Crítica | Sorria 2 – Espetáculo de horror de cair o queixo

Uma das maiores surpresas de 2022 foi Sorria, longa dirigido pelo estreante Parker Finn e baseado em seu próprio curta-metragem. O que poderia facilmente ter se tornado um desastre à la Blumhouse, se revelou um horror inteligente, cheio de metáforas e verdadeiramente angustiante. E, como de costume em Hollywood, o sucesso trouxe consigo a necessidade de continuar a história para manter a bilheteria em alta. Felizmente, Parker Finn entende o valor do que criou e entrega uma sequência ainda mais perturbadora e alucinante.

Sorria 2 é uma daquelas continuações que aprimoram o original ao expandir seu universo, elevando a trama a algo ainda maior e mais intenso, mas sem perder a essência de como tudo começou. Essa fusão de O Chamado, Suspiria e Corrente do Mal demonstra o domínio total de Finn na direção, que apenas evidencia sua habilidade de transformar o comum em algo excepcionalmente interessante e criativo. É um terror genuíno, que deixa os nervos à flor da pele e o espectador na beira da poltrona do início ao fim.

Os acertos e erros do filme

Agora, com uma trama maior (tanto em duração quanto em escala dramática), Sorria 2 mantém intactas as poderosas metáforas sobre depressão e saúde mental. Desta vez, o filme explora o burnout, a pressão das mídias e redes sociais, o peso da fama e a angústia do abuso em suas diversas formas. O demônio metamorfo que permeia a história se alimenta de traumas, pensamentos negativos e paranoias, com o objetivo de levar seu hospedeiro à loucura e, assim, buscar uma fuga das vozes perturbadoras em sua mente.

A franquia sempre usou as questões de saúde mental como pano de fundo para abordar o suicídio involuntário, resultado de uma pressão insuportavelmente opressiva. Agora, o foco é a estrela da música pop em ascensão Skye Riley, no melhor estilo Sabrina Carpenter e Charli XCX, que, após sofrer um grave acidente de carro que matou seu namorado, tenta reconstruir sua carreira enquanto enfrenta a terrível maldição do sorriso, que é passada para ela em um momento de puro desespero.

A história começa poucos dias após os eventos do primeiro filme e segue, em ordem cronológica, a disseminação da “doença” que havia sido interrompida em Joel, interpretado por Kyle Gallner, o único personagem a retornar para uma sequência de abertura espetacular em plano-sequência, que define o tom eletrizante do filme.

É irritante pensar que tantas artistas são consideradas aos prêmios, como Lady Gaga no ruim Coringa 2, enquanto Naomi Scott (Power Rangers, Aladdin), com uma das performances mais impactantes do ano, nem tem a chance de ser reconhecida, simplesmente porque o terror é um gênero desprezado pelos votantes da Academia. A atriz entrega uma atuação absolutamente deslumbrante e intensa, que deve ser o papel de sua carreira. É magnético vê-la em cena, enfrentando o terror e dando tudo de si ao longo das duas horas em que carrega o filme de forma avassaladora. Espetáculo purinho.

É evidente que esses dois anos trouxeram a Parker Finn mais maturidade e engenhosidade na direção. Se antes ele era uma revelação, agora demonstra um domínio absoluto sobre cada plano, cena e ângulo, transformando-os em puro cinema. Os sustos, sejam jump scares ou momentos de tensão mais sutis, são habilmente construídos com uma câmera que navega e explora os cenários de maneira envolvente e intrigante, criando uma atmosfera de horror que nos penetra por completo e provoca arrepios na espinha, muito por conta da trilha sonora matadora.

Finn mantém o horror no limite e brinca com o humor das situações, equilibrando sutilezas e excentricidades. Embora haja toques cômicos quando necessário, o medo e a constante sensação de delírio e loucura tornam o roteiro complexo, denso e desafiador. É sempre revigorante ver um cineasta que ama e se diverte fazendo acrobacias com a câmera, extraindo o máximo de cenas aparentemente comuns. Claro que agora há mais sangue, tripas e esquisitices para temperar esse prato que já está recheado de gore e body horror.

O maior problema do filme, apesar de ter uma duração desnecessariamente extensa, é que ele pesa demais a mão nas habilidades alucinatórias da criatura. É que quando nada do que vemos parece confiável e longos trechos da trama se revelam apenas “pesadelos”, acabamos nos sentindo enganados, o que pode ser bastante frustrante para quem busca uma narrativa mais linear. Por vezes é confuso demais.

Veredito

É um alívio quando o filme no qual investimos nosso tempo precioso se revela deliciosamente satisfatório, mas Sorria 2 vai além e entrega uma sequência engenhosa, sangrenta e perversa, cheia de humor ácido e sadismo. O sorriso logo surge com a performance fenomenal de Naomi Scott, que, se estivesse em um drama, certamente renderia uma indicação ao Oscar.

Ao explorar o peso da fama, os traumas e a pressão das redes sociais, o diretor Parker Finn eleva seu excelente trabalho no original e prova que um raio de criatividade pode, sim, cair duas vezes no mesmo lugar. Ele demonstra habilidade em transformar o medo em algo muito mais profundo, interno e denso do que meros sustos que fazem a poltrona tremer. É pura alegria quando uma continuação consegue superar o original, nos deixando com um sorriso de orelha a orelha. Finalmente temos um excelente filme de drama com terror em um ano fraco para o gênero.

NOTA: 9

Última Notícia

Mais recentes

Publicidade

Você vai querer ler isto: