Antes de mais nada, vale destacar: esta crítica é livre de spoilers e se baseia nos cinco primeiros episódios da 1ª temporada de Bem-Vindos à Derry, nova série da HBO Max que contará com oito no total.
A produção funciona como um prelúdio direto dos filmes It: A Coisa (2017) e It: Capítulo 2 (2019), mergulhando nos eventos que antecedem a famosa história de Stephen King e nos “interlúdios” do livro, aqueles capítulos sombrios que narravam as tragédias da cidade. Aqui, Derry não é apenas cenário: é personagem, presença viva e amaldiçoada, uma ferida que sangra geração após geração.
Ambientada em 1962, quase vinte anos antes dos filmes, a série amplia o olhar sobre a cidade e sobre a origem do mal que a assombra. Cada episódio, com cerca de uma hora, reforça o que sempre foi o coração dessa história: o medo. Mas It:Bem-Vindos à Derry faz isso indo além do palhaço Pennywise, a entidade aqui assume múltiplas formas, refletindo fobias, traumas e pesadelos muito humanos.
Índice
Primeiras impressões de It: Bem-Vindos à Derry

O primeiro episódio é, sem dúvidas, o mais impactante até aqui. Denso, macabro e visualmente arrebatador, ele estabelece o tom da série com uma sequência inicial perturbadora que já anuncia o tipo de terror que vem pela frente. Há coragem em brincar com o desconforto, em mostrar que ninguém está a salvo, algo raro em produções que envolvem crianças. O resultado é um banho de sangue televisivo que respeita a essência de King, combinando o terror sobrenatural com o horror cotidiano das pequenas cidades americanas.
A partir do segundo capítulo, a trama se aprofunda em novos núcleos, introduzindo personagens e dilemas que ampliam o escopo da narrativa. O contexto dos anos 60 permite que a série aborde tensões raciais e sociais com mais peso, lembrando em certos momentos Lovecraft Country. Esse pano de fundo histórico se mistura bem ao sobrenatural, e o roteiro encontra espaço para sustos criativos, como uma sequência em um supermercado que é puro pesadelo. Mesmo quando o Pennywise clássico demora a aparecer, a série mantém o terror vivo ao explorar diferentes manifestações do mal.
O terceiro episódio se destaca por mudar completamente de registro, voltando no tempo para explorar o passado mais antigo de Derry. É aqui que o mistério ganha novas camadas, conectando as origens da cidade a um mal que parece existir desde sempre. O visual é mais fantasioso, com um clima quase gótico que lembra o cinema de Tim Burton, e o ritmo volta a se equilibrar depois de um segundo episódio mais irregular.
Já o quarto capítulo é o mais fraco entre os cinco primeiros. A série começa a se estender demais entre subtramas militares e investigações paralelas que nem sempre empolgam, e o ritmo sofre com a falta de foco. Ainda assim, o grotesco e o mistério seguem firmes, e o quinto episódio retoma a força inicial, reconectando tramas e preparando o terreno para o clímax que está por vir.
No conjunto, Bem-Vindos à Derry é uma série que sabe onde pisa. O envolvimento de Andy Muschietti e o aval de Stephen King garantem consistência ao projeto, que se beneficia também do investimento visível da HBO: a série é visualmente impressionante, com uma fotografia sufocante e uma direção de arte que entende a podridão bela e pulsante de Derry. O elenco, em especial os jovens, entrega atuações intensas, mesmo que a química entre eles não alcance o carisma do grupo dos filmes.

Há, contudo, um problema de dosagem. O tempo prolongado até a aparição de Pennywise – novamente vivido por Bill Skarsgård – na forma que o público mais espera pode frustrar, e alguns episódios parecem segurar demais suas cartas. Ainda assim, a série acerta ao transformar o medo em algo multifacetado, ora psicológico, ora visceral. Mas um pouco mais de Skarsgård faria bem.
Como expansão do universo de It, a série é bem-sucedida: explica sem exagerar, amplia sem esvaziar o mistério e reforça o que faz de Derry um dos lugares mais amaldiçoados da literatura de horror. Talvez nem todas as suas três temporadas planejadas se sustentem, mas, por enquanto, o resultado é promissor. It: Bem-Vindos à Derry é um retorno corajoso a um mundo que continua nos lembrando que o verdadeiro terror nunca vai embora, ele apenas muda de forma.
NOTA: 8/10
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