Crítica | Pisque Duas Vezes – Suspense psicológico magistralmente arquitetado

É impressionante ver uma estreia tão sólida e cinematograficamente refinada como a de Zoë Kravitz na direção de Pisque Duas Vezes (Blink Twice). Em seu primeiro projeto, ela entrega um suspense psicológico magistralmente arquitetado, onde cada detalhe é minuciosamente calculado. Inspirando-se no recente cinema de terror com crítica social, Kravitz cria uma versão feminista de Corra! repleta de sutilezas e conduzida de maneira incrivelmente controlada e bela.

Mesmo nos momentos em que a trama atinge seus pontos mais baixos, o filme permanece envolvente. Além de ser um dos melhores filmes do ano – superando a maioria das produções recentes – ainda oferece uma narrativa divertida, sombria e sádica, repleta de reviravoltas criativas que estimulam a nossa mente.

Os acertos e erros de Pisque Duas Vezes

Embora parta de uma premissa relativamente simples e comum a muitos filmes do estilo “Whodunnit”, onde desvendar o mistério é mais relevante do que entender as motivações, Pisque Duas Vezes se destaca por construir sua própria identidade. A narrativa é envolvente, cômica e de fácil compreensão.

Isso não o torna superficial ou despretensioso; ao contrário, é justamente na simplicidade que Kravitz encontra o terreno fértil para desenvolver um horror magistral. Ela consegue isso ao reunir personagens que, apesar de suas diferenças, compartilham um objetivo comum: ascender socialmente, em busca de fama, poder e, como diz a protagonista, deixar de ser invisível.

Com uma ilha paradisíaca e uma mansão imponente como verdadeiros personagens dessa trama repleta de surpresas e reviravoltas inesperadas, a história acompanha uma jovem de vida modesta que sonha em ser notada pelo problemático bilionário para quem trabalha. Quando finalmente consegue, ela é convidada a passar uma temporada em sua isolada e distante residência, onde férias aparentemente luxuosas se transformam em uma sucessão de festas regadas a champanhe e alucinações bizarras.

Naomi Ackie (I Wanna Dance with Somebody) e Channing Tatum (Como Vender a Lua) estão absolutamente brilhantes em seus papéis. Ackie entrega uma atuação extraordinária, transmitindo verdade em cada olhar, enquanto Tatum demonstra toda sua versatilidade ao interpretar um homem complexo, enigmático e irresistivelmente sedutor. Adria Arjona (Assassino Por Acaso) é outro nome que se destaca e surpreende.

É nessa atmosfera caótica de alucinações, visões e enigmas que os mistérios ganham vida sob o olhar criativo de Kravitz, que brinca com nossa percepção da realidade ao explorar planos detalhados, sons e cores vibrantes. A edição do filme e o desenho de som são verdadeiras obras de arte, contribuindo para uma ambientação sedutora e estranhamente cativante, com um senso de humor afiado que frequentemente nos leva a rir de puro nervosismo.

Embora a mensagem central do filme não seja exatamente nova e, em alguns momentos, toque no estilo repetitivo do “revenge porn” típico do cinema de terror, a narrativa de Kravitz é tão magnética e entusiasmante que faz com que o filme pareça uma obra definitiva dentro desse subgênero problemático. Há também uma tempestade de simbolismos e metáforas visuais, com cada quadro cuidadosamente estruturado. Pode até ser necessário assisti-lo mais de uma vez para captar todas essas nuances brilhantes.

Felizmente, tudo se encaixa perfeitamente, culminando em uma história bem amarrada e um roteiro cuidadosamente concebido para transmitir uma crítica social poderosa dentro de uma narrativa de terror tradicional, que bebe da fonte inesgotável de audacidade de nomes como Jordan Peele, porém, com um olhar feminino corajoso e atrevido como deve ser no cinema moderno.

Veredito

É impressionante o controle narrativo e a visão cinematográfica que Zoë Kravitz demonstra já em sua estreia na direção. Pisque Duas Vezes é sedutor, sombrio, ácido e deliciosamente divertido do início ao fim. Uma estreia sólida que nos deixa ansiosos por seus próximos projetos. Visualmente deslumbrante, o filme conta com uma edição impecável e uma trilha sonora inquietante.

Embora a trama não seja totalmente original, o roteiro inteligente traça um caminho único dentro do horror psicológico, envolvendo e provocando o espectador a cada cena. Se fosse você, não piscaria nem por um segundo para não perder essa conquista cinematográfica do ano.

NOTA: 9/10

LEIA TAMBÉM:


Aproveite para nos acompanhar nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram, Youtube e também no Google News

Quer receber notícias direto no seu celular? Entre para o nosso grupo no WhatsApp ou no canal do Telegram.

Última Notícia

Mais recentes

Publicidade

Você vai querer ler isto: