Antes de avaliar a obra em si, vale destacar o quanto é impressionante ver a trajetória da franquia Terrifier, que passou de um projeto trash nichado de míseros $35 mil dólares (sim, esse foi o custo de produção do primeiro filme!) para se tornar um fenômeno de bilheteria mundial. Independentemente do tema, a saga de Art, o palhaço, trouxe de volta o horror gore extremo que parecia ter desaparecido de vista no início dos anos 2000.
Todo esse sucesso — capaz de desbancar blockbusters nas bilheterias americanas e deixar até mesmo seu criador incrédulo — se deve tanto à curiosidade gerada pela ousadia da obra (e não é pouca!) quanto à sua capacidade de saciar o público ávido pelo lado mais cru do terror. Mas o slasher do criativo Damien Leone aproveitou essa fama absurda para, felizmente, evoluir, e agora, com Terrifier 3, entrega uma homenagem violenta e divertida aos clássicos do horror dos anos 70 e 80, especialmente o cult Noite do Terror (Black Christmas), de 1974.
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Os acertos e erros de Terrifier 3
Agora que se tornou uma franquia sob os holofotes, Terrifier precisava de algumas mudanças em relação aos dois primeiros filmes, tanto na estrutura da trama — que sempre foi caótica — quanto na introdução de algo novo. E a novidade desta vez é uma fusão inesperada entre Halloween e Natal, que deixa Jack Skellington com ciúmes.
Terrifier 3 é uma continuação direta do segundo filme e se passa 5 anos após o mesmo, trazendo de volta parte do elenco principal e fechando algumas pontas soltas do passado. Muito mais próximo de Pânico e Sexta-Feira 13 do que jamais foi, desta vez Art assume de vez a natureza sobrenatural que antes era apenas sugerida.
No entanto, o longa busca ser um pouco mais comedido no quesito fantasia — após a “viagem” surreal do segundo filme — e incorpora um toque de drama familiar para dar mais profundidade aos personagens. Quase tudo está visivelmente aprimorado: desde o elenco até a coesão da história e a estrutura cinematográfica.
Damien Leone traz de volta o que funcionou no segundo filme, mas agora dentro de uma narrativa bem mais tradicional, sem abrir mão de sua marca registrada de violência extrema. Com o Natal como cenário, o diretor explora o grotesco sem qualquer receio, transformando itens festivos em armas e distorcendo imagens sagradas da época. A trama adiciona camadas insanas e bíblicas ao banho de sangue prático e característico, sem medo de desafiar crenças ou sensibilidades.
O diretor maximiza o orçamento de US$ 2 milhões, elevando o banho de sangue a novos patamares com cenas brutais de mutilações de genitália, animais mortos e até crianças carbonizadas. Seu maior mérito é como isso consegue, depois de tanto tempo, ainda parecer algo novo ou um limite não explorado. O desconforto é tão extremo que chega a ser difícil imaginar como o filme alcança o circuito comercial com tanta violência explícita.
Lauren LaVera retorna como a final girl desta história, novamente sólida em seu papel de protagonista e visivelmente mais empenhada. O trauma de seu encontro anterior com o palhaço assassino exige uma carga dramática mais intensa, e, na maior parte do tempo, LaVera consegue entregar essa profundidade sem tropeçar. Quanto a Art, ele continua com a profundidade de uma poça d’água, um verdadeiro Charlie Chaplin serial killer – cômico, constragedor e esquisito de olhar. Mas que David Howard Thornton mais uma vez tira de letra.
Definitivamente, este não é um filme focado em desenvolver personagens ou gerar empatia, se é que alguém espera isso; seu propósito é bem claro: oferecer o banho de sangue que move o filme, onde toda perversidade é bem-vinda — afinal, cada Terrifier é uma aposta ousada. Em uma dinâmica que lembra a parceria de Chucky e Tiffany, Art agora conta com uma cúmplice: a bizarra e sádica Victoria Heyes (interpretada por Samantha Scaffidi). Juntos, eles espalham terror na noite de Natal, rompendo todas as convenções do terror tradicional em uma orgia de violência e transgressão.
Veredito
Se você espera um filme tradicional ou com uma exploração profunda de traumas, é melhor tirar sua rena da neve, pois Terrifier 3 é um banquete brutal para fãs famintos por violência gráfica extrema. Em outras palavras, o filme entrega exatamente o que promete — e um pouco mais. Art, o palhaço, se consolida como o novo ícone do terror, e parece que veio para ficar. Ainda assim, a amada franquia continua sem uma ordem ou coerência clara, embora agora esteja um pouco mais estruturada.
Nunca um filme natalino foi tão terrivelmente violado, e a neve jamais esteve tão tingida de vermelho. A ousadia da franquia é admirável, rompendo todos os limites do que pode ser exibido nos cinemas e elevando a classificação etária a um novo patamar. No entanto, é sadismo pelo sadismo, sem uma história concreta que o sustente.
Damien Leone, por razões óbvias, escolhe exibir sem cortes cenas de mortes intensas e sádicas ao nível snuff movie, entregando sequências tão impactantes que fazem qualquer filme perturbador parecer uma reunião de Natal em família. É desagradável, grotesco e destemido — exatamente como se espera.
NOTA: 7/10
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