Crítica | Clube dos Vândalos – O lento definhar de um ideal

Grupos de Motocicletas sempre fizeram parte do imaginário popular estadunidense. De Sem Destino à Sons Of Anarchy, o mundo cinza em que os motoqueiros vivem chama a atenção do público. Com uma abordagem mais documental, Clube dos Vândalos mostra o lento definhar de uma ideia e da mudança de seus símbolos. O longa dirigido por Jeff Nichols tem um olhar sensível sobre a violência e a fantasia masculina que dominam este mundo.

Os acertos e erros de Clube dos Vândalos

Entre as décadas de 1960 e 1970, o grupo de motociclistas chamado Vândalos de Chicago dominou a costa leste americana. Foi aí que um fotógrafo decidiu acompanhar os motoqueiros e registrar em fotografias e entrevistas a dinâmica, as origens e o dia a dia desse mundo quase paralelo dos subúrbios de Chicago.

Um dos principais trunfos do filme é seu andamento. Por ser baseado em um livro e este livro ter sido escrito em relatos, Clube dos Vândalos foge da fórmula da jornada do herói e apresenta uma história mais real no sentido de que as coisas acontecem fora da expectativa do espectador e parecem muito com alguém contando uma história verbalmente para a outra.

Austin Butler as Benny in director Jeff Nichols’ THE BIKERIDERS. Credit: Courtesy of Focus Features. © 2023 Focus Features. All Rights Reserved.

A mística do mundo dos clubes de motocicleta também é abordada de dois pontos de vista. A vista de fora, com os Vândalos sendo quase entidades na cidade vistos até mesmo pelas autoridades como intocáveis e a vista de dentro, como um ideal da fantasia masculina de poder e que foi alçado a algo gigantesco pela crise de meia idade de seus fundadores. Não à toa, a visão de dentro, que desmistifica essa fantasia, vem do relato de uma mulher.

Com esses dois pontos de vista, Clube dos Vândalos prepara o público para a inevitável conclusão da história. Ao se mistificar diante dos olhos de estranhos, os Vândalos se tornam maiores do que as pessoas que fazem parte do grupo, se tornando um ideal que eles jamais alcançarão e ficando a mercê de quem acha que pode ser mais próximo desse ideal.

Nesse cenário, Benny, o personagem de Austin Butler talvez seja esse ideal jamais alcançado. Um homem que existe apenas por gostar do que o grupo representa. Não existe ego ou jogo de poder com ele e por isso ele é, em essência, algo que os Vândalos como indivíduos jamais serão.

Essa visão também é mostrada por dois ângulos. Uma pelo lado de Johnny, interpretado por Tom Hardy. Como o fundador dos Vândalos, ele vê em Benny esse objeto inalcançável para ele e qualquer outro membro do grupo. Benny é tudo que ele sempre quis ser, mas jamais será. Já Kathy, personagem de Jodie Comer, enxerga o lado humano de Benny, sabendo que ele não é um ideal, mas um homem como tantos outros.

Veredito

Clube dos Vândalos é um relato cru e o mais próximo do real que uma ficção pode se propor a ser. Sem exagerar em estereótipos ou em narrativas de herói e vilão, o filme segue seu ritmo lento ao mesmo tempo em que nos deixa presos na cadeira para ver o desfecho da história. Uma boa surpresa e um grande filme nos cinemas.

Nota: 9/10

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