Crítica | O Troll da Montanha – O Godzilla de pedra da Netflix

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E bate o Déjà vu! Uma cientista passional, um excêntrico e um nerd se unem de forma inusitada. Isso pode ser a premissa de uma piada que você já ouviu antes ou de um filme de Roland Emmerich dos anos 2000 que você já viu várias vezes. Ou ambos. Mas enquanto Emmerich tenta se desvencilhar da mais longa sequência de fracassos da história contemporânea de Hollywood, ele deve abrir caminho para que outros reivindiquem o lugar que ele desocupou nas telas. Dirigido pelo engenhoso Roar Uthaug (Tomb Raider), o novo filme norueguês da Netflix, O Troll da Montanha, replica de forma bem-sucedida a fórmula dos grandes sucessos americanos de bilheteria de monstros gigantes e tramas apocalípticas ao entregar uma aventura convencional, fantasiosa e bastante divertida, sem qualquer pretensão de reinventar a roda do gênero. Ao pegar carona nos artifícios de Godzilla e nas histórias de filmes japoneses de kaijus, com uma pitada de cultura nórdica, o projeto do streaming surpreende muito por conta de sua qualidade técnica.

A trama e o elenco

Sendo um bom e velho filme sincero de monstro, a premissa se afasta dos contos de fadas e traz a criatura gigantesca de pedra para o “mundo real”, o colocando como um ser realista e mítico, que estava adormecido nas profundezas de uma montanha da Noruega. Assim como seu primo lagarto, Godzilla, o Troll também desperta após a ambição do homem em adentrar na natureza sem qualquer respeito. Essa história infantil reimaginada ganha ares de um thriller tecnológico ou desastre ecológico no estilo das produções dos anos 90 e funciona.

Por um lado, O Troll da Montanha vai direto ao ponto: quando um misterioso incidente deixa um rastro do que parecem ser pegadas gigantescas pelo interior da Noruega, o governo chama a paleontóloga Nora Tidemann (vivida pela ótima Ine Marie Wilmann) para consultar. Nora, por sua vez, se reconecta com seu distante pai Tobias (Gard B. Eidsvold), um ex-professor de folclore que desapareceu em uma toca de coelho de sua própria crença fervorosa na existência de trolls (O esquisitão viciado em conspiração que acaba por estar certo é outro tropo amado por Emmerich).

A relação pai-filha é bastante rasa, assim como os aliados de apoio dos personagens: o nerd do governo Andreas (Kim Falck), o militar Kris (Mads Sjøgård Pettersen) e a hacker Sigrid (Karoline Viktoria Sletteng Garvang). Mas o conjunto também tem uma química agradável e descomplicada em cena, especialmente por conta do roteiro explorar o lado cômico de toda a situação – afinal, é difícil levar à sério uma criatura feita de pedra, barbuda e nariguda, com aparência humanoide caminhando pela cidade.

Da mesma forma, felizmente o longa se recusa a impor um McGuffin de alta tecnologia em sua simplicidade de filme de monstro: um troll gigante está indo em direção a Oslo por motivos que os humanos não conseguem entender de início. É “apenas” uma montanha gigante passeando por aí e esmagando pessoas pelo caminho, até que seu instinto de vingança seja despertado. Mas essa falta de um objetivo claro interrompe o ímpeto dramático da trama em diversos momentos cruciais. Além disso, algumas cenas são referências óbvias a Jurassic Park.

É realmente difícil se envolver no confronto obrigatório entre os civis e os militares quando nenhuma das partes parece ter uma opinião formada sobre o que é melhor fazer nesta situação, ou mesmo quais são as opções. Matar o troll? Estudá-lo? Fazer amizade com ele? Este não é um filme de dilemas morais de ficção científica, porque o troll permanece no reino dos contos de fadas que se tornam reais. Por vezes, o filme peca por não dar qualquer profundidade ou metáfora ao monstro, mesmo que haja questões sobre a preservação da natureza inexplorada. Há fagulhas sobre cristianização da Noruega e como a criatura parece temer sinos e farejar sangue cristão, mas esses detalhes passam despercebidos.

Conclusão

Sendo mais um ótimo filme da Netflix prejudicado pela pouca divulgação, O Troll da Montanha é uma história de monstro gigante bem realizada e pé no chão, solidificada por uma trama anos 90 que já vimos antes, mas que ainda funciona nas telas por conta dos excelentes efeitos especiais e pelo rastro de destruição que a criatura deixa pelo caminho.

Um curioso filme B familiar com a refinada qualidade de um blockbuster hollywoodiano que, infelizmente, deve se perder no catálogo do streaming. Divertido, empolgante e sincero, ainda que pouco engenhoso e surpreendente, O Troll da Montanha vai engolir seu preconceito pelo criativo cinema norueguês e deve agradar quem busca uma aventura despretensiosa. Se você não vai até a montanha, a montanha vai até você!

NOTA: 8/10

Leia também: O Troll da Montanha | Existem outros trolls vivos? Entenda o final do filme


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