Crítica | Dogman – O Coringa (com cachorros e drag queens) de Luc Besson

Só pela originalidade e coragem, Luc Besson merece uma salva de palmas uma vez que Dogman, sua nova empreitada cinematográfica, é bastante singular no enredo. O filme do diretor de Lucy e O Profissional combina diferentes elementos em uma narrativa que, por vezes, beira ao ridículo, e que exige demais da suspensão da descrença para que funcione.

Porém, quando o filme foca em dizer algo e passar alguma mensagem no meio do seu caos interno, é tocante, especialmente pelo desempenho brilhante de Caleb Landry Jones. Dogman não é uma jornada fácil e deve se conectar muito pouco com o público nos cinemas, mas o olhar sensível do Besson para alguns temas ainda possui seu impacto.   

A trama e o elenco de Dogman

O grande problema de Dogman é que o roteiro quer demais e não possui a capacidade de entregar nem metade das promessas. É um filme com temática LGBTQIAP+, mas que também fala sobre solidão e exclusão, sobre masculinidade tóxica e sobre abuso, mas ainda encontra espaço para falar sobre o companheirismo dos animais e a violência dos humanos.

É tanta informação batida no liquidificador da estética caótica de Besson que a grande maioria delas passam sem provocar nenhuma emoção. Separadas, talvez, atingiram melhor a nossa sensibilidade. Desde personagens exagerados e caricatos, até decisões questionáveis, nada na tela soa natural. Mas a naturalidade nunca foi uma qualidade do cinema do cineasta.

Se adicionarmos cachorros inteligentes e drag queens ao Coringa de Todd Phillips, temos então parte de onde Dogman tenta chegar. Seu protagonista – falho e com bastante história de fundo – é atormentado desde a infância por seu pai e irmão e sofre diferentes abusos, até que um deles o leva a perder os movimentos das pernas e a crescer cercado de cachorros, que logo se tornam o seu maior porto-seguro.

Ao aprender a controlar e falar com os animais, Douglas encontra sua salvação através desse amor incondicional, mas também os usa para seus mais terríveis planos de vingança. A narrativa é composta por flashbacks que reconstroem – na presença da psicóloga policial – o perfil de um suposto criminoso e seu passado conturbado. 

Através dessa premissa, Besson desenvolve uma narrativa pouco crível, estranha e abarrotada de sentimentos conflitantes, mas que se sobressai pela melhor performance da carreira de Caleb Landry Jones. Enquanto a trama se desdobra sem pé nem cabeça, Jones dá o seu melhor em cada cena. 

Apesar da estranheza, há um clima denso, triste e pesado pairando sobre a trama e essa sensação, ainda que forçada, nos faz querer saber onde a história vai nos levar. A condução de Besson é bastante artística e pouco preocupada com o cinema comercial, como se o diretor, já com anos de carreira, decidisse criar algo experimental e bizarro, através de um olhar menos dependente de explicações. Os momentos mais perturbadores de Dogman são verdadeiramente desconfortantes, uma pena a montagem tão acelerada não aproveitar o suficiente dessa loucura visual e estética. 

Veredito

Dogman não deve ser o favorito das premiações e sem dúvida promete polarizar os espectadores, mas talvez seja essa a maldição de ser original. O filme de Luc Besson nos faz comer no pratinho da estranheza e do absurdo enquanto se esforça para nos emocionar, mas sem muito sucesso. Ainda assim, Caleb Landry Jones carrega o filme e deita e rola no papel bizarro que é dado. Diferente, criativo, mas que se deixa levar pelo caos narrativo e pela falta de naturalidade. Um verdadeiro espetáculo de circo que, mesmo fascinante e sedutor, nos faz querer rir no fim das contas.

Besson fareja o entretenimento com outro olhar, incompreendido pela grande parte do público, mas isso não significa que toda a sua arte seja valiosa. Dogman quer dizer muito e se esforça ao extremo para deixar isso evidente, mas, na prática, bate tanta coisa aleatória no liquidificador da estética excêntrica do cineasta que entrega uma bebida diluída e sem qualquer pedigree.

NOTA: 6/10

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