Crítica | The Alto Knights: Máfia e Poder – Robert De Niro na derrota em dose dupla

Poucas coisas são mais cansativas do que a sensação de estar assistindo ao mesmo filme repetidamente, só que em anos diferentes. Robert De Niro, embora seja um excelente ator, parece estar preso ao mesmo papel há décadas: o mafioso. Há um limite para o que ele consegue explorar desse arquétipo e, por mais que o veterano de 81 anos continue entregando atuações de qualidade, chega uma hora em que sair de casa para assistir a mais do mesmo — e cada vez menos divertido — deixa de valer a pena.

Nem mesmo um cineasta do calibre de Barry Levinson (Rain Man), que se esforça para agregar valor à produção, consegue salvar The Alto Knights: Máfia e Poder de ser um verdadeiro sonífero. A história real por trás do filme é bem mais interessante que o recorte escolhido para as telas. E De Niro em dose dupla, em vez de dar um fôlego à trama, só parece afundar ainda mais o barco.

Os acertos e erros do filme

Como um filme de máfia convencional, sem qualquer frescor ou tentativa de inovação no subgênero, o longa de Levinson constrói uma narrativa fragmentada que desaba no tédio muito cedo. O problema não está nem na falta de ação ou impacto — já que a violência é uma ferramenta clássica desse tipo de filme —, mas sim na superficialidade da história, dos conflitos e dos personagens, que são vazios, unidimensionais e desinteressantes por completo.

Robert De Niro (O Irlandês), coitado, se torna vítima de si mesmo e até se esforça, interpretando dois personagens, mas sua atuação é engessada, contida e sem vida — e isso em dose dupla. Para piorar, há um desconforto quase cômico na dinâmica dos dois protagonistas, que, apesar de serem idênticos na aparência (mesmo com maquiagem para suavizar algumas diferenças), não são parentes — e ninguém no filme parece achar isso estranho. O resultado é um De Niro contracenando consigo mesmo em diálogos que mais parecem um jogo de cena mal ensaiado, onde ninguém parece realmente se entender.

E por falar em diálogos, talvez sejam o pior aspecto do roteiro. Redundantes, repetitivos e sem consequência, eles giram em círculos, cheios de frases de efeito que não acrescentam nada à trama (Há um momento em que um personagem, por exemplo, grita “usa a quinta emenda” umas 15 vezes na cena). A história, que acompanha dois melhores amigos que se tornam inimigos por divergirem em suas visões sobre a máfia, até começa com um mistério inicial promissor — após uma tentativa de assassinato que mergulha no submundo criminoso quase como uma visita a Gotham City.

Mas, mesmo sendo baseada em eventos e pessoas reais, a narrativa se perde em desconfianças vazias e dilemas morais rasos — até porque todos os personagens são moralmente questionáveis. Para piorar, o filme tenta pintar o mafioso piedoso como um “herói do povo”, mas esse dilema entre o justiceiro e o vilão descontrolado simplesmente não convence. Os dois personagens centrais acabam soando como a mesma pessoa (porque essencialmente são!) com uma mente fragmentada. Tudo isso culmina em um clímax terrivelmente frustrante, sem qualquer recompensa pelas quase duas horas de tensão prometida — e mal entregue.

É justo destacar a beleza visual do filme, com uma direção de arte impecável e uma fotografia fria que captura com precisão a tensão da época. O aspecto técnico é de alto nível: a trilha sonora intensa, os figurinos autênticos e os planos cuidadosamente elaborados por Levinson mostram um capricho inegável. Pena que nada disso consegue dar ritmo à narrativa.

Menos cansativo que O Irlandês, mas a anos-luz de ter o impacto de Os Bons Companheiros — o clássico ao qual De Niro parece eternamente preso —, o filme até constrói uma atmosfera inicial de intriga que prende a atenção. Mas essa tensão se desfaz rapidamente quando o roteiro esgota o mundo limitado que escolheu explorar, deixando a amarga impressão de que o filme tem muito estilo, mas pouca substância.

Veredito

The Alto Knights: Máfia e Poder parece uma briga de dois pinschers idosos em uma disputa de masculinidade que não acrescenta nada ao gênero. O filme exala aquela tensão masculina tóxica e desgastada que já não funciona mais — e Robert De Niro em dose dupla só piora a situação. Todos os clichês do filme americano de máfia estão lá, intactos, o que já configura uma derrota em si. Barry Levinson, conhecido por seu olhar apurado, desperdiça a chance de romper com o óbvio, de injetar frescor na narrativa ou de trazer algo novo ao universo dos gangsters.

Em vez disso, ele mergulha de cabeça em uma cratera de previsibilidade, cafonice e desinteresse, baseada em uma história real que já foi contada parecida (e melhor) inúmeras vezes. Os diálogos são vergonhosos e redundantes, e as atuações, especialmente considerando o calibre do elenco, são surpreendentemente fracas. The Alto Knights acaba sendo uma dose potente de sonífero — digno de ser vendido como tratamento contra insônia.

NOTA: 4

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