Crítica | Bird Box Barcelona – Aprisionado na caixinha do tédio

Bird Box Barcelona tenta desesperadamente ser uma espécie de spin-off com a promessa de expandir a franquia e oferecer novas reviravoltas, mas não foge de ser uma sequência um pouco tardia e desconexa da adaptação de sucesso da Netflix, Bird Box. Dirigido pelos irmãos David e Àlex Pastor, o filme leva a trama para o exterior, apresentando histórias individuais de caos global provocado por entidades sobrenaturais.

Dessa vez, sem a presença marcante de Sandra Bullock e com pouca ligação com o romance subsequente de Josh Malerman, Malorie, o longa explora facções cultistas e paralelos religiosos, oferecendo um olhar mais misterioso em relação ao filme original. Funciona, só não é suficiente.

A trama e o elenco

É importante saber que Bird Box Barcelona – para o bem e para o mal – se distancia da trama central do filme original, adotando uma abordagem antológica simultânea que até tem seu viés divertido. O roteiro leva a premissa para a Espanha e se afasta dos cenários americanos defasados. Essa mudança geográfica, no entanto, resulta em uma desconexão significativa do criativo material de base do livro, se aproximando ainda mais do concorente Um Lugar Silencioso – algo bastante preguiçoso.

Apesar disso, o filme se propõe a explorar histórias individuais em diferentes partes do mundo, focalizando as entidades misteriosas que ameaçam a humanidade. No entanto, infelizmente, falha em oferecer uma narrativa original e envolvente, desperdiçando a oportunidade de expandir o universo estabelecido para um caminho superior. Em outras palavras, se prende na própria jaula que cria.

O protagonista (e um pouco antagonista) da vez é Sebastián, interpretado com maestria por Mario Casas (Um Contratempo), um ex-engenheiro que tenta proteger sua filha Anna (Alejandra Howard) das ameaças que assolam a Europa durante o apocalipse. Embora as performances se destaquem – especialmente da ótima Georgina Campbell (Noites Brutais) -, o roteiro carece e muito de profundidade, resultando em personagens mal desenvolvidos e em situações extremamente previsíveis. A falta de suspense faz com que a narrativa pareça estagnada.

A estrutura do roteiro, que alterna entre eventos atuais e flashbacks, acaba se tornando redundante, diminuindo o impacto emocional e revelando uma previsibilidade desconcertante. Embora explore temas sólidos, como a tendência religiosa de interpretar eventos desconhecidos como sinais divinos sem considerar os perigos reais e a volatilidade das emoções humanas, sua execução deixa a desejar.

Os diretores até se esforçam, mas não conseguem manter o ímpeto narrativo, dependendo excessivamente de explosões e eventos impactantes para tentar manter o interesse do público boa parte do tempo. Outro aspecto problemático é sua aparência visual indistinta. Os próprios cineastas já demonstraram uma habilidade maior em transmitir o desespero e a melancolia do fim dos tempos em seus trabalhos anteriores. Bird Box Barcelona parece perder sua identidade pelo caminho e se assemelha a uma distopia pós-apocalíptica genérica, ou seja, nada de novo no front e nenhuma nova informação que possamos nos apegar.

Veredito

Longe de ser o fenômeno que o original foi – o que evidencia ainda mais a decadência iminente da Netflix em engajar seu público – Bird Box Barcelona até apresenta performances confiáveis e envolventes, encaixando-se bem no universo de terror e fantasia da franquia. No entanto, a falta de engenhosidade no enredo o mantém aprisionado na caixinha do tédio.

Talvez isso seja resultado de uma história reduzida, feijão com arroz e autoexplicativa para atender às demandas de tempo e às novas preferências do público disperso da plataforma, ou talvez seja mesmo apenas um derivado feito para agradar o algoritmo. Infelizmente, esse compromisso afeta a qualidade da experiência, mesmo com alguns temas interessantes.

Pode (e certamente irá) agradar aos fãs da franquia – uma vez que mantém o mistério intrigante do anterior – mas, neste caso, não captura a nossa atenção. No lugar disso, nos coloca em uma jaula repleta de previsibilidades e decisões frustrantes. Bom, tem filmes que, às vezes, é melhor mesmo vendar os olhos e passar longe.

NOTA: 6/10

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