Crítica | A Fuga das Galinhas 2 – Netflix comercializa a nostalgia em sequência sem sabor

Duas décadas após o lançamento do icônico A Fuga das Galinhas, a Netflix ousou assumir a difícil missão de criar uma sequência que capturasse a magia do original. Infelizmente, A Fuga das Galinhas 2: A Ameaça dos Nuggets começa tropeçando ao colocar Ginger, Rocky, Bunty e Babs em ação sem o elenco completo do original. Este é apenas o primeiro ovo quebrado em uma longa lista de erros cometidos neste filme.

O resultado é uma sequência insignificante que repete o que o público amou no original, sem acrescentar novidades ou capturar o carisma do filme anterior. Tudo parece um déjà vu cinematográfico, como se um algoritmo da Netflix tivesse tentado misturar stop-motion com uma fórmula já desgastada de um Round 6 animal. Um desperdício de tempo, mesmo dentro de uma animação de qualidade técnica admirável.

A trama e o elenco de A Fuga das Galinhas 2: A Ameaça dos Nuggets

Fica evidente a dificuldade de A Fuga das Galinhas 2: A Ameaça dos Nuggets em se desvincular da sombra e impacto cultural do seu predecessor. Apesar de algumas boas ideias aqui e ali, a narrativa parece uma reprise enfadonha no galinheiro, tentando honrar a essência dos personagens sem escapar da repetição exagerada. O desafio de manter o carisma do original em uma era diferente parece subestimado pelo filme, que não demonstra grande preocupação com a mudança de público e tempo.

As performances de vozes de Thandiwe Newton e Zachary Levi, por sua vez, apesar de esforçadas, não conseguem preencher a lacuna deixada por Julia Sawalha e Mel Gibson. A introdução da filha de Ginger, Molly (Bella Ramsey), traz um elemento novo à história, mas rapidamente a trama se afunda na fórmula familiar de obstáculos a serem superados pela corajosa adolescente. Embora faça referências a filmes como Missão: Impossível e apresente vilões clichês à la James Bond (com o retorno bobo e desnecessário da Tweedy), nada alcança a originalidade e eficácia da primeira aventura das galinhas.

O filme carece de propósito, ainda que tenha boas reflexões sobre consumismo, não tanto quanto o primeiro, claro, que claramente bebe da fonte de fábulas como A Revolução dos Bichos, de George Orwell. Há um pensamento sendo construído sobre a indústria do consumo animal e, através de uma fazenda super colorida e artificial, vemos cair por terra esse discurso de “galinhas criadas com felicidade”. No fim, tudo é muito hipócrita. Não é um filme pensado para nos fazer parar de comer carne ou algo do tipo, mas ajuda a tocar algumas partes adormecidas do nosso coração e ter um olhar mais atento sobre isso. Para as crianças, é uma mensagem super atual e bacana, ainda que trivial.

Apesar do roteiro pouquíssimo inspirado (que mais parece ter sido escrito por inteligência artificial), os aspectos técnicos continuam impecáveis, evidenciando o avanço da tecnologia stop-motion. Sam Fell, experiente nesse campo, conduz a trama com maestria, embora não consiga ir além do lugar-comum. Uma produção que, embora mantenha a qualidade técnica, evita riscos que poderiam redefinir o clássico. Uma reinvenção da roda era necessária aqui, mas em vez disso, entregaram um filme que passará despercebido na vastidão do streaming, infelizmente.

Veredito

Pouco inspirado e receoso de inovar, A Fuga das Galinhas 2: A Ameaça dos Nuggets parece confinado ao galinheiro genérico da Netflix, onde a comercialização da nostalgia muitas vezes prevalece sobre a criação de algo verdadeiramente novo. Apesar de brilhar nos aspectos técnicos e na direção competente de Sam Fell, o filme peca por não ousar dar uma nova trajetória ao clássico que deixou sua marca em uma geração.

E neste cenário onde o saudosismo é frequentemente utilizado como moeda de troca, A Ameaça dos Nuggets parece mais uma mercadoria na prateleira do streaming do que uma obra capaz de criar um novo legado. Ao escolher pisar em ovos ao invés de voar para novas alturas, a Netflix, nesse caso, parece ter se esquecido de que, para criar uma sequência verdadeiramente memorável, é necessário mais do que uma receita antiga e personagens familiares. O resultado final, embora tecnicamente impressionante, não consegue atingir o nível de impacto e originalidade que sua predecessora conquistou de forma inigualável.

NOTA: 6/10

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