Crítica | Guardiões da Galáxia Vol. 3 – Uma despedida grandiosa

Já faz um tempo que a Marvel não é mais a mesma. A saturação do gênero de super-herói existe, porém, mais do que isso, o próprio estúdio esqueceu o que fez seus filmes tão grandiosos e o que garantiu que tantos fãs ao redor do mundo lotassem as salas de cinema em pré-estreias, noites de lançamento e por semanas depois disso. A magia desses filmes nunca esteve nas participações especiais ou na expectativa do que viria a seguir, isso sempre foi a camada superficial de filmes essencialmente bons. A Marvel chegou aonde chegou porque soube contar histórias que não dependem de grandes explosões ou capas esvoaçantes. E como é bom ver a Marvel de volta às raízes em Guardiões da Galáxia Vol. 3.

A despedida da melhor equipe da Marvel é centrada em Rocket, que está com a vida por um fio por conta de um dispositivo inserido perto do seu coração por um inimigo do passado. Por mais que a história saiba dividir muito bem o tempo de tela de todos os membros do time, Rocket é definitivamente o protagonista e a dinâmica disso torna tudo bem interessante, especialmente com a inserção de flashbacks do seu passado. E essa é apenas uma ligeira novidade de tudo que o diretor e roteirista James Gunn traz para as telas.

Direção psicodélica

De modo geral, o terceiro capítulo dos guardiões é a epítome de Gunn na condução de uma história que sabe equilibrar momentos hilários, movidos por um ótimo timing cômico, muita emoção e ainda mais ação. A própria direção dos momentos frenéticos tem uma nova elevação nesse terceiro filme, com a câmera acompanhando tudo de perto, seguindo cada movimento mirabolante dos personagens. Por vezes, é uma experiência extremamente sensorial, mas em outras é definitivamente um gatilho vertiginoso.

O mesmo se aplica às escolhas visuais de todo o resto do filme. Seja no enquadramento angular; na forma como Gunn movimenta as câmeras com paciência; e especialmente nas ambientações diversificadas. O segundo longa dos Guardiões já era bastante eficiente nisso, trazendo uma apresentação pitoresca de novos mundos, mas, neste terceiro, James Gunn se apoia na psicodelia que adora, relembrando muito Esquadrão Suicida. A fotografia funciona da mesma forma (Henry Braham é o responsável e já havia trabalhado com Gunn no segundo filme dos Guardiões e também no longa da DC).

Isso garante cenas de ação tão boas quanto as de Esquadrão Suicida, mas em um escopo ainda maior. Tem um plano sequência em específico que é uma das cenas mais divertidas e incríveis de toda a trilogia, seguindo totalmente o estilo que James Gunn adora: exagerado, explosivo, gosmento e frenético. Parece tirado diretamente de uma daquelas páginas duplas de quadrinhos e é tão bem montado que tudo parece real. Inclusive, o CGI do filme é espetacular (até nisso a Marvel parece ter voltado).

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O grande novo personagem

Aliás, a adição de Adam Warlock (Will Poulter) funciona muito nesses momentos explosivos. Em questões de narrativa, o personagem é completamente subutilizado e beira o ridículo quando se tem a base dos quadrinhos. Mas até mesmo os fãs das HQ’s vão admitir que o personagem funciona muito bem dentro deste universo estabelecido por James Gunn, em que tudo beira o caricato. Às vezes da pior maneira possível, mas ainda assim puxando um sorriso de todo mundo na sala de cinema.

Em contraposição, o personagem tem ótimas cenas de ação (algumas que até parecem seguir a escola Zack Snyder) e é muito engraçado, ainda que o seu humor comece a ser redundante com o de Drax depois de alguns minutos. Falta um pouco mais de variedade no repertório de Gunn nesse quesito, porque seus filmes, tanto da Marvel quanto da DC, já tem o bastante de homens burros e trogloditas. No fim, a sensação que fica com Warlock é que ele deveria ter sido inserido mais cedo na trilogia.

Uma história do Rocket

Entretanto, tudo isso fica em segundo plano dentro da narrativa principal que Gunn quer contar, tendo como foco um fio emotivo em volta de Rocket. Na maior parte do tempo, isso funciona muito bem. O passado traumático do personagem é destrinchado e é fácil criar um elo com os coadjuvantes desses flashbacks. É dentro dessa narrativa e, claro, na relação dos Guardiões da Galáxia que James Gunn faz seu melhor trabalho. Ele entende bem a dinâmica do grupo, como trabalhar diálogos entre eles e especialmente como manter um humor fluido entre os personagens. Vez ou outra, há uma redundância de tudo isso, especialmente quando se tratam de Drax e Mantis, mas por ser uma última aventura você apenas acaba relevando.

O único problema dessas narrativas em grupo é quando eles se separam e, dentro do grande esquema das coisas, o diretor apresenta alguns conflitos que soam desnecessários, ainda que um pouco engraçados. A burrice de alguns personagens é facilmente explicada e pode ser algo até lúdico para vários espectadores, mas em mim causou um bom cansaço. O mesmo dá para ser dito do vilão, o Alto Evolucionário, vivido por Chukwudi Iwuji. Caricato, um pouco assustador e bastante cansativo.

Mas, no fim das contas, todos os pequenos problemas da despedida dos heróis parecem apenas detalhes dentro dessa jornada divertida, emocionante e amorosa.

Uma despedida mágica

Uma boa trilha sonora de fundo, sorrisos, lágrimas e uma nostalgia latente logo na saída do cinema. É assim a despedida da melhor equipe do Universo Cinematográfico da Marvel. Uma que vai deixar vários fãs com lágrimas nos olhos e querendo que o fim nunca chegue, quase do mesmo jeito que Toy Story 3 fez. E é também a Marvel voltando à vida e mostrando que não são super-heróis que estão saturados, mas sim as histórias que dependem de autorreferências.

Em Guardiões da Galáxia 3 isso não é necessário. Não existem easter-eggs, não há aparições especiais e não tem nem mesmo cenas pós-créditos preparando o futuro do MCU. Em vez disso, há apenas um bom filme com começo, meio e um fim que vai deixar todo mundo sorrindo. E não é para isso que nós vamos ao cinema?

Nota: 9/10

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