Crítica | Godzilla Minus One – O filme definitivo que o monstro merece

Godzilla Minus One não apenas eclipsa, mas redefine a própria essência do Godzilla no cenário cinematográfico, tornando a produção americana de 2014 quase trivial em comparação. Este épico japonês, projetado com ambição e paixão, entrega um filme definitivo que eleva o monstro icônico a novas alturas.

E se engana quem acha que este é só mais um filme de kaiju, muito pelo contrário, Godzilla Minus One abraça os horrores da Segunda Guerra Mundial para o Japão e utiliza engenhosamente essa metáfora em prol de fazer uma autoanálise e, ao mesmo tempo, alfinetar os EUA.

A trama e o elenco de Godzilla Minus One

Com um orçamento que não chega a 10% dos filmes americanos do gênero, Godzilla Minus One surpreende ao alcançar um nível de qualidade excepcional. O roteiro se destaca não apenas por sua trama envolvente, mas também pela caracterização profunda dos personagens e pela exploração emocional que cativa e comove. Diferente das abordagens ocidentais, Godzilla aqui personifica não só a grandiosidade, mas também a vilania colossal. O monstro, cruel e poderoso, representa a natureza destrutiva e a vulnerabilidade humana, estabelecendo uma alegoria impactante da Segunda Guerra Mundial e das bombas atômicas.

O filme não se contenta com menos, utilizando homenagens ao clássico de 1954 e uma narrativa que ousa ultrapassar limites ainda mais sombrios. Godzilla assume uma forma aterrorizante e perversa, se destacando não apenas pela escala impressionante, mas pela habilidade de causar calafrios através de efeitos visuais cuidadosamente trabalhados. O aspecto humano do enredo, centrado no ex-piloto kamikaze Kōichi Shikishima, interpretado por Ryunosuke Kamiki, adiciona camadas de profundidade, explorando temas de vingança e redenção em meio à devastação provocada pelo kaiju.

O diretor Takashi Yamazaki, inspirado por Spielberg e Miyazaki, constrói uma narrativa envolvente, repleta de suspense e, ocasionalmente, melodrama. Os poderes regenerativos de Godzilla são destacados através de efeitos visuais que conferem uma textura tátil e uma presença animalesca à criatura. O design do monstro, combinando elementos da era Heisei e da versão da Legendary, adiciona uma camada visual fascinante.

Tal como acontece com muitos filmes e séries de Godzilla, obviamente poderia haver mais Godzilla em Minus One. Em vez disso, o foco está quase totalmente no desenvolvimento do personagem – ou seja, o arco de Shikishima, de covarde a herói lutador de kaiju e homem de família. O roteiro trabalha com excelência seus humanos, às vezes até mais do que o necessário, uma vez que nem todos do elenco entregam performances tão marcantes assim. Kamiki, por exemplo, é o elo mais fraco e o que possui maior tempo de tela. 

Apesar de abranger um clima tenso de época e as dores causadas pela guerra, há uma energia de otimismo na história que emociona e que nos faz torcer pelos personagens – e quando o tema Godzilla de Akira Ifukube entra em ação, é difícil não se empolgar. O clímax épico e a trilha sonora poderosa nos fazem ficar na ponta da cadeira. Os efeitos visuais são absurdos de belos.

Veredito

Num panorama em que Hollywood muitas vezes prioriza o espetáculo em detrimento da profundidade, Godzilla Minus One dá uma aula e surge como um exemplo luminoso do que o cinema japonês é capaz de oferecer. Ao longo de duas horas, sob a direção engenhosa de Takashi Yamazaki, o filme não apenas diverte e impacta, mas também encapsula a essência vibrante do cinema asiático. A escala impressionante do filme torna seu roteiro ainda mais ambicioso, ao mesmo tempo que é belo e fascinante, ainda é assustador e emocional.

E no ano em que produções como Oppenheimer negligenciam a perspectiva japonesa, Godzilla Minus One emerge como a personificação do trauma e da culpa da guerra. Esta metáfora eficaz não só emociona, mas também destaca a força imensa do cinema japonês, tratando seu ícone cultural com a reverência que ele merece. Com inteligência e criatividade, o filme se destaca como o definitivo para o kaiju mais célebre da sétima arte. Um triunfo que, ao contrário de muitos blockbusters por aí, deixa uma marca indelével, reforçando a importância de contar histórias de perspectivas diversas, sem perder, claro, o fator espetáculo.

NOTA: 9/10

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