Crítica | Rebel Moon – Parte 2: O mais puro sonífero em forma de filme

É uma realidade agora: a Netflix possui mais uma franquia notavelmente desastrosa para chamar de sua. Com dois filmes incrivelmente inábeis em alcançar seus objetivos, Rebel Moon serve como um lembrete para os aspirantes a cineastas de que a ambição sozinha não é suficiente para se fazer cinema. O projeto, apelidado de “comercial de perfume de Zack Snyder” ou “Star Wars da Shopee”, é, de fato, uma colcha de retalhos de conceitos de filmes mais grandiosos e bem-sucedidos. E isso não para de piorar.

No entanto, só desmorona mesmo devido à sua excessiva seriedade ao apresentar uma trama tão genérica e desprovida de criatividade que beira o ridículo. Se o primeiro capítulo, A Menina do Fogo, já foi uma experiência tediosa, a continuação, Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes, consegue transformar duas horas no mais puro e surpreendente sonífero em forma de filme.

Os acertos e erros de Rebel Moon – Parte 2

Mais uma vez, estamos diante de uma obra com conceito abundante, mas escassez de uma história realmente envolvente. Com personagens unidimensionais e subtramas tediosas que não levam a lugar algum, a Parte 2 se resume a preencher duas horas com lacunas deixadas pelo capítulo anterior, enquanto se apoia nos visuais deslumbrantes da cinematografia exagerada e saturada de Zack Snyder.

O mundo que antes foi bem apresentado e até era promissor, agora parece mais um episódio intermediário de uma série perdida em sua própria complexidade e falta de direção. A tão esperada revolução na ficção científica resulta em um capítulo final ainda mais exaustivo e desanimador do que seu início vacilante. E isso é um mérito que Snyder gosta de sustentar. Ao mirar mais uma vez em Star Wars, acerta mesmo é no pior Resident Evil já feito.

Apegado firmemente às suas influências descaradas, o enredo de Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes mal consegue avançar além das fronteiras que tanto almeja ultrapassar na busca por algo mais significativo.

O capítulo final, lançado apenas quatro meses após a Parte 1, traz apenas uma leve melhora, graças a uma trama mais simplificada e uma batalha climática mais envolvente. No entanto, mais duas horas com os mesmos personagens e uma história superficial é o suficiente para esgotar qualquer espectador.

A excessiva utilização de câmera lenta, inclusive em cenas triviais como a colheita, torna a passagem do tempo ainda mais exasperante. A tendência narrativa de Snyder para essa abordagem está se tornando cada vez mais prejudicial e menos eficaz, especialmente para uma história que já carece de energia.

A abundância de flashbacks no roteiro se esforça para expandir e enriquecer o histórico dos personagens, na tentativa de fornecer um desfecho mais abrangente. Porém, acaba apenas inundando a narrativa com lacunas tediosas, a tornando ainda mais difícil de acompanhar com os olhos abertos.

Como protagonista, Kora, interpretada pela talentosa Sofia Boutella (Climax), é mal desenvolvida e falha em estabelecer uma conexão emocional com o público desde a Parte 1, assim como todos os outros personagens do filme. Ela carece do tempero e da resiliência das protagonistas marcantes, como Rey de Star Wars e Ripley de Alien.

Embora Boutella se esforce para oferecer o seu melhor, seu desempenho é limitado por uma liderança desprovida de carisma. Fora isso, Snyder busca enfiar questões raciais em um filme que não lhe cabe, num universo repleto de diversidade onde esse conceito parece soar humano demais, fora de contexto, apenas pelo sabor de estabelecer uma crítica social rasa. 

Com uma quantidade excessiva de monólogos desajeitados, as sequências de ação se tornam a única esperança de prender a atenção do público, mas demoram mais de uma hora para aparecer. Quando finalmente surgem, parece que todo o investimento da Netflix se concentrou apenas na Parte 1.

Com personagens rasos e um vilão desprovido de qualquer senso de ameaça, a ação do clímax consegue se destacar, revelando que há boas ideias por trás de tanto excesso de computação gráfica, que mais se assemelha a um papel de parede do Windows.

Pelo menos desta vez, somos agraciados com um confronto final mais emocionante. A construção estética do mundo teria se beneficiado de abordagens mais dinâmicas e originais, como vemos em filmes como Resistência, ao invés de simplesmente repetir recursos visuais já desgastados da ficção científica. Os mundos de pano de fundo das cenas soam mais falsos e artificiais do que nota de 3 reais.

Veredito

Apesar de um clímax ligeiramente melhorado, Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes, da Netflix, permanece tão desapontador e desequilibrado quanto sua predecessora, a já falha e incrivelmente simplista Parte 1.

Zack Snyder parece apenas aprofundar os mesmos erros cometidos anteriormente, entregando um filme repleto de monólogos cansativos, personagens vazios e cenários tão artificiais quanto um papel de parede do Windows. Não há absolutamente nada em Rebel Moon que não tenha sido explorado de forma mais cativante em filmes de qualidade superior.

Esta conclusão insatisfatória de Snyder para sua grandiosa ópera espacial só se destaca mesmo quando finalmente termina a tortura de mais de duas horas de uma história carente de carisma, emoção e repleta de lições negativas que a ficção científica deveria evitar repetir.

Rebel Moon poderia ter se contentado em ser um único filme de duas horas, sem a pretensão de ser o “maior épico espacial já feito”, e assim evitar a divisão de um enredo fraco em duas partes insustentáveis. Ao almejar demais, acabou se tornando uma experiência frustrante, genérica e incrivelmente cansativa que, felizmente, chegou ao fim.

NOTA: 3/10

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