O cinema peculiar e inquietante de Osgood Perkins tem um magnetismo difícil de ignorar. Após o impacto de Longlegs no ano passado, muitos esperavam que seu próximo projeto mergulhasse de vez no trauma que tanto insinuava explorar. No entanto, o diretor toma um rumo inesperado, apostando em uma comédia sombria no estilo do terror pipoca que domina as bilheteiras. De certa forma, surpreende ao não seguir uma trajetória mais autoral depois da fama repentina, à la Robert Eggers ou Ari Aster, mas essa versatilidade é ao mesmo tempo uma vantagem e um risco. E James Wan está aí para provar isso.
Uma coisa é certa: O Macaco, que chega ao Brasil pela Paris Filmes, apresenta um universo de possibilidades, mas se perde no caos da própria selva que constrói. O medo é praticamente inexiste, enquanto a comédia remete ao humor irrelevante dos filmes da Marvel. Ainda assim, há algo irresistível nessa loucura que a torna mais divertida do que boa parte das produções recentes do gênero. É como um acidente bizarro na estrada—desconfortante, mas impossível de desviar o olhar. E isso, sem dúvida, é a essência de um filme excêntrico de Oz Perkins.
Os acertos e erros do filme
Mesmo optando por um caminho mais convencional dentro do horror norte-americano, Perkins entende muito bem que o gênero é uma ferramenta poderosa para explorar traumas e lidar com o luto, mesmo que de forma cômica. Em O Macaco, ele preserva um viés dramático interessante, centrado em uma família assombrada pela perda, mas acaba tropeçando na mesma armadilha que fez Beau Tem Medo, por exemplo, dividir opiniões. A diferença é que, ao contrário do filme de Ari Aster, seu roteiro não carrega a mesma inteligência, embora seja possível enxergar, nas entrelinhas, um cineasta tentando extrair profundidade de um material que, no fim das contas, é uma piscina infantil rasa—afinal, trata-se de um conto menor de Stephen King.
A produção transborda conceito, com ecos de Brinquedo Assassino, Annabelle e M3GAN. Como se fosse um item amaldiçoado retirado da coleção assombrada do casal Warren, mas se perde em uma narrativa frustrante e caótica, repleta de mortes engenhosas ao estilo Premonição e baldes de sangue falso. A diversão está, essencialmente, na violência gratuita e nas piadas grosseiras sobre a inevitabilidade da morte. Porém, até isso sofre com o excesso de CGI, que torna os momentos mais brutais artificialmente envernizados e difíceis de levar a sério.

Aliás, O Macaco não foi feito para ser levado a sério—e tudo bem. Não há problema em desligar o cérebro por algumas horas e mergulhar na diversão insana de um filme de terror. O problema é que ele nunca encontra seu tom ideal (e muito menos ritmo!). É exagerado quando precisa ser dramático, sem graça quando tenta ser cômico, e, pior ainda, não oferece sequer um momento de terror genuíno. Não há sustos, tensão ou qualquer tentativa real de transformar o brinquedo misterioso em algo verdadeiramente assustador.
A atuação em dose dupla de Theo James (The White Lotus), interpretando irmãos gêmeos, também não ajuda. Limitado e pouco convincente, ele falha em gerar engajamento e prejudica qualquer peso dramático da história. O vilão—um macaco de brinquedo sinistro cuja bateria, ao parar de tocar, sentencia alguém a uma morte cruel e elaborada—até poderia ter presença, mas carece da energia malévola de outros ícones do gênero. Sem a carnificina estilizada, que ao menos entrega um espetáculo de violência chamativo, sobra apenas um roteiro anêmico, personagens exagerados e desinteressantes e um desfecho apressado que deixa um gosto amargo na boca.

Claro, o filme abraça a natureza caótica e imprevisível da morte, algo que o roteiro ilustra com bastante criatividade (e litros de sangue e entranhas!). No entanto, falta profundidade—ao invés de explorar emoções mais densas, ele sempre preenche as lacunas com humor absurdo, evitando se aprofundar em qualquer reflexão real sobre traumas familiares.
Um dos acertos está no uso da canção do macaco, que funciona quase como a icônica trilha de Tubarão: quando ela para, o espectador já sabe que algo bizarro está prestes a acontecer. Nesses breves momentos de suspense, Perkins mostra sua habilidade na direção e cria tensão genuína. Algumas mortes são desenhadas para fazer rir, e o filme acerta ao não entregar mastigado o funcionamento ou a origem do boneco.
Esse mistério só torna tudo mais intrigante e sedutor—embora seja questão de tempo até surgir um prelúdio explicando cada detalhe. Ainda assim, essa ausência de explicações é um ponto positivo. Perkins tem uma forte ligação com o satânico em suas obras, e aqui, essa abordagem implícita funciona bem, abrindo espaço para teorias que deixam o filme um pouco mais interessante.

Veredito
Com o olhar irreverente e absurdo da mente insana de Osgood Perkins, O Macaco toma um rumo completamente oposto ao de Longlegs e mergulha em uma comédia sombria e violenta sobre a inevitabilidade da morte. No entanto, esse senso de humor acaba sendo um tiro pela culatra, já que dilui qualquer mistério em torno do vilão. As mortes, projetadas para arrancar gargalhadas, minam a tensão, e o filme perde ritmo na mesma velocidade em que o brinquedo bate seu tambor macabro.
Baseado em um conto fraco de Stephen King, o roteiro se diverte zombando dos clichês do terror, mas não entrega nada realmente empolgante e acaba tropeçando na sua própria piada. Sim, é divertido, mas desperdiça o potencial de todos os envolvidos de realmente reinventar o subgênero dos brinquedos amaldiçoados. No final das contas, temos apenas um filme decente—e nada além disso. O problema? Os sustos não assustam de verdade, e as risadas não são tão engraçadas quanto deveriam. Quando o tambor para de tocar, já faz tempo que nossa paciência morreu.