda é um ato de coragem dentro do cinema hollywoodiano. Mesmo que isso não garanta grandes bilheterias, ao menos surge algo novo e instigante o bastante para justificar a ida ao cinema.
O novato Ben Leonberg, diretor e corroteirista, conduz Bom Menino com uma sensibilidade absolutamente inesperada: a câmera se mantém sempre na altura e no olhar do cachorro, criando uma imersão que valoriza a experiência do protagonista de quatro patas. Ele evita o caminho fácil dos sustos barulhentos e aposta em uma atmosfera mais pesada, sinistra, explorando sombras, silêncio e espaços apertados, e o resultado é que nós e o doguinho nos assustamos juntos.
Mesmo com um enredo um tanto quanto minimalista, a narrativa funciona muito bem justamente por não perder tempo explicando demais o que não precisa. O foco está onde deve estar: na relação quase de “final girl” do cachorro com seu dono, que parece viver em ameaça constante. Essa escolha simples, mas muito eficiente, transforma o filme em algo deliciosamente especial.
A trama, por sua vez, acompanha o dono de Indy, Todd (vivido pelo próprio diretor), viajando para uma cabana isolada que pertenceu ao seu avô. O problema é que, junto com o imóvel, veio também uma entidade maligna que assombra o lugar, e Indy parece ser o único capaz de enxergar e interagir com essa presença dark. Sempre em alerta para proteger seu humano, o cachorro coloca o corpo e os instintos à prova diante de acontecimentos cada vez mais perturbadores que passam a rondar a casa e a rotina da dupla.

Com a câmera em “primeiro cachorro”, o terror se constrói pela perspectiva de Indy, que sente, se assusta e entrega uma performance mais convincente do que Jared Leto em Tron: Ares, ou em qualquer outro filme, sejamos sinceros. Indy é o protagonista absoluto, e o longa nunca se esquece disso. Ele não fala, não tem pensamentos narrados e não vira mascote de filme infantil; somos nós que acompanhamos suas reações, tentando decifrar junto com ele o que diabos está acontecendo naquela cabana e como isso vai acabar.
E o que mais parte o coração, ironicamente, é perceber que o terror funciona tão bem justamente porque Indy é um personagem irresistível. Mesmo com alguns clichês e sustos convencionais pelo caminho, o cachorro parece totalmente imerso no pesadelo, o que torna tudo muito mais angustiante. O trabalho de adestramento é realmente impressionante, talvez uma das melhores performances de um animal em um filme em que ele é, de fato, o centro dramático da história. Para mim, foi a mais convincente que vi.
A cabana, com seu ar pesado, depressivo e silencioso, ajuda a construir um terror atmosférico que provoca mais do que simples sobressaltos: traz aquela sensação ruim de que algo maligno está sempre espreitando, pronto para atacar. É verdade que algumas sequências acabam se repetindo, afinal, essa premissa é criativa mas tem limitações narrativas, e o filme demora um pouco a engrenar rumo ao clímax, mas a tensão constante não deixa a gente respirar, especialmente do meio para o final, com um desfecho que remete à sobrevivente de O Massacre da Serra Elétrica, de 1974.

Veredito
Bom Menino pode até não ser perfeito, mas entrega uma experiência de terror diferente, divertida e cheia de personalidade. Aterrorizante de dar calafrios e, ao mesmo tempo, comovente como os filmes de cachorro dos anos 90. Uma prova de que ainda dá para surpreender mesmo dentro de um gênero tão explorado.
O filme brinca com o conceito de casa mal-assombrada com muita engenhosidade. Dá para sentir que há liberdade criativa, especialmente no modo como a narrativa se adapta ao olhar de Indy, sem jamais abrir mão da proposta de um terror direto e simples.
Indy, por sua vez, entrega uma das melhores performances do ano, e faz isso com uma naturalidade de deixar qualquer veterano do gênero morrendo de inveja. Ele é irresistível, adorável e quase nos faz esquecer que estamos em um filme assustador. No fim, Bom Menino prova que, quando o terror chama, tem cachorro que atende melhor do que muito ator que só late e não morde.
NOTA: 8/10
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