Crítica | Donzela – Nem Millie Bobby Brown salva o filme do óbvio

O que mais falta em Donzela (Damsel), nova superprodução da Netflix, é a magia. E isso é estranho uma vez que o filme de fantasia tenta resgatar a essência dos contos de fadas e trazer para um contexto em que a princesa, dessa vez, sabe muito bem se salvar sozinha.

Carregado de qualidade visual e com ótimas sequências de ação, o longa usa seus elementos gráficos para disfarçar um roteiro mixuruca, vazio e previsível, que depende muito da presença marcante de Millie Bobby Brown (Stranger Things) para funcionar. Acontece que até mesmo Shrek é mais imersivo do que esse live-action. 

A trama e o elenco de Donzela

Logo no começo, a protagonista, Elodie, promete que essa fantasia sombria não será como os outros contos de fadas habituais, promessa esta que o filme de Juan Carlos Fresnadillo (Extermínio 2) nunca consegue de fato cumprir. Embora o roteiro claramente queira ser subversivo, tudo nesta lamentável saga é ao mesmo tempo difícil e emprestado de filmes muito melhores liderados por mulheres. Mas as boas intenções estão por toda parte. No aspecto visual, o filme é realmente divertido e cria uma ambientação que lembra clássicos como Coração de Dragão, mas a história não se sustenta. 

Na premissa, retirada do tédio medieval de sempre, uma donzela obediente concorda em se casar com um belo príncipe, apenas para descobrir que a família real a recrutou como sacrifício para pagar uma dívida antiga. Jogada em uma caverna com um dragão fêmea cuspidor de fogo, ela deve confiar em sua inteligência e vontade para sobreviver para sair dessa enrascada e dar a volta por cima.

Seria perfeito se até mesmo Shrek já não tivesse feito melhor. Mas, diferente da Fiona, a princesa Elodie mostra que não precisa de homem nenhum para salvá-la – ao mesmo tempo que acaba precisando, de certa forma. 

Um ponto positivo é que Donzela tem uma heroína de ação bastante atraente e carismática. Millie Bobby Brown faz o possível para se divertir dentro do que lhe é dado e entrega uma performance bastante sólida, mas longe de ser a melhor de sua carreira. O problema em si é que o roteiro, que quer a todo tempo ser sombrio e diferente, acaba sendo infantil e superficial, com decisões questionáveis e um 3º ato apressado, sem nexo e pouco convincente.

Fora isso, o começo da história é puro tédio ao se levar a sério demais. Tudo melhora quando o dragão entra em cena, com a voz marcante da atriz Shohreh Aghdashloo, que é quando a aventura ganha ritmo e fisga nossa atenção. Os efeitos especiais, por sua vez, são aceitáveis, mas pouco convincentes. Há pouco uso de efeitos práticos e o CGI deixa muito a desejar na ambientação. 

Conforme a história se desdobra, Elodie começa a se livrar de seu figurino pomposo de casamento e o usa como arma para sobreviver, um simbolismo dela deixando a feminilidade de lado e assumindo uma posição de ataque. Mas a mensagem, apesar de clara, é clichê e esperada, algo que reflete o total ponto de vista masculino na direção.

O roteiro busca minimamente questionar o papel da mulher nos contos de fadas e a submissão ao rei, sendo uma personagem secundária sem voz, mas isso nunca atinge o seu auge em Donzela, que soa bem mais como um conto da Disney feito sob medida para limpar a barra da empresa do que, de fato, um filme inteligente que sabe o valor de seus questionamentos. No fim, é mais do mesmo. 

Veredito

Donzela é infantil demais para ser sombrio como deseja, óbvio demais para subverter o papel da mulher nos contos de fadas e raso demais para ser melhor do que outros filmes semelhantes. A superprodução da Netflix é apenas mais um desperdício de dinheiro em uma história sem coração, superficial e feita sob medida para agradar ao algoritmo do streaming. Mas ao menos tem uma heroína de ação que convence, uma vez que Millie Bobby Brown parece estar se divertindo no papel, e um dragão imponente, que em mãos de diretores melhores teria sua personalidade fria mais valorizada. 

O filme não é um desastre total, pois tem algumas boas ideias e uma ambição de mudar e questionar o modelo de fantasia que dominou o cinema, mas Shrek já fez isso muito melhor há mais de 20 anos. O que sobra é um filminho sem graça, sem impacto e com a profundidade de um livro infantil sonífero. Esta donzela pode se salvar, mas quem salvará o público de Donzela?

NOTA: 5/10

Leia também: Donzela | Elodie mata o dragão? Entenda o final do filme da Netflix


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