Crítica | Meninas Malvadas – Festival de déjà-vu destinado à geração TikTok

O que torna um clássico verdadeiramente atemporal? Essa questão intrincada encontra diversas respostas, especialmente no universo cinematográfico, onde os clássicos são identificados por sua singularidade e capacidade de continuar influenciando a arte ao longo do tempo. E Meninas Malvadas, lançado lá em 2004, é um exemplo notável disso, mantendo sua relevância de maneira impressionante mesmo duas décadas após sua estreia.

A confirmação desse impacto perdura na versão musical de 2024, que, embora elimine algumas piadas do original, utiliza sua trama perspicaz e humor afiado para recriar uma narrativa que, francamente, não necessitava de reinvenção. Tina Fey, a mente por trás da obra, almeja agora levar o musical da Broadway, inspirado no filme original, para as telonas, introduzindo essa história cativante e inesquecível a uma geração completamente nova. O que é bacana.

No entanto, apesar do filme manter a essência do clássico da comédia, acaba se transformando em um cansativo festival de déjà-vu, oscilando entre a preservação do original e uma tentativa indecisa de encontrar uma identidade própria que nunca, de fato, funciona.

A trama e o elenco de Meninas Malvadas

O filme musical não parece motivado a explorar novos horizontes em relação ao original; pelo contrário, sua abordagem parece ser mais uma de recontar a mesma história sob a perspectiva contemporânea, inserindo algumas piadas alinhadas com o humor dos adolescentes atuais. Como afirmado no material de marketing, “não são as meninas malvadas da época da sua mãe”, e essa afirmação é incontestável, mas, ao mesmo tempo, uma mentira deslavada.

O elenco agora é mais jovem em comparação ao original, onde Lindsay Lohan, aos 17 anos, interpretava a protagonista Cady, e Rachel McAdams, aos 25, dava vida à inesquecível Regina George. Esses papéis foram agora assumidos por Angourie Rice (Mare of Easttown) e Reneé Rapp (A Vida Sexual das Universitárias), esta última se destacando particularmente nos números musicais, que, aliás, são envolventes e apresentam canções modernas que se integram de maneira divertida à trama.

Entretanto, neste filme, falta o brilho característico e o senso de humor ácido que tornaram o original memorável. Dado que o roteiro é praticamente idêntico, incluindo cerca de 95% dos diálogos, torna-se inevitável estabelecer comparações. Não há charme, tudo soa como uma apresentação de escola de um filme que fez sucesso no passado e só há humor pois lembramos das cenas originais e antecipamos o riso através da memória afetiva. As personagens são icônicas e as piadinhas sobre rivalidade feminina são muito bem colocadas, mas tudo isso já existia.

Em relação à trama, Tina Fey opta por não mexer na base sólida que conquistou o apreço dos fãs com seu roteiro esperto e perspicaz. A recém-chegada Cady Heron é rapidamente acolhida no topo da hierarquia social pelo grupo elitista de garotas populares, as “Patricinhas”, lideradas pela cruel Regina George. Quando Cady se apaixona pelo ex-namorado de Regina, Aaron Samuels, ela se torna alvo da manipulação da líder. Ao planejar derrubar Regina com a ajuda de seus amigos excluídos, Janis e Damian, Cady enfrenta o desafio de manter sua autenticidade enquanto navega pela impiedosa selva social do ambiente escolar.

É evidente que o impacto das redes sociais e a evolução na forma como os adolescentes se comunicam desempenham um papel na “maldade” retratada no filme, refletido em números musicais concebidos para plataformas como o TikTok e uma linguagem mais tecnológica em comparação com a versão original. Contudo, essa abordagem, no geral, representa uma perda significativa para o charme nostálgico da era pré-internet, essencial para a essência desta história.

Regina, originalmente uma trendsetter à frente de seu tempo, agora personificada por Reneé Rapp, parece ser uma garota excepcionalmente bonita, mas comum, desprovida da energia magnética de uma verdadeira abelha rainha. O mesmo se aplica a suas amigas, Gretchen Wieners (Bebe Wood) e Karen Shetty (Avantika), que, infelizmente, carecem de carisma e não conseguem cumprir efetivamente seus papéis. Ainda assim, as costas de Renee devem doer pois ela carrega todo o poder e encanto do filme com sua voz belíssima, mas longe da força da natureza que foi Rachel McAdams.

Quanto à direção do musical, a dupla de diretores, Samantha Jayne e Arturo Perez Jr., cumpre a desafiadora missão de transpor a energia de uma produção teatral para esta adaptação cinematográfica. Eles conseguem manter a narrativa em constante movimento, utilizando transições visuais divertidas, mas o ritmo acelerado acaba por prejudicar o desenvolvimento da trama, especialmente agora que não há narração. As músicas se destacam como pontos altos, sendo cativantes e capazes de transcender o próprio filme, nos despertando o desejo de ouvir a trilha sonora no Spotify depois. O trabalho de composição é criativo e bem executado.

Veredito

Meninas Malvadas tem diversão, frases icônicas e personagens inesquecíveis e atemporais, mas isso é o original, a versão musical deste ano, ao tentar reembalar a trama clássica de uma das melhores comédias já feitas e grande influência na cultura pop dos anos 2000, perde o charme. O resultado é um filme minúsculo e morno, um constante festival de déjà-vu destinado à geração TikTok. Apesar de não soar tão vazio e plástico quanto a alma de Regina George, a adaptação musical carece do brilho que tornou o original tão memorável. Um repeteco enfadonho, com boas canções e nada além disso.

NOTA: 5/10

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