Faz parte da alma do artista querer se autoafirmar de tempos em tempos. Especialmente sendo Jennifer Lopez, com sua longa carreira como cantora e atriz. E agora, 10 anos sem um lançamento musical, a estrela da música pop retorna com seu projeto mais ambicioso e megalomaníaco, uma história de amor contada no álbum visual This Is Me…Now, uma espécie de sequência do seu álbum de estúdio de 2002, This Is Me…Then.
E o que ambos têm em comum? O relacionamento conturbado com o ator Ben Affleck (Liga da Justiça), marcado por términos, mágoas e, acima de tudo, muita paixão. Com o intuito de mostrar sua vida amorosa feliz agora, repleta de autoaceitação e amor próprio – uma vez que Lopez e Affleck estão namorando novamente depois de anos afastados – o filme do Prime Video entrega qualidade de um blockbuster da Marvel Studios com o roteiro de uma comédia romântica de baixo orçamento feita para a TV.
Índice
A trama e o elenco de This is Me…Now
O maior problema desse projeto é como ele não consegue se comportar como o longa-metragem que é vendido (até a duração é bem menor do que um longa convencional) e soa bem mais como um comercial, uma sequência de videoclipes sem muita história para contar. Lopez está apaixonada por si mesma e faz uma jornada de recapitulação pela sua vida pessoal e amorosa, sobre as dores do passado, relaçõe abusivas, a superação e a pressão estética, de forma até corajosa para uma artista desse porte, isso é fato.
Abaixar a guarda e se ver de uma forma humanizada é realmente poderoso e bastante válido, mas acontece que o filme é tão milimetricamente cronometrado, artificializado e certinho, que nada soa profundo ou mesmo real como deveria. O que temos é uma fantasia sobre o amor idealizado, uma cafonice sem igual sobre a relação dela com Affleck ao longo dos anos que, convenhamos, ninguém está de verdade interessado em saber, ou está? Mas, apesar disso, tudo se encaixa, colado pelas letras apaixonadas e pelas batidas fortes encontradas em seu novo álbum.
Como peça musical, This is Me… Now tem sequências lindíssimas de cantoria com coreografias envolventes e sensuais que fazem jus ao poder de atração de JLo. Acompanhemos ela em uma jornada por 13 músicas que vão desde desgosto, vazio, raiva e redenção, mas o filme como um todo não é tão orgânico quanto a música e o visual.
As canções são boas (nada demais!) e grudam na nossa memória como o bom pop deve ser. Nessa parte musical, não há tantos desafios para Lopez e ela parece bem confortável com suas performances em cena, mas quando o seu lado atriz pede mais palco, aí sim ela deixa a desejar. E isso é bem desconcertante, uma vez que se entregou de coração em filmes como As Golpistas.
Mais um contraste da obra do Prime Video, enquanto seus visuais são puro espetáculo inspirado em filmes clássicos como Cantando na Chuva e Funny Girl, assim como os musicais da Disney, cada sequência de dança – com toneladas de computação gráfica – nos remete direto ao datado período pop dos anos 2000 e seus videoclipes “revolucionários” para a época. Só que hoje, nada disse representa progresso e com 10 anos de pausa na carreira, era esperado que algo melhor fosse feito.
Para preencher as lacunas da ausência de uma trama mais coesa e densa, o filme possui inúmeras participações especiais como Jane Fonda, Post Malone, Sofia Vergara, Neil deGrasse Tyson, Keke Palmer, entre outros famosos do momento, representando os signos do zodíaco, que comandam e observam a vida e as decisões amorosas de Lopez de um outro universo.
O humor dessa parte funciona, ainda que não seja tão essencial para o desenrolar da narrativa em si. Ben Affleck, é claro, também está presente e interpreta um comentarista de TV bastante caricato. São muitos nomes e rostos conhecidos que deixam a produção mais cara, mais célebre, ao menos no aspecto visual. Apesar do excesso de CGI, a criação de mundo e o conceito principal da obra são impecáveis para um filme de orçamento tão limitado.
Veredito
Por vezes confuso, por vezes alegre, mas sempre ambicioso e escandalosamente exagerado, This Is Me… Now representa uma tentativa de renascimento na carreira de Jennifer Lopez com bastante coração e coragem de despir a estrela e destacar sua humanidade, seus defeitos e aspectos mais lúdicos do amor idelizado, porém, apresenta falhas significativas. A narrativa carece de coesão, não convencendo totalmente, e a atuação da artista é mais do mesmo, sem correr riscos.
Apesar de visualmente espetacular e com ótimas sequências musicais, como um conto de fadas da Disney, o filme afunda ao contar uma história de amor datada e brega, sendo salvo ocasionalmente pelas boas canções sobre corações partidos e relações abusivas. Embora Lopez seja uma figura imponente em tela, mais ferozmente soberana do que nunca, isso é fato, como parte de um álbum tão aguardado, talvez fosse mais eficaz lançar as músicas diretamente no YouTube. Mas há ternura que transborda e isso mostra o quão faminta por novidade ela está.
NOTA: 7/10
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