Crítica | Saideira – Road movie com o autêntico sabor brasileiro

Uma das maiores belezas do cinema nacional, especialmente do nosso cinema regional, é a capacidade dos cineastas e roteiristas de transportar para as telas não apenas nossa cultura e costumes, mas também os elementos que definem nossa identidade como brasileiros. O cinema nacional, na grande maioria das vezes, não imita a identidade estrangeira; em vez disso, celebra as brasilidades que tornam nosso país único em diversos aspectos. Nesse contexto, Saideira é um daqueles filmes cativantes, com uma premissa simples, mas que exala Brasil em cada linha de diálogo.

A conexão com o público é imediata e proporciona uma experiência autêntica. O filme, dirigido pela dupla Pedro Arantes e Júlio Taubkin, é uma comovente homenagem ao legado que nossas famílias nos deixam, seja ele material ou imaterial.

Os acertos e erros de Saideira

O que inicialmente pode parecer apenas mais uma comédia leve, rapidamente se revela um drama profundamente comovente. O filme utiliza um humor afiado para abordar a relação conturbada entre duas irmãs muito diferentes, que embarcam em uma aventura pelo país em busca de uma cachaça raríssima, herança de seu avô recentemente falecido. Esta caça ao tesouro estabelece a dinâmica de um road movie incrivelmente divertido quando aposta no humor, mas também sabe ser reflexivo e sentimental, explorando as belas paisagens das pequenas cidades do interior.

Quando Penélope (interpretada pela sempre fantástica Luciana Paes) chega ao enterro de seu avô em busca da cachaça mais rara do mundo, sua atitude arrogante e presunçosa rapidamente faz com que o público a desaprove. No entanto, à medida que a trama se desenrola e descobrimos mais sobre sua vida e motivações, o mundo bucólico do interior parece se transformar em uma prisão para sua força.

Por outro lado, Joana, vivida brilhantemente pela hilária Thati Lopes, é exatamente o que aquele ambiente precisa: uma jovem doce e sonhadora, mas contente com a vida simples que leva. A diferença marcante entre as duas personagens faz com que se complementem de maneira fascinante, tornando a interação delas em cena simplesmente hipnotizante. As faíscas e as ironias arrancam boas risadas.

Saideira enfrenta alguns problemas, sendo o mais notável uma tentativa constante de ser engraçadinho, especialmente em uma sequência menos eficaz sobre uma viagem astral, onde o humor não se concretiza. O ritmo do filme é uma verdadeira montanha-russa, mas a partir da metade, quando o enredo se aprofunda, ele começa a brilhar nas camadas mais sutis do texto e nas emoções das protagonistas.

Com um elenco talentoso em mãos, que traz uma boa dose de improviso, e uma direção que captura bem a atmosfera dos ambientes e a dinâmica implacável entre Paes e Lopes, o filme ainda carece da compreensão de que o humor não pode sempre compensar uma parte mal estruturada da história.

Acima de tudo, o filme é sobre realmente conhecer quem amamos e estabelecer uma conexão com alguém que compartilha nossas origens. Embora as irmãs estejam constantemente em conflito devido às suas diferenças, na verdade, elas são mais semelhantes do que imaginam. A mensagem é tocante e a reflexão se torna profunda quando o roteiro explora os sacrifícios que fazemos por aqueles que amamos. Afinal, não é fácil abrir mão de algo em nome do amor por outra pessoa.

Há uma doçura no texto que nos faz rapidamente lembrar de alguém especial, e, apesar de o humor tentar amenizar as intensas emoções, é difícil não se emocionar e derramar algumas lágrimas com as cenas finais.

Veredito

Luciana Paes e Thati Lopes formam uma dupla inesperada e saborosa, cuja acidez de uma personagem contrasta perfeitamente com a doçura da outra, criando uma dinâmica irresistível, cômica e profundamente sensível.

Em um road movie que exibe o melhor da autenticidade do cinema nacional, Saideira é uma excelente surpresa, que supera os clichês da comédia tradicional ao incorporar coração e emoções em uma trama que celebra a valorização dos momentos raros da vida e o valor imaterial das coisas que ficam para trás. Apesar de alguns problemas de ritmo e um humor que nem sempre atinge seu ápice, o filme consegue impactar e nos envolver com a mesma intensidade de uma boa cachaça.

Nota: 8/10

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