Crítica | Gladiador II – É assim que uma sequência deve ser feita

Em entrevistas recentes, Ridley Scott afirmou que Gladiador foi um dos filmes que mais o assombrou após seu aclamado lançamento. Ele contou que sempre quis revisitar esse universo, mas estava esperando pela história certa, no momento certo. Afinal, continuar um longa que venceu o Oscar de Melhor Filme não é algo que se faz de maneira apressada, e muitas vezes essas sequências nem veem a luz do dia. No entanto, me pergunto qual foi essa tal “história certa”, já que Gladiador II, lançado agora 24 anos após o original, acaba sendo um repeteco da fórmula do primeiro, sem tirar nem pôr.

O novo filme repete diversos pontos da trama original e não oferece nenhuma grande surpresa que justifique sua existência. Ainda assim, claro, a produção herda do antecessor seu caráter épico e colossal, que continua a impressionar. A escala é grandiosa, e a representação visual da Roma Antiga, agora auxiliada pela computação gráfica de última geração, é deslumbrante na tela grande como sempre foi. Gladiador II não compromete o legado cultural do original, mas dificilmente terá o mesmo impacto.

Os acertos e erros de Gladiador II

No auge dos seus 86 anos, o prolífico Ridley Scott não perde a capacidade de nos impressionar com um cinema feito para a tela grande — cinema com “C” maiúsculo, que utiliza som e imagem ao máximo para nos envolver em uma aventura que, embora previsível, garante diversão de alto nível. Gladiador II é desses filmes que seguem a tendência das sequências-legado, tentando revisitar pontos não resolvidos do passado para encontrar algum propósito continuativo.

No entanto, sem uma justificativa realmente forte, o filme apenas traz de volta alguns personagens e, mais uma vez, questiona a tirania do Império Romano, no meio de sequências sanguinárias no Coliseu – que fazem valer o ingresso. O retorno ao mundo que Scott criou (e que segue até hoje como sua melhor produção) é, mesmo que superficial, uma jornada repleta de nostalgia e respeito pela obra original, como é típico das sequências-legado. Não chega a ser uma perda de tempo, longe disso, mas também não deixa nenhum impacto significativo no cânone.

Felizmente, Gladiador II não se preocupa em complicar demais sua trama. Na verdade, o filme oferece uma reinterpretação bastante simples do conto de revolta política que marcou o primeiro longa, agora visto pelos olhos de um novo protagonista: Lucius, interpretado pelo astro em ascensão e queridinho do cinema cult Paul Mescal (Aftersun). Um personagem já conhecido do público, que retorna agora como adulto e seguindo um destino semelhante ao de Maximus (Russell Crowe), que, [Alerta de Spoilers!] em uma surpresa nada surpreendente, se revela seu pai.

Assim como Maximus, Lucius é vendido como escravo e obrigado a lutar nas arenas sangrentas do Coliseu, apenas para o entretenimento cruel da elite. Movido pela raiva e pelo desejo de vingança, ele se transforma no guerreiro que Roma precisa. Lucius entra na arena determinado a se vingar de Acacius (Pedro Pascal mal se destaca, coitado), um general carismático que conquistou a terra natal de sua família. Porém, a narrativa logo deixa de lado as motivações pessoais de Lucius, utilizando-o como um símbolo de força para uma nova geração de guerreiros.

O filme se eleva ao retratar a política maquiavélica que permeia as paredes de Roma e corrompe seus valores. Enquanto Lucius luta contra a tirania, Macrinus (Denzel Washington), um ex-escravo que se tornou treinador de gladiadores, emerge como um líder ambíguo, manipulando a política da cidade com idealismos controversos, resultado de sua própria vivência como vítima da brutalidade local.

E Paul Mescal, em um papel que promete catapultá-lo para o estrelato de Hollywood, entrega uma atuação convincente, marcada por carisma e olhar penetrante. Embora não seja uma performance digna de Oscar, ele cumpre o que o filme propõe. Já Denzel Washington traz uma presença magnética ao seu personagem, tornando cada momento de cena comicamente sedutor, uma vez que o filme prepara o palco por quase 2 horas para que, no fim, ele possa brilhar.

Os irmãos e coimperadores Geta (Joseph Quinn) e Caracalla (Fred Hechinger), por sua vez, são os elementos mais excêntricos, simbolizando a juventude irresponsável e inconsequente. Suas atuações são propositalmente exageradas, flertando com o pastelão e destoando um pouco do restante da produção.

As cenas de luta — com babuínos assustadores, rinocerontes e até tubarões — são exatamente o que o público espera ver em um blockbuster, e Ridley Scott sabe equilibrar o monumental e o emocional como poucos cineastas. O diretor enche a tela com uma ação frenética, envolvente e imersiva, embora agora dependa muito mais dos efeitos visuais, o que acaba tirando um pouco do charme da grandiosidade do cinema analógico presente no original.

Veredito

Gladiador II permanece fiel à estrutura do original até o último ato, e mesmo que o enredo soe excessivamente familiar, a sequência-legado acompanha a qualidade e a grandiosidade do épico que marcou o cinema contemporâneo. O roteiro se fortalece com a introdução de novos personagens e celebra o clássico, ainda que não consiga justificar plenamente sua própria existência.

Ridley Scott retorna a um terreno conhecido e, como poucos cineastas, sabe equilibrar a ação colossal com o drama emocional, criando um blockbuster que oferece sangue, dor e luta, mas também demonstra um carinho evidente pelo universo que retrata e pelo legado que precisa inevitavelmente respeitar.

Paul Mescal se mostra promissor, enquanto Denzel Washington rouba a cena, mas são as intrigas políticas e o destino de Roma que servem como o verdadeiro pano de fundo para uma sequência que, mesmo sem inovar nas batalhas, deveria servir como exemplo em Hollywood de como fazer uma continuação memorável.

NOTA: 8/10

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