Para criar um filme natalino realmente inovador, é preciso uma dose de criatividade extraordinária – algo que Hollywood não tem mais de onde tirar. Mas, em vez de arriscar, muitos preferem o caminho mais fácil, que é o mais seguro. A ideia de sequestrar o Papai Noel e correr contra o tempo para salvar a noite de Natal, por exemplo, está longe de ser original; na verdade, é uma das tramas mais clichês da temporada. Se abrir uma gaveta de qualquer estúdio, tem 5 roteiros iguais.
Porém, o que diferencia Operação Natal (Red One) de outros filmes com essa mesma premissa é o ritmo eletrizante que não esfria em nenhum momento. A diversão surge da mistura inusitada de uma trama de espionagem “pé no chão” com a fantasia mágica ao estilo de Harry Potter, mas com o nível de ação de Jumanji.
Junte tudo isso no “liquidificador” com leite e biscoitos natalinos, adicione dois grandes astros do momento de Hollywood e está pronta a receita ideal para abrir a temporada de fim de ano nos cinemas. E quanto ao “açúcar”? Bom, sem dúvida o filme exagera na doçura festiva, mas faz parte do encanto, não é mesmo?
Os acertos e erros do filme
Esse excesso de entusiasmo vem tanto da duração prolongada (mais de 2 horas de filme é de matar), que vai além do que a história tem para oferecer, quanto do fato de a trama se tornar cada vez mais mirabolante à medida que avança. Operação Natal parece querer abraçar tudo ao mesmo tempo, se esforçando para criar um vínculo emocional entre os personagens, mas desenvolve muito pouco o universo que apresenta, deixando a sensação de que poderia ter sido menos apressado e mais mergulhado no clichê emocional dos filmes natalinos.
No fim das contas, é tudo sobre família, perdão e união nesta época do ano. Contudo, a ação desenfreada e o humor, que nem sempre acerta, acabam ofuscando qualquer tentativa de explorar um drama de redenção entre pai e filho. Ainda assim, o filme traz várias qualidades que mantêm a diversão aquecida. Além do elenco estelar — afinal, unir Dwayne Johnson (Alerta Vermelho) e Chris Evans (Deadpool e Wolverine) é uma jogada poderosa de bilheteria —, Operação Natal explora as lendas natalinas com uma criatividade animadora.
A trama nos leva a mundos que vão desde a futurista Cidade do Natal no Polo Norte, quase uma Wakanda do Bom Velhinho, até a sombria terra de Krampus (Kristofer Hivju), o irmão rebelde do Papai Noel. Kiernan Shipka (Longlegs) interpreta a vilã, a bruxa Gryla, uma figura das lendas irlandesas, determinada a punir as crianças travessas que estão na lista negra do Natal. Mas, claro, quem realmente rouba a cena é J. K. Simmons (Whiplash), com seu Noel crossfiteiro e musculoso, uma abordagem totalmente inusitada que funciona muito bem nesse universo natalino modernizado criado pelo roteiro.
Sem gastar energia com o que não vai acrescentar, a ação brilha com momentos empolgantes de aventura – muito bem comandados pelo experiente em comédias de ação Jake Kasdan (dos filmes recentes de Jumanji) -, incluindo carrinhos Hot Wheels que ganham vida. O humor, embora flerte com o pastelão, funciona muito bem graças à química irresistível entre Johnson e Evans. Johnson interpreta o guarda-costas do Papai Noel, um grandalhão de coração doce, enquanto Evans vive um cético que não acredita em nada além de si mesmo.
A conexão entre os dois vem da descrença mútua, seja na humanidade ou na vida adulta. Um não consegue ver a criança interior das pessoas, e o outro parece ter trancado a sua própria criança em um armário velho de vassouras e nunca mais a visitou. A trama, por sua vez, depende fortemente de CGI e efeitos especiais que, embora não surpreendentes, cumprem bem seu papel. Alguns efeitos mais exagerados acabam tirando um pouco da imersão, mas, no geral, estão alinhados com o que Hollywood tem oferecido atualmente.
De forma preguiçosa, a narrativa recorre a clichês e soluções fáceis para resolver seus conflitos tão rápido quanto os cria. A vilã, assim como os protagonistas, é superficial, sem grande desenvolvimento de personagem, e o drama sobre paternidade soa mais cafona do que realmente emocional, o que é uma pena.
Veredito
Embora Operação Natal reconstrua a mais clássica trama natalina no cinema, sua ação vibrante e seu mundo mágico engenhoso evitam que o filme seja uma avalanche de clichês. Imagine Jumanji encontrando Harry Potter para uma ceia de Natal: o resultado é bem mais divertido do que se poderia esperar. Todos os elementos de um típico filme da temporada estão aqui — alguns mais doces, outros levemente amargos —, mas a mesa está bem servida, entregando o melhor desse tipo de história que marca o encerramento do ano.
É verdade que Operação Natal tem qualidades que o elevam acima dos comerciais de perfume com elenco de peso que os streamings costumam produzir. No entanto, o filme quase desliza na neve ao se manter demais na zona de conforto, entregando um produto seguro e fácil de vender. Ainda assim, para uma aventura natalina descompromissada, ele proporciona uma boa dose de imersão — pelo menos até derreter da nossa mente como neve ao sol.