Crítica | Fantasma e CIA – Comédia assombrada pelo potencial desperdiçado

Empenhada em assustar seus assinantes, a Netflix segue produzindo obras assombradas por potenciais inexplorados, como é o caso da comédia de horror Fantasma e CIA (We Have a Ghost), uma história familiar, comum e com elenco sólido, mas incapaz de deixar uma impressão duradoura no público, mesmo que seu enredo seja puro entretenimento escapista. Infelizmente, apesar de ter esses elementos promissores, é um filme abaixo da média, que dissipa no ar sua premissa divertida em prol de fazer mais do mesmo.

A trama e o elenco

Pense em quantos filmes sobre casas mal-assombradas você já viu. Agora pense quantos foram absolutamente genéricos e previsíveis, mesmo tendo elementos de humor. Pois então, Fantasma e CIA joga fermento nessa fórmula e a amplifica a receita sem ter uma mesa farta de ideias para servir. Claramente um filme para o período de Halloween – e que estranhamente saiu na época errada. Para deixar o gosto ainda mais amargo, o longa tem direção do ótimo Christopher Landon – responsável por obras hilárias como A Morte Te Dá Parabéns e Como Sobreviver a um Ataque Zumbi – que sabe como poucos mesclar horror com comédia, porém, mesmo com um enredo ossudo, parece diluir sua aptidão para entregar o fácil, o mundano e o óbvio. Uma pena.

O roteiro, baseado no conto de Geoff Manaugh, intitulado Ernest, é composto de falhas interpessoais e aspirações imprudentes de um relacionamento raso de pai e filho. Esse estereótipo só se torna minimante convincente por conta das boas atuações de Anthony Mackie (Falcão e o Soldado Invernal) e Jahi Di’Allo Winston (Everything Sucks!). Mackie captura a orgulhosa figura paterna em sua interpretação de Frank, e ele e Winston – como seu filho Kevin – jogam bem um com o outro. Há química aqui, mesmo que seja baseada principalmente em emoções negativas.

Na trama, constantemente em busca de novas oportunidades para proporcionar uma vida melhor para sua família, Frank parece realmente não entender por que Kevin não consegue se relacionar com o mundo à sua volta. Na realidade, os problemas do menino são muito mais profundos do que isso, mas a incapacidade de Frank de ouvir quando confrontado o força a se isolar. Winston – com seus olhares frios – se destaca em transmitir esse lado de melancólico de Kevin, transformando o que poderia ser percebido como um comportamento perpetuamente sombrio em um meio identificável de solidão.

Apesar de ser um papel que à primeira vista não combina em nada com sua personalidade carismática e palhaçona, o mesmo pode ser dito de David Harbour (Stranger Things) como Ernest, o fantasma “camarada” que assombra a casa da família recém-mudada. Uma mistura inusitada de Beetlejuice com Gasparzinho e Pluft e incapaz de falar, a maioria de suas emoções são transmitidas por meio de expressões faciais e linguagem corporal. O astro entrega momentos realmente sinceros, alimentados por suas habilidades emotivas, porém, os efeitos especiais para deixá-lo fantasmagórico são terrivelmente ruins, algo que faz essa magia se dissipar.

Infelizmente, o filme se esforça demais para dizer algo significativo sobre os tópicos que traz à tona, como a relação conturbada entre pais e filhos adolescentes e até mesmo o racismo estrutural vivenciado pela família. A maioria é apresentada durante as principais cenas antes de ficar em segundo plano no enredo abrangente. As preocupações de Kevin sobre sua posição dentro de sua própria família, por exemplo, são ofuscadas por seu desejo de ajudar seu novo amigo Ernest a recuperar suas memórias de quando era vivo. Suas dificuldades são relacionáveis ​​- o fator motivador é que ambos se sentem presos em suas situações atuais – mas apenas um deles realmente aborda seus problemas. O conjunto é raso, superficial e sem grande impacto emocional na trama.

É tudo tão seguro, o que não seria um problema, é claro, se fosse realmente engraçado – o que não é. A Netflix considerou isso uma “comédia de terror”, mas enquanto uma gargalhada genuína teria ajudado a salvar as partes superficiais do roteiro debilitado, a maioria das piadas não dá certo – ou pior, são sem ânimo algum. Fora a presença ilustre da sempre cômica Jennifer Coolidge (The White Lotus) e algumas tiradas de Harbour, nada mais funciona para justificar estar na categoria de comédia além de vergonha que passa com alguns “defeitos” digitais risíveis.

Veredito

Assombrada pelo potencial desperdiçado, incapaz de evocar bons sustos e enterrada num tom infantil exagerado, a comédia Fantasma e CIA se perde em sua longuíssima duração injustificável e desperdiça grande parte de seu humor pastelão pelo caminho. Apesar de ter uma premissa interessante e performances sólidas, a maioria dos acontecimentos na tela são esquecíveis. Uma história sem comédia, sem graça e arruinada pela mediocridade de mais um roteiro vazio da Netflix. Deve comover algumas almas mais sensíveis e atemorizar àqueles que já estão se perguntando se a mensalidade do streaming não está cara demais para tão pouca entrega de qualidade.

NOTA: 4/10

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