Crítica | Meu Nome é Gal é muito mais que uma viagem ao passado

Cinebiografias podem cair facilmente nas garras da previsibilidade. Para ser interessante, é necessário que o longa explore a vida de seu protagonista sob uma ótica original, pouco óbvia, e que justifique o levantamento cinematográfico sobre a história da personalidade em questão. Caso contrário, o material não passará de uma reconstituição audiovisual rasa e monótona sobre episódios vividos por seu personagem principal.  Para falar sobre uma das vozes brasileiras mais importantes de todos os tempos, as diretoras de Meu Nome é Gal, Dandara Ferreira e Lô Politi, optaram por uma janela de tempo curta, mas muito significativa na vida de Gal Costa. Afinal, o período que vai de 1966 a 1971 não foi marcado apenas pelo desabrochar de Gal como artista, mas também estabeleceu a cantora como uma revolucionária na história de nosso país. 

Essa escolha não poderia ser mais acertada. Meu Nome é Gal não faz questão de revisitar a infância da cantora na Bahia, quando a mesma ainda era Maria da Graça, muito menos de recriar o momento em que Gal descobre a vocação para a música. Por outro lado, há um grande foco narrativo no período em que a protagonista precisou soltar a voz para se opor à Ditadura Militar Brasileira. 

No começo, somos apresentados a uma jovem mulher que deseja apenas cantar. No fim, temos uma personagem que se desenvolveu o suficiente para saber que cantar não é apenas seu desejo, mas seu dever. Essa jornada é muito bem trabalhada ao longo do filme, uma vez que o crescimento da personagem em paralelo à trama é sutil e não se limita a pontos de virada convenientes. 

Falando em sutileza, vale elogiar o cuidado da direção em algumas cenas específicas, principalmente nas que envolvem outros tropicalistas como Caetano Veloso (Rodrigo Lelis), Gilberto Gil (Dan Ferreira) e Maria Bethânia (interpretada pela diretora Dandara Ferreira). Nomes de peso como esses poderiam facilmente fazer com que o espectador perdesse o foco. No entanto, a relação dos artistas com a Gal Costa de Sophie Charlotte é leve e explorada, principalmente, em trocas de olhares, toques gentis e palavras carinhosas. Assim, tais personagens aparecem na história como velhos amigos, sendo mais que meros coadjuvantes de luxo. 

Felizmente, a atenção concentra-se toda em Gal. Nesse sentido, Sophie Charlotte faz jus aos holofotes e se torna a alma do filme. A atriz cria sua própria versão da cantora em uma interpretação que envolve muito respeito e admiração. No que diz respeito às habilidades musicais, a voz de Charlotte não deixa nada a desejar. Sua voz e a de Gal Costa dividem espaço no longa, sendo muitas vezes difícil saber quando uma sai e a outra entra. No mais, a representação da tropicalista é carregada de leveza, sensualidade e determinação.

Por último, mas não menos importante, é válido fazer uma nota de destaque para o design de produção e edição do filme, que nos fazem cair de cabeça em um Brasil dominado por loucos (fossem eles militares ou oposição). Esse aspecto reflete diretamente no desenvolvimento da protagonista, uma vez que Gal precisou ser um pouco menos “sã” para transformar sua voz em instrumento revolucionário. 

Muito mais que uma simples viagem ao passado, porém, Meu Nome é Gal soube como apresentar sua protagonista ao público. A direção em conjunto com a atuação de Sophie Charlotte são responsáveis por uma obra auto-consciente que consegue explorar a vida de uma grande personalidade sem cair em clichês ou caricaturas. Mais que isso, o filme consegue atingir seu objetivo ao ressaltar a importância de Gal Costa para o Brasil e o mundo. 

Nota: 9/10

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