Análise feita com base nos três primeiros episódios da série.
É fato que histórias excêntricas e inusitadas sempre despertam a nossa curiosidade, e produções malucas como O Urso do Pó Branco são provas de como o absurdo sempre nos fascina. Seguindo essa linha, Melou (The Sticky), nova série original do Prime Video, transforma um roubo real que chocou o mundo em 2012 em uma comédia adocicada em capítulos, produzida pela icônica Jamie Lee Curtis (Halloween).
Naquele ano, mais de US$ 18 milhões em xarope de bordo foram desviados das reservas nacionais de Quebec em um assalto tão surreal quanto cômico e patético. A razão? Os responsáveis eram três trapalhões sem qualquer habilidade ou experiência no universo do crime. A série, no entanto, abraça o humor da situação e evita o peso do lado criminoso, focando no caos e no improviso que cercaram o roubo.
Primeiras Impressões de Melou
A protagonista da trama é Ruth Landry – vivida pela sempre excelente Margo Martindale (Dexter) – uma fazendeira de xarope de bordo que decide desafiar um sistema opressor da indústria. Determinada, ela reúne um grupo improvável para realizar o que ficou conhecido como o “assalto canadense do século”.
Com uma estética simples e uma narrativa bastante ágil, os três primeiros episódios — com cerca de 25 minutos cada — se destacam ao ambientar o espectador em uma pequena cidade monótona, onde os personagens buscam, desesperadamente, escapar do tédio. Essa atmosfera de calmaria interrompida por uma ideia grandiosa dá o tom perfeito para uma comédia que transforma o ordinário do lugar no extraordinário das situações.
A história começa de forma intrigante, com o FBI encontrando um corpo misterioso dentro de um latão de xarope de bordo. A partir daí, a narrativa volta alguns dias no tempo para revelar os eventos que culminaram nessa descoberta. Histórias criminais protagonizadas por personagens completamente ineptos sempre têm um apelo cômico, e a série leva isso ao máximo, transformando a falta de habilidade do trio de bandidos em uma fonte de humor pastelão. Sem qualquer conexão emocional entre si, os três estão unidos apenas pela ganância — prontos para mentir, enganar e até trair uns aos outros para garantir a própria sobrevivência.
O elenco brilha com atuações memoráveis. Margo Martindale é o destaque, equilibrando humor e autenticidade com maestria. No entanto, Guillaume Cyr (Caçadores) e Chris Diamantopoulos (Alerta Vermelho) também funcionam em cena. Cyr, em especial, se destaca com seu humor físico, interpretando um personagem que carrega as marcas de uma vida sofrendo bullying e que agora busca uma espécie de vingança contra a sociedade, tentando provar seu valor de forma atrapalhada.
À medida que a trama avança, as consequências do assalto vão se intensificando, trazendo novos desdobramentos e amplificando o senso de humor perverso. Embora os três primeiros episódios funcionem mais como uma introdução lenta, preparando o terreno para o caos que promete dominar a segunda metade da temporada, a comédia já se faz presente de forma consistente.
Nem todas as piadas acertam o alvo, mas a natureza cômica e desajeitada dos personagens, que remetem ao melhor estilo de Os Três Patetas, nos mantém envolvidos. Essa dinâmica divertida é o que sustenta a narrativa, especialmente quando restam poucos mistérios no ar. O roteiro ágil revela muito cedo seu caminho e não guarda lá grandes surpresas. Talvez por ter apenas 6 episódios, tudo é corrido e apressado e isso atrapalha qualquer conexão emocional que possa surgir ou mesmo empatia por esses seres humanos desesperados.
Melou diverte justamente por sua simplicidade narrativa, e os episódios curtos e ágeis ajudam a transformar a falta de complexidade da história em um ponto a favor. Aliás, o clima natalino caótico dá um charme especial à série, funcionando perfeitamente para esta época do ano. Embora nem todas as piadas ou o humor acertem em cheio, os personagens desajeitados e disfuncionais garantem boas risadas.
O elenco, mesmo com um material bem enxuto, entrega performances que brilham e dão vida à trama. Com um texto repleto de ironia e acidez, a série nos envolve de maneira irresistível, fazendo com que queiramos passar ainda mais tempo imersos nesse ambiente frio, caótico e agridoce. Uma comédia criminal irresistível como xarope de bordo.