Crítica | Um Dia 5 Estrelas – Nem GPS faz a comédia encontrar seu rumo

Como uma corrida de aplicativo mecanizada, rotineira e sem grande impacto em nossas vidas, Um Dia 5 Estrelas é uma produção nacional da Paris Filmes que se desenrola nas charmosas paisagens da capital dos gaúchos. Imerso nesse cenário urbano, o filme nos leva a acompanhar a jornada de amadurecimento de Pedro Paulo, interpretado com maestria por Estevam Nabote (Porta dos Fundos), enquanto se aventura por esse universo peculiar dos motoristas.

E dessa premissa básica, o protagonista, impulsionado pelo desejo de realizar o sonho de sua mãe, vivida por Nany People, de comemorar seu aniversário em Buenos Aires, decide embarcar na aventura de ser motorista de aplicativo, conduzindo seu valioso Opala dos anos 1970, uma relíquia deixada por seu falecido pai, pelas sinuosas ruas da cidade.

O longa é, primordialmente, uma comédia leve, cujo objetivo principal é provocar risos no público e ganha muito por não desperdiçar seu tempo além disso. No entanto, o humor adotado no filme, embora muitas vezes enverede pelos terrenos do pastelão, possui momentos instantâneos que, por vezes, podem soar forçados.

O roteiro, ainda que apresente situações constrangedoras e uma trama, diga-se de passagem, bastante superficial, encontra sua maior força justamente na habilidade de arrancar essas risadas despretensiosas, apesar de algumas piadas exageradas e desprovidas de graça. O elenco se empenha em extrair o máximo de proveito dessas situações embaraçosas e, por incrível que pareça, funciona.

Desde as primeiras cenas, somos brindados com uma exibição das locações escolhidas para a história. Porto Alegre se revela em toda sua beleza simplista, capturando com destreza a essência e o charme dessa cidade tão pitoresca, o que confere, claro, um pano de fundo divertido para as desventuras do protagonista.

No que tange às atuações, a comédia enfrenta algumas dificuldades pontuais em relação à naturalidade do elenco. O filme depende, em grande parte, do humor físico, resultando em momentos hiperbólicos e um tanto quanto engessados. No entanto, é inegável o brilhantismo de Estevam Nabote no papel principal. Sua performance carismática e entrega na interpretação conferem uma dose de encanto e diversão. Se o título cita cinco estrelas, certamente Nabote é uma delas.

A direção de Hsu Chien (Quem Vai Ficar com Mário?), por sua vez, merece louvor, revelando-se competente, ágil e sagaz. Chien se mostra um excelente contador de histórias do cinema brasileiro, e sua maestria é evidente em diversas cenas do filme. No entanto, ocasionalmente, o diretor peca ao exagerar nas piadas infantilizadas. Esses momentos quebram o ritmo da narrativa, prejudicando o aproveitamento pleno do potencial cômico da toda a obra.

Embora seja uma comédia bastante convencional, o roteiro parece girar em círculos, sem avançar em direção a um objetivo claro. Essa ironia não passa despercebida, considerando que o protagonista é, justamente, um motorista de aplicativo cuja função é conduzir pessoas a seus destinos. A trama acaba se perdendo em meio a confusões e situações desconexas, prejudicando a fluidez do enredo e o desenvolvimento dos personagens.

Contudo, em meio a essas ressalvas, é impossível não mencionar a performance hilária de Danielle Winits, que rouba a cena com sua presença magnética. A atriz demonstra habilidade em lidar com o humor pastelão, e suas expressões faciais e entrega cômica são verdadeiramente dignas de elogios. Sua participação traz um frescor e dinamismo ao filme, evidenciando seu talento em papéis desse tipo.

Veredito

Em suma, Um Dia 5 Estrelas é um besteirol vazio em conteúdo, mas rico no senso de humor sarcástico, que se enquadra perfeitamente nas comédias descontraídas, ideais para sessões da tarde em família. De fato, uma produção inofensiva, capaz de proporcionar momentos alegres, mas só com o bom empurrãozinho do elenco talentoso.

O longa poderia ter sido bem mais divertido se tivesse um roteiro mais elaborado, que explorasse também a dimensão emocional dos inúmeros personagens peculiares. Embora a comédia pastelão seja o elemento central, o filme deixa escapar oportunidades de percorrer outros elementos narrativos que poderiam enriquecer ainda mais a experiência do espectador sem deixar esse gostinho amargo de perda de tempo.

Ainda assim, com suas belas locações, o esforço do elenco central e a competência na direção de Hsu Chien, Um Dia 5 Estrelas, felizmente, não é uma tragédia completa transvestida de dramédia. É um filme que entretém de forma básica, mas poderia ter ido além e aproveitando melhor seu potencial humorístico se tivesse um roteiro mais consistente. Se o dia tem 5 estrelas, bom, o filme em si merece apenas duas.

NOTA: 5/10

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