Quando se para pra pensar, não é nem um pouco que estranho que o diretor Michael Gracey, antes de começar a fazer nome no ramo dos musicais desavergonhados de sua própria fantasia que começou com o estouro de O Rei do Show, também seja um dos produtores de Rocketman, cinebiografia fantástica sobre Elton John que pulsava seu apego pela exuberância visual em todos os poros, afinal, estamos falando de Elton John!
Better Man: A História de Robbie Williams dobra a aposta no espetáculo ao substituir seu biografado por um chimpanzé digital. Afinal, importante lembrar que antes de tudo isso, Gracey trabalhava com a manipulação de efeitos visuais em filmes como Moulin Rouge – Amor em Vermelho, para deixar um exemplo nem um pouco óbvio.
Índice
Os acertos e erros de Better Man: A História de Robbie Williams

Dessa proposta extravagante e incômoda por si só, o filme quebra um certo vício de narrativas biográficas que não se importam nem um pouco em mais parecerem uma série de esquetes coladas umas nas outras através de músicas familiares aos olhos do público, como os malfadados I Wanna Dance Wit Somebody – A História de Whitney Houston e Back to Black, projetos encabeçados e lançados somente com o aval das famílias das artistas investigadas, o que quer dizer muita coisa sobre seus resultados.
Como um filme-irmão de Rocketman, Better Man se transforma dentro desse sub-gênero dramático em algo muito mais próximo da experiência de estímulos que as obras destes artistas proporcionam, e não uma narrativa-wikipédia sobre os principais acontecimentos de suas vidas.
Correndo o risco de até mesmo soar como uma sátira do recorte feito sobre o biografado, desde a fomentação de seus sonhos artísticos ao lado do pai (Steve Pemberton) que o abandona para viver seu próprio sonho, até o deslumbre proporcionado por integrar a popular boy band Take That e finalmente se encontrando como artista solo (e com isso, elevando seus próprios demônios), o filme realmente borra as linhas de realidade do material em prol de um espetáculo visual e sonoro que, apesar de tudo, não renega a história que quer contar e, paralelamente, enxerga a trajetória de Williams como um palco para o exuberante, o kitsch, o excêntrico. Better Man é sobre o homem e sua visão espetacularizada do que é sua própria arte.
Contrapondo suas próprias possibilidades fantásticas que possibilitam a construção de números musicais de tirar o fôlego, como a de Rock DJ pelas ruas de Londres ou She’s the One num barco, Better Man é um filme pesado.

O roteiro do próprio Gracey ao lado dos novatos Oliver Cole e Simon Gleeson não economiza nas autocríticas e no retrato egocêntrico da figura de Williams e suas escolhas autodestrutivas (lindíssima e encantadora a sequência do “afogamento”).
Como alguém que também está no controle do filme que conta sua própria história, Williams parece enxergar na fantasia esse elemento com potencial de expiação sobre seus próprios medos, angústias, arrependimentos e esperanças. O filme é uma materialização de tudo que o artista tem a dizer sobre si mesmo da forma mais cinematográfica possível e imaginável, a ponto de que uma sequência pra lá de inesperada envolvendo um número incontável de macacos duelando também exista como um simbolismo interno do artista.
E não é só na fantasia como potencializadora desses conflitos que o filme encontra um grande trunfo, mas também na seleção de músicas do próprio Robbie que estarão ali para elevar cada ponto dramático de sua jornada. A egotrip/badtrip pela qual veremos Williams ser atravessado é das mais conhecidas pelo público, do uso de drogas até o empresário malvado, e sabendo disso, a fantasia desavergonhada do filme toma essa posição de uma ode às incongruências da fama, a busca pela valorização do outro através dos gritos e aplausos, e a definição de quem somos pelo que o outro vê.

Veredito
O espetáculo orquestrado por Gracey em Better Man é tão vulgar quanto lhe é permitido, e é nessa liberdade que, nos tempos de hoje, soa tão anti-comercial (não é surpresa que o filme esteja sendo um fracasso de bilheteria) que o filme encontra seu coração, seu sentimento e sua verdade confessional sobre os pecados e a auto-descoberta de um dos maiores artistas pop ainda vivos para contar sua própria história, que você conheça seu trabalho ou não.
NOTA: 8/10
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