Crítica | O Chamado 4 joga a franquia de volta no fundo do poço

Antes de falarmos sobre O Chamado 4 é preciso entender melhor a jornada de altos e baixos de O Chamado nas telonas que, apesar do marketing forçar ligações baratas, boa parte da “franquia” não possui nenhuma conexão entre si. O que começou lá em 1998 com o japonês Ringu – que por sua vez é uma adaptação para o cinema do livro homônimo, escrito por Koji Suzuki – ganhou o mundo no remake estadunidense de 2002, estrelado por Naomi Watts. Dessa versão mais cara e que realmente marcou o gênero nasceu uma sequência direta em 2005. E dai por diante foi só ladeira abaixo. O terrivelmente fracassado

O Chamado 3 lançou em 2017 sem praticamente nenhuma ligação com os anteriores e agora, em 2023, somos agraciados com o que certamente pode vir a ser um dos (senão o) piores filmes do ano. O Chamado 4: Samara Ressurge (Sadako DX no original) retorna a saga da fantasma de volta para o Japão e proporciona uma experiência assustadoramente amarga de se assistir, afinal, apesar de ser vendido como uma espécie de revisitação ao universo do terror, nada mais é do que uma comédia de erros sem graça alguma, que beira o ridículo e sem qualquer noção da essência da história original.

A trama e o elenco

Não é nem que o filme seja decepcionante por não atingir os mesmos ápices do original, antes fosse isso, o problema é que essa sequência não é sequência nenhuma. O longa de quase 2 horas pega emprestado algumas regras dos filmes anteriores e toma a liberdade criativa(?) de criar sua própria assombração. Isso é bom? Até poderia ser caso não tivesse um número 4 no título. Mas não há nada que faça essa trama maluca, sem ânimo e totalmente cômica funcionar. Nem no terror inexistente e muito menos na comédia pastelão que insiste em fazer. A sensação que fica é de que o diretor Hisashi Kimura está rindo sozinho das suas próprias piadas toscas.

E como não desejar prisão perpetua ao sujeito que teve a brilhante ideia de transformar Samara Morgan – ou Sadako no original – em uma espécie de vírus altamente transmissível? Talvez os efeitos traumáticos da recente pandemia tenha colocado ideias péssimas na cabeça de uma nova geração de criadores. Uma coisa é certa: essa nova configuração da maldição da menina do poço não faz o menor sentido.

Dessa vez, a narrativa acompanha Ayaka Ichijo (Fuka Koshiba), uma estudante de pós-graduação extremamente inteligente e descrente que tenta resolver o mistério que envolve o tal vídeo em que você morre – agora em 24 horas apenas, pois Samara tem pressa – quando assiste.

Com a corrida contra o tempo encurtada, a menina apática se une ao medroso (para não dizer insuportável) amigo (vivido por Kazuma Kawamura) na busca por resposta antes que a assombração cabeluda os alcance. E dessa premissa água com açúcar nasce um filme que não sabe o ritmo certo para provocar medo e se perde no senso de humor sombrio absolutamente sem sintonia com seu objetivo. As sequências de terror são de arrancar os olhos de tão mal realizadas, ou seja, os sustos necessários dão lugar as gargalhadas mais intensas e involuntárias.

Além disso, a tentativa de criar qualquer atmosfera de medo falha miseravelmente. Não há sequer um momento em que o espectador sinta um arrepio na espinha. Pelo contrário, a trama se arrasta por longos minutos, fazendo com que a vontade de abandonar o filme seja quase incontrolável. Samara e suas variações são uma piada pronta. As atuações também são um ponto baixíssimo – se é que dá pra piorar.

Os atores parecem desinteressados e pouco convincentes, fazendo com que o público não se importe com o que acontece com os personagens. A protagonista toma um sustinho a cada 10 segundos e ainda se diz cética. Se há um ponto positivo a se comentar, talvez seja na bem-vinda tentativa de trazer a história de Samara para os tempos atuais, na era da internet, ainda que não deixe de usar fitas VHS para evocar a energia vintage da franquia. Uma pena que a iniciativa não funcione.

Veredito

Existem filmes ruins e existe O Chamado 4: Samara Ressurge, cujo maior de todos os problemas está no marketing brasileiro que vendeu o longa japonês como uma sequência da franquia estadunidense. Não é um terror, não é uma continuação, é apenas uma nova versão involuntariamente cômica da assombração para a Geração TikTok. Até mesmo Todo Mundo Em Pânico consegue ser mais aterrador. Assistir a fita amaldiçoada parece bem mais atraente do que passar pelo trauma de ver esse filme inteiro.

Atolado de piadas ruins, falta de conexão entre a direção e o roteiro, elenco fraquíssimo e sem qualquer atmosfera de medo, talvez essa comédia japonesa funcionasse se não tivesse um número no título – já que no idioma original não possui. Samara dá uma verdadeira aula de como tirar uma soneca de qualidade. E para os desavisados que ainda desejam pagar para ver essa esquisitice nos cinemas, preparem-se para ficar preso em um poço de tédio, amaldiçoado pelo tempo perdido e perseguido pelo fantasma do marketing mentiroso.

NOTA: 1/10

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