Crítica | Transformers: O Início – Transforma do zero a franquia enferrujada

A capacidade de saber se reinventar é a chave para longevidade. A franquia Transformers, por exemplo, já desgastada, sem novas ideias e completamente perdida no personagem ao longo dos anos, exigia urgentemente um retorno às suas origens. Não dava mais para suportar o aumento de escala nos filmes megalomaníacos, com efeitos visuais de última geração mascarando roteiros abarrotados de falhas.

A saga, que o explosivo Michael Bay trouxe aos cinemas lá em 2007, há muito deixara de oferecer algo significativo ou divertido, se tornando apenas mais um produto genérico do cinema contemporâneo para vender brinquedos.

Agora, os robôs estão de volta e abastecidos com gás, em uma animação que não só expande as possibilidades, como também resgata algo que parecia ter se perdido de vez: a essência e a emoção de seus personagens. Transformers: O Início combina um ritmo dinâmico, roteiro envolvente e a liberdade criativa que só uma animação pode proporcionar em um filme genuinamente animador.

Os acertos e erros do filme

Curiosamente, o cinema de animação está passando por um renascimento e, nos últimos anos, tem até deixado a Pixar para trás em termos de criatividade. Filmes como As Tartarugas Ninja: Caos Mutante e o recente Robô Selvagem mostram que ainda dá para contar histórias incríveis (e densas!) nesse formato. Mas o que realmente chama a atenção é o fato de Transformers ter decidido seguir esse caminho ousado, depois de tantos anos apostando em live-actions medíocres.

Com a mudança de formato, o público também mudou, agora mais focado na galera mais jovem. Mas, mesmo assim, a essência da franquia, especialmente dos três primeiros filmes com o Shia LaBeouf, ainda está lá. Dessa vez, o foco é na fase rebelde do Optimus Prime e nas origens do Megatron como vilão. Tudo numa pegada mais leve, perfeita para conquistar a nova geração teen que está chegando com tudo.

Ao sair da Terra e focar em Cybertron, o planeta natal dos Transformers, o filme nos oferece muito mais do que as já batidas histórias humanas – e mostra o quão bem funciona sem humanos. O lance alienígena da franquia abre espaço para ideias novas, metáforas sobre uso indevido de poder e apostas bem mais ousadas. Prime, ainda na fase jovem como Orion Pax (dublado por Chris Hemsworth), começa sua jornada para se tornar o grande líder de Cybertron, enfrentando os tiranos locais e explorando o planeta.

Mas o arco mais interessante é, de longe, do D-16 (Brian Tyree Henry), que vai perdendo a fé na própria raça e, aos poucos, se transforma no vilão de voz grossa Megatron. A amizade entre eles é o alicerce para o confronto épico que vai durar séculos. Claro que tem muita história pra contar, e nem todas as subtramas funcionam, então manter a narrativa nos trilhos é um desafio para Josh Cooley. Com sua experiência em animações como Toy Story 4, ele consegue trazer um pouco mais de profundidade para os protagonistas em uma condução enérgica, um tanto quanto caótica, mas que funciona no fim das contas.

Apesar de lidarmos com Autobots e Decepticons, o roteiro faz um ótimo trabalho em conectar esses personagens com a humanidade, especialmente no arco do Megatron, que está muito mais “humanizado” do que em qualquer outro filme da franquia. O Início tem suas ligações com o que já vimos, mas não é conectado aos live-actions, funcionando como um recomeço ou um remake, só que partindo de um passado ainda mais distante. O roteiro é mais ágil e dinâmico, mas não escapa dos clichês de sempre, com algumas reviravoltas previsíveis e um desfecho que você já vê chegando de longe.

Nem tudo dá certo, claro. A personagem feminina – praticamente invisível nos outros filmes (o que é uma vergonha) – dublada pela Scarlett Johansson, chega meio tarde, mas é uma adição bem-vinda. O problema é que Elita foi desenhada aqui como uma caricatura de uma chefe durona, sem nenhum traço de personalidade além de ser rígida.

Sua jornada parece terrivelmente deslocada, assim como a do Bumblebee, que continua sendo o que sempre foi (com exceção de seu filme solo, claro): um alívio cômico sem muito a acrescentar. Por outro lado, o filme brilha no visual e na trilha, com uma estética vaporwave e gráficos 3D incríveis, marcados por cores vibrantes e traços bem definidos. Visualmente, é deslumbrante e te puxa totalmente para dentro da história contada, mesmo com cenas de ação aceleradas, que mais parecem uma brincadeira mecânica de criança.

Veredito

Com muita energia, Transformers: O Início faz uma transição brilhante do live-action para a animação, dando um novo fôlego à franquia ao voltar às origens. O filme consegue o que parecia impossível a essa altura do campeonato: tornar Transformers relevante de novo. A animação, com suas possibilidades infinitas, entrega uma excelente história de origem e devolve o coração que a saga tinha perdido. É o pontapé inicial de uma nova fase que promete ter vida longa no cinema. Diversão de tirar o fôlego que transforma do zero uma franquia já muito enferrujada.

NOTA: 8

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