Crítica | As Bestas – Thriller poderoso que nos sufoca de raiva

O que começou como o sonho tranquilo de viver nas montanhas rapidamente se transforma em um pesadelo quando um vizinho xenofóbico e ambicioso decide perturbar a vida de um casal estrangeiro recém-chegado a uma pequena cidade na Espanha. Inicialmente marcado por insultos, o conflito evolui para atos de pura violência e covardia, tornando As Bestas, do cineasta Rodrigo Sorogoyen (indicado ao Oscar em 2019 pelo curta Madre), uma das mais impressionantes obras recentes do cinema espanhol.

Nessa história intensa de drama e brutalidade, cada elemento se encaixa perfeitamente. O filme oferece duas horas envolventes de imersão, agonia e revolta, que nos mantém à beira da poltrona. Sorogoyen habilmente permite que uma sensação de perigo crescente nos consuma lentamente, mas nada nos prepara para a magnitude do poderoso drama emocional que esse thriller se revela.

A trama e o elenco de As Bestas

Com uma trama aparentemente simples e um elenco enxuto, o drama destaca a importância de um roteiro inteligente e perspicaz. As Bestas prova que uma história envolvente e carregada de emoção pode transcender as limitações de orçamento. O filme, sem grande esforço, conquista o espectador através de personagens cativantes e riquezas visuais muito bem exploradas naquele vilarejo isolado e aparentemente sem lei.

Mas claro, o talento excepcional de Denis Ménochet (de Bastardos Inglórios) e da incrível Marina Foïs sustenta a narrativa. Ménochet interpreta Antoine, enquanto Foïs brilha especialmente na segunda metade do filme, destacando-se em cada diálogo emocional. O casal francês, vivendo no interior da Galícia, busca levar uma vida tranquila, mas enfrenta resistência dos moradores locais. A tensão se intensifica em um embate violento com os vizinhos, envolvendo toda a aldeia. Conforme o clima esquenta, mais tememos por suas vidas e mais a narrativa nos engole em um turbilhão de sentimentos e sensações. 

Inspirado em eventos reais, Sorogoyen utiliza cenas longas e planos sequência para capturar a explosiva escalada da tensão, algo que evidencia a qualidade fenomenal da atuação de cada membro do elenco. Ménochet transmite uma irritação de urso machucado – ao mesmo tempo fofo e violento – , contrastando com a fúria agressiva de Xan (interpretado por Luis Zahera), o vizinho mal-intencionado. No entanto, é a magnífica atuação de Foïs que conduz o filme até um desfecho brutal, que nos deixa com aquela sensação de choro entalado que dura por horas.

Para além das intensas cenas de suspense que nos deixam aflitos, o drama aborda questões cruciais como meio ambiente, ambição e xenofobia de maneira excepcional. O orgulho da família francesa colide com o preconceito dos habitantes locais, que enriquece ainda mais essa narrativa e destaca como a disputa por terras tem sido historicamente o desencadeador de brutais atrocidades e conflitos.

A tensão atinge um ponto tão elevado em determinado momento que parece nos sufocar de raiva, sendo isso apenas uma faceta do brilhantismo da condução e da forma como o roteiro permite a treta cozinhar lentamente em banho-maria. Na segunda metade, o filme adquire uma profundidade emocional extraordinária que surpreende.

Veredito

Por meio de uma direção absolutamente brilhante e um elenco poderoso, As Bestas pinta um retrato cru da brutalidade rural, nos guiando por uma narrativa violenta, angustiante e que nos sufoca do início ao fim. A experiência proporciona um teste à nossa capacidade de sentir raiva. Com um desfecho devastador, a trama penetra em nós sem esforço, nos tocando como aqueles raros filmes que, para além do entretenimento e imersão, carregam consigo uma mensagem impactante. Sem dúvida, é um dos melhores filmes espanhóis dos últimos tempos, profundamente perturbador e emocional.

NOTA: 10/10

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