Talvez o primeiro grande problema de Power Rangers: Agora e Sempre (Mighty Morphin Power Rangers: Once and Always) seja considerá-lo um filme isolado, já que o aguardado projeto da Netflix é mais um episódio especial de uma hora para celebrar o aniversário de 30 anos dos Power Rangers, do que um longa-metragem de narrativa tradicional. Com esse enquadramento em mente, o capítulo resgata a essência da franquia e oferece quase tudo o que você esperaria, para nossa sorte e para o nosso azar.
Alguns membros do elenco original se reúnem a outros rostos familiares dos spin-offs mais recentes para deter uma vilã clássica, e isso por si só já captura a aparência e a sensação de aventura da série primária, como se tivesse sido feita em 1993. Tudo é tão cafona como sempre foi, e o enredo não deve, de fato, emocionar e nem fisgar aqueles que não cresceram no auge dos Rangers, mas o especial proporciona uma divertida, leve e doce viagem pela estrada da memória através da trágica perda do mundo real da atriz Thuy Trang, a fofa Ranger Amarela, e seu enredo surpreendentemente emocional sobre o luto e despedida.
A trama e o elenco
Vale recordar que Trang faleceu tragicamente em um acidente de carro, em 2001, mas Agora e Sempre é a primeira vez que sua morte é reconhecida no cânone da franquia. Sua última aparição em Mighty Morphin Power Rangers foi no episódio “Power Transfer” da 2ª temporada, onde Trini, junto com Jason e Zack, deixou a equipe para se juntar a uma conferência de paz. Este especial oferece aos fãs mais apaixonados um encerramento adequado e emotivo. Enquanto descobrimos como a Ranger Amarela encontrou seu triste destino, conhecemos a filha que ela deixou para trás e vemos como a equipe de heróis lida com sua perda.
E sim, é um assunto pesado para abordar em uma série infantil que geralmente mantém as coisas mais leves e divertidas, mas o roteiro – apesar de raso em diversas questões – lida com esse fato do mundo real com bastante coração e sensibilidade. Os atores originais David Yost e Walter Jones, retornam aos seus papéis como Billy e Zach, respectivamente, e enquanto lamentam Trini, fica claro que eles estão expressando tristeza real por perder sua colega de elenco. Agora, anos após a última vez que vimos esses personagens em ação, Billy e Zach tentam lidar com o retorno d megera Rita Repulsa – uma decisão um tanto quanto preguiçosa do enredo – e também lutam para criar a filha de Trini, Minh, uma adolescente esquentadinha que representa o coração emocional da história.
Não é surpresa para ninguém que Minh irá herdar o morfador de sua falecida mãe, mas, compreensivelmente, Billy e Zach não estão entusiasmados com a ideia depois do que aconteceu com Trini. Eles estão cheios de lições sobre os perigos de buscar vingança e se tornam excessivamente protetores com ela. Mas Minh tem um espírito de luta e algumas habilidades em artes marciais para compensar. Ela é a peça central do especial, pois incorpora a gentileza e o humor de Trini, mas também é consumida por uma raiva que a torna imprevisível e destemida.
Para nossa alegria, o especial sabe dosar o assunto tenso com sequências divertidas de ação. Há cenas mirabolante de artes marciais, monstros bizarros de pedra e cenários coloridos em abundância, como seria de esperar de algo situado dentro desse mundo imaginativo dos Power Rangers. Porém, quando deixamos a nostalgia de lado por uma segundo, resta pouquíssimo brilho nessa produção da Netflix. Apesar de suas emoções genuínas, tem um enredo caótico com diálogos que variam de brega a precários.
Quase todos os aspectos de sua produção, desde a coreografia de luta até os efeitos especiais limitados, parecem não ter recebido o amor e a atenção que um especial de 30 anos merecia. Basta questionar se foi feito dessa maneira de propósito, para canalizar a limitação do programa original – que era orgulhosamente alegre e bobo – ou se foi mesmo pela falta de orçamento para investir em algo excepcional. Talvez seja tudo uma característica, não uma falha. É tentador descartar todas essas questões dizendo “é assim que os Power Rangers devem ser”, mas isso não é suficiente para afastar a sensação dolorosa de que algo importante está faltando.
Se somarmos os elementos estranhos da história, as resoluções idiotas dos conflitos e a ausência pouco justificada de outros atores e atrizes originais, tudo parece feito às pressas, sem ânimo e sem energia. Também é importante notar que o projeto foi filmado antes do falecimento do ator Jason David Frank, o Ranger Verde/Branco, em novembro passado, então, como o especial presta homenagem a Ranger Amarela de Trang, é difícil não pensar nele também e como tudo soa um tanto quanto incompleto.
Veredito
Com isso, enquanto Power Rangers: Agora e Sempre tem uma história surpreendentemente emocional sobre luto e momentos nostálgicos e divertidos para desfrutar, é impossível afastar a sensação amarga de que este especial da Netflix precisava de melhores efeitos e diálogos memoráveis para torná-lo genuinamente “especial”.
Ainda que felizmente abrace a cafonice da franquia, suas peculiaridades infantis e limitações de orçamento, para celebrar um aniversário de 30 anos de algo que marcou a cultura pop, essa uma horinha de água com açúcar não se sustenta apenas pelo saudosismo dos anos 90. Apesar dos deslizes, não deixa de ser animado ver Billy e Zach elevados a papéis principais e, sem dúvida, é uma boa viagem – curta – de volta à infância.
NOTA: 6/10
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