Crítica | Um Filme Minecraft – Eleva ao quadrado a diversão do jogo

É sempre importante lembrar que o cinema nasceu como entretenimento. Os filmes mais “cabeça” só surgiram quando perceberam que essa técnica poderia se transformar em uma linguagem própria. Hoje, com tantas formas de acesso ao audiovisual em streaming, no conforto de casa, era inevitável que o cinema se tornasse cada vez mais comercial, priorizando o espetáculo e a experiência sensorial, como uma montanha-russa custo-benefício de parque de diversões de bairro.

E talvez Um Filme de Minecraft represente o auge dessa lógica em 130 anos de cinema: cada frame carrega a essência do blockbuster comercial, justificando sua existência pela simples liberdade criativa de fazer filmes cujo único propósito é gerar lucro enquanto entretêm, afinal, esta é a primeira adaptação live-action para os cinemas do jogo mais vendido de todos os tempos.

Mas é justamente daí que surge algo inesperadamente divertido: o filme consegue dar vida a um mundo infantil sem muita expressividade, lhe conferindo uma personalidade nonsense e o transformando em uma aventura até que decente – sem lógica alguma, mas que entrega exatamente o que se propõe. E, por mais que isso pareça o mínimo, poucos filmes têm conseguido atingir esse objetivo ultimamente.

Os acertos e erros do filme

É claro que um filme baseado em Minecraft – o popular game infantil onde blocos podem ser usados para criar praticamente qualquer coisa – teria sua cota de falhas estruturais. Mas aqui, não se trata exatamente de um roteiro ruim (feito por 6 pessoas, é sério!), e sim do mais genérico, bobo e metódico possível, como se seguisse um manual básico da jornada do herói. Não há surpresas, reviravoltas ou qualquer tentativa de sair da zona de conforto; tudo é narrado em um único e óbvio tom do início ao fim.

O que mais salva o filme, no entanto, é justamente sua abordagem visual. Se o roteiro se mantém previsível, a forma como o longa explora o mundo aberto do jogo é o que o torna super interessante. Como Jumanji, Uma Aventura LEGO e Super Mario Bros. O Filme, Minecraft entende que seu valor está na construção do universo quadrado muito mais do que em qualquer mensagem que tente transmitir. E, já que não há escapatória, o filme abraça o caos sem medo, mergulhando de cabeça no nonsense, quase como um surto psicótico do protagonista, cuja sanidade parece questionável.

Somos apresentados a Steve – interpretado pelo exageradíssimo Jack Black – e ao seu mundo, digamos, peculiar. Não há tempo para dúvidas: essa aventura em CGI exige total suspensão da descrença do público. O longa tem a coragem de se assumir logo de cara como uma farofa temperada, mas isso também é frustrante, já que nada nele se leva a sério. Nem quando deveria.

E esse é o ponto central: nada no filme se leva a sério, então por que nós deveríamos? Nem mesmo o elenco parece acreditar totalmente no que está fazendo, mas isso não o impede de explorar ao máximo o potencial de aventura que a história oferece. O diretor Jared Hess (Napoleon Dynamite) descarta qualquer resquício de seriedade para abraçar uma fantasia infantil abusada, no melhor estilo As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl. O resultado é um filme surpreendentemente fiel ao material original, desde os personagens e cenários até a identidade visual e estética, que permanecem intactas e impressionam pela precisão.

Nesse mundo alucinado, Steve é um jovem criativo que sonha com algo maior, mas sofre bullying por ser “fora da caixa”. Quando descobre o universo de Minecraft logo na abertura – que, aliás, soa muito mais empolgada do que necessariamente expositiva –, percebe que ali pode viver suas próprias aventuras e expressar sua criatividade. Se forçar uma mensagem no filme, é essa: valorizar a engenhosidade e a diferença, mostrando que, em um mundo redondo, ser quadrado pode ser a solução.

A trama segue a lógica do “quanto menos você questionar, melhor”. Steve se junta aos irmãos Natalie (Emma Myers) e Henry (Sebastian Hansen), ao ex-campeão de jogos que agora administra uma loja de sucata geek, interpretado por Jason Momoa, e à excêntrica agente imobiliária Dawn (Danielle Brooks), que passa seu tempo livre cuidando de animais. Esse grupo improvável literalmente tropeça no orbe mágico que os transporta para o Mundo Superior – um universo cúbico onde a imaginação é a chave para a sobrevivência.

Já nos primeiros minutos, fica bem claro que os personagens operam em um tom acima de qualquer coisa, e isso segue até o desfecho. Momoa encarna um figurão estiloso que parece saído de um desenho animado, enquanto Jack Black extrapola tanto na hipérbole que mais parece um apresentador de programa infantil à base de energéticos. A dupla pode testar a paciência de qualquer adulto ranzinza, mas funciona perfeitamente para as crianças, com essa tonelada de entusiasmo cômico.

As cenas de ação não são particularmente inspiradas, mas a computação gráfica colossal é usada de forma eficiente, ajudando a construir a atmosfera de cores vibrantes e repleta de criaturas fofas feitas em blocos, ainda que repetitiva ao longo da história. E, como se não bastasse toda a bobeira, ainda há uma subtrama hiláriamente romântica (e sem sentido algum) envolvendo Jennifer Coolidge e um habitante do Mundo Superior, porque… por que não?

Veredito

No auge do cinema comercial escapista, Um Filme Minecraft empilha seus blocos de excentricidade para construir uma aventura familiar vibrante, enérgica e fiel ao material original. Como adaptação live-action do game mais vendido de todos os tempos, constrói a diversão bloco por bloco e surpreende ao adicionar personalidade, embora seus personagens exagerados e o tom excessivamente infantil tenham um limite de tolerância, até desmoronar.

Com uma energia caótica e um visual hiper colorido, o filme constrói uma narrativa frenética e absurda, capturando com precisão o espírito nonsense e anárquico do jogo. Feito sob medida para crianças, se sustenta na pura diversão imaginativa, ampliando ao quadrado esse universo onde até o roteiro se recusa a ser redondo.

NOTA: 7

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