O universo da literatura frequentemente encontra seu caminho para as telas de cinema de forma deliciosa, e O Portal Secreto – que chega ao Brasil pela Imagem Filmes -, não é exceção. Com uma clara inspiração em grandes sucessos como Harry Potter, o filme apresenta uma história mágica repleta de aventuras e mistérios. Embora pareça uma colagem de elementos familiares, a adaptação da saga literária de Tom Holt nos presenteia com uma mistura de aventura e comédia romântica que se revela como uma experiência surpreendentemente divertida que, mesmo caótica em sua essência desorganizada, funciona.
A trama e o elenco
No centro de tudo temos a história de Paul Carpenter (Patrick Gibson, de Sombra e Ossos) e Sophie Pettingel (Sophie Wilde, do ainda inédito terror Fale Comigo), estagiários humildes e maltratados que iniciam suas jornadas na misteriosa empresa londrina JW Wells & Co. Aos poucos, eles se tornam conscientes de que seus empregadores estão longe de serem convencionais, pois combinam estratégias corporativas modernas com antigas práticas mágicas. A trama, movida por uma série de coincidências, revela a verdadeira agenda por trás dessa vasta corporação e resgata aquela divertida estética de locais como o Ministério da Magia, por exemplo.
Embora O Portal Secreto possua uma clara inspiração em inúmeros outros clássicos do gênero, como Artemis Fowl e Desventuras em Série, é necessário destacar que, mesmo seguindo uma fórmula similar, o filme consegue se sustentar por conta própria. A obra de Holt, adaptada ao cinema com roteiro assinado pelo próprio autor em parceria com Leon Ford, traz um universo engenhoso que fisga a nossa atenção. Os primeiros 15 minutos são maravilhosos, inteligentes e intrigantes, prometendo uma aventura aos moldes clássicos de jornada do herói. No entanto, os próximos 40 minutos podem decepcionar, perdendo um pouco do ímpeto inicial.
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Nesse contexto, o grande elenco se destaca como um dos pontos altos. Christoph Waltz (Grandes Olhos), conhecido por sua interpretação carismática de vilões, entrega mais uma atuação marcante como o CEO da JW Wells & Co., Humphrey Wells. Sam Neill (Jurassic World: Domínio) empresta seu carisma habitual ao gerente intermediário Dennis Tanner, proporcionando momentos cômicos. No entanto, é Patrick Gibson, no papel do protagonista, quem rouba a cena com seu desempenho acima da média. O elenco talentoso eleva a narrativa, adicionando camadas de complexidade aos personagens e suas aventuras por esse universo hostil, mesmo dentro de um filme tão pouco conhecido e menos ainda blockbuster.
E por falar em investimento, do ponto de vista técnico, o filme impressiona com belos cenários e uma fotografia realmente deslumbrante – mais uma vez vemos uma Londres cinza e fria. O mundo fantástico criado é criativo e engenhoso nas escolhas, transportando o espectador para uma atmosfera repleta de detalhes minuciosos desse ambiente. Apesar de um orçamento modesto, o design de produção é impecável, e os efeitos especiais até surpreendem. Cerejinhas do bolo para a história ficar ainda mais saborosa. O ritmo movimentado, conduzido com vigor pelo pouco conhecido Jeffrey Walker, nos mantém imersos na trama, apesar de algumas oscilações ao longo do percurso.
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Veredito
Embora haja claras influências de Harry Potter e outros clássicos do gênero, O Portal Secreto consegue se destacar como uma aventura familiar charmosa, divertida e às vezes espirituosa. Uma surpresa ótima, com mistérios sedutores que nos transportam direto para as páginas amareladas daquele livro que amamos tanto que não desgrudamos.
Ainda que tenha uma narrativa corrida e um tato quanto desorganizada da metade para o final, a história funciona graças ao seu elenco talentosíssimo. Essa mistura peculiar de elementos fantásticos e comédia romântica definitivamente merece ser descoberta pelo público, mas há uma chance desse filme passar despercebido, infelizmente.
Por fim, mesmo que não atinja a grandiosidade de suas influências, possui seus próprios méritos e promove um sentimento de nostalgia e diversão, que irá encantar tanto os fãs de fantasia quanto aqueles em busca de uma boa dose de entretenimento. Sem dúvida eu veria uma sequência. E ah, tem cena pós-créditos!