Crítica | Quem Fizer Ganha – Uma história sobre perdedores que sabem exatamente quem são

CRÍTICA SEM SPOILERS DO FILME QUEM FIZER GANHA

Os maiores entusiastas do futebol certamente já ouviram falar na fatídica partida entre as seleções da Austrália e Samoa Americana em 11 de abril de 2001. No episódio em questão, o time polinésio perdeu para  seus vizinhos australianos de 31 a 0, configurando a maior derrota registrada em jogos organizados pela FIFA (Federação Internacional de Futebol Associado).

Sem dúvidas, uma derrota como esta acabaria sendo memorável. Aparentemente, existe uma propensão no comportamento humano responsável por tornar o fracasso alheio algo interessante e inesquecível. Por outro lado, o sucesso não parece cativar tanto assim, passando muitas vezes despercebido. 

Convenhamos, se não fosse o impressionante placar de 31 a 0 de 2001, Taika Waititi (Thor: Ragnarok, Jojo Rabbit) não teria se interessado pela seleção de Samoa Americana a ponto de contar a jornada do time rumo ao sucesso no filme Quem Fizer Ganha. O diretor, no entanto, não tenta esconder essa verdade em seu novo trabalho.

Uma História sobre Perdedores

O filme é, antes de mais nada, uma história sobre perdedores. A forma como Waititi trabalha este conceito ao longo da trama, inclusive, é um dos pontos mais altos da obra. Para estabelecer a conexão entre os jogadores da seleção de Samoa Americana e seu novo técnico, Thomas Rongen (Michael Fassbender), o roteiro explora justamente as derrotas mais memoráveis das vidas de seus personagens. 

O que o diretor neozelandês tenta fazer de diferente é dar espaço para as pequenas vitórias alcançadas por aquelas pessoas. Assim, o filme se passa dez anos após a partida contra a Austrália. Na história, a seleção de Samoa Americana luta pela sua primeira vitória em jogos oficiais, tentando uma classificação para a Copa do Mundo de 2014. 

Para contar essa história, Taika Waititi faz bastante uso do seu humor peculiar com altas doses de nonsense. Diferentemente de outras obras suas, porém, Quem Fizer Ganha sofre um pouco ao tentar equilibrar a comédia com o drama (algo que Taika costuma fazer muito bem em seus filmes). As piadas aqui soam um pouco exageradas, e apenas no final o longa parece encontrar um tom adequado — sendo a carga dramática e não a cômica responsável por isso. 

Um filme sobre Essência

Importante dizer que Quem Fizer Ganha é um filme sobre essência. Isto é, somos apresentados a um grupo de pessoas que não estão nem um pouco dispostas a abrir mão de quem são em prol da vitória. Assim, Waititi acerta em cheio ao apresentar costumes polinésios ao espectador ao longo da narrativa. Da religiosidade local até os pratos típicos, todos esses elementos são utilizados de forma muito precisa na trama. Dessa forma, aquele grupo de perdedores vai adquirindo camadas cada vez mais humanas, de maneira que a seleção de Samoa Americana ganhe algo muito mais importante que um simples jogo: voz própria e identidade perante um público que desconhece suas tradições. 

Um ótimo exemplo é a personagem Jaiyah Saelua (Kaimana). Uma das figuras mais emblemáticas do longa, Jaiyah foi a primeira jogadora transexual a competir em uma seleção masculina nas eliminatórias da Copa do Mundo. Na cultura polinésia, ela seria uma fa’afafine (uma pessoa que é atribuída ao gênero masculino ao nascer, mas que depois passa a se identificar como uma mulher). Na tradição de Samoa Americana, esses indivíduos são muito respeitados e encorajados por suas famílias. 

Dessa maneira, ao conhecermos a personagem e descobrirmos sua relação com o pior time de futebol do mundo, a seleção de Samoa Americana passa a ser muito mais do que “apenas a equipe que perdeu de 31 a 0 para a Austrália”. Taika consegue dar voz não só a jogadores de um time de futebol, mas a uma cultura inteira. Esse, sem dúvida, é o ponto mais alto de sua obra.

Conclusão

Por mais que não seja totalmente desprovida de clichês motivacionais à la Ted Lasso, Quem Fizer Ganha consegue cativar com uma história sobre perdedores que sabem exatamente quem são e o que querem. Longe de ser o melhor trabalho de Taika Waititi, mas ainda assim uma obra carismática e bastante autoconsciente. 

Nota: 8/10

Leia também: Quem Fizer Ganha | Conheça a história real que inspirou o filme


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