O olhar criativo e artístico de Diego Freitas está a cada filme mais aguçado e, independe de qualquer clichê convencional do gênero e Depois do Universo é tão brilhantemente produzido e dirigido que se torna prazeroso aos olhos. O filme da Netflix é uma surpresa agradável em um ano tão fraco de produções nacionais na plataforma.
Como um bom A Culpa é das Estrelas brasileiro, Depois do Universo fala sobre o poder transformador do amor, a paixão pela música e a convivência com uma doença, com a clara intenção de conscientizar sobre o assunto assustador, ainda muitas vezes estigmatizado. Mas o romance de Freitas, mesmo imerso nos tropos narrativos desse tipo de obra, parece ter plena consciência dos caminhos que toma e constrói uma história com fácil identificação ao público, carregada de sentimentalismo, mas doce em sua simplicidade honesta.
A trama e o elenco
O enredo é descomplicado e feito com base no clássico estilo boy meets girl. Nina (Giulia Be é um verdadeiro espetáculo) é uma jovem pianista talentosa com ideias muito claras: desde criança seu sonho sempre foi ingressar na Academia Sinfônica de São Paulo, Brasil. Um sonho dificultado por sua doença, o lúpus, que causa dores nas articulações e insuficiência renal grave, comprometendo sua qualidade de vida e sua capacidade de tocar. Apesar disso, Nina está determinada a não desistir de seu talento, continuando a dar aulas de piano em uma escola de música enquanto aguarda um transplante de rim.
Um dia, uma notícia no jornal chama a atenção da garota: a Academia Sinfônica procura um pianista solo. Esta é uma oportunidade imperdível para Nina, que decide tentar a sorte apesar de ser obrigada a se submeter a sessões de hemodiálise três vezes por semana. Uma circunstância infeliz, no entanto, permite que ela conheça Gabriel (Henrique Zaga, de Novos Mutantes). Um grande entendimento nasceu imediatamente entre os dois, dificultado, porém, pelas regras da profissão que não permitiam uma relação sentimental entre médico e paciente. Mas isso certamente não impedirá um amor que parece escrito no destino.
Desde o início, fica muito claro que a intenção primordial do roteiro é sensibilizar o espectador, em especial, tentando quebrar preconceitos e disseminar a consciência sobre conviver com algo que está além da nossa capacidade de escolha. De forma bastante sensível, Depois do Universo equilibra o drama com o senso de humor e aborda a possibilidade de conciliar um problema de saúde com a normalidade do dia-a-dia. Nina cresceu com esse diagnóstico e toda sua vida parece uma sentença de morte, um obstáculo insuperável, apesar dos seus sonhos e paixões. É no encontro com Gabriel que ela percebe que pode não apenas sobreviver, como também se reencontrar e achar um sentido na vida, uma vez que o jovem incentiva seus objetivos mais loucos.
A escolha de Giulia Be para o papel da protagonista foi, sem dúvida, acertada. Apesar dela ser o centro dos olhares com seu talento musical, Zaga compõe um co-protagonista bastante doce e de fácil identificação, embora seu personagem sempre pareça um pouco perfeito demais e suas palavras excessivamente retóricas em todos os momentos. Gabriel é uma manifestação do amor que cresce dentro de si. Ele não apenas trata os pacientes, mas também se esforça para que eles possam ter dias melhores.
E quando as personagens são verossímeis desta forma, não é difícil se conectar com suas jornadas e seus destinos cruéis, fruto, claro, do trabalho especial de um roteiro afetivo e sincero, escrito também por Diego Freitas. O cineasta já provou sua força estética no ótimo O Segredo de Davi, mas aqui, alcança uma beleza excepcional. Especialmente ao trabalhar com uma narrativa convencional, limitada e feita sob medida para o público da Netflix.
Mesmo com as previsibilidades da trama e os clichês românticos necessários, sua condução vai exatamente ao contrário do habitual e surpreende com planos lindíssimos e enquadramentos artísticos que dão à obra um tom de qualidade muito bem-vindo. Tudo isso somado à direção de arte e fotografia e a trilha sonora emotiva – com notas adocicadas de piano, bem no estilo cantoras como Amy Lee – fazem a experiência ser animada e distrativa, apesar de suas 2 longas horas de duração.
Conclusão
Uma boa surpresa em um ano tão razoável de filmes cativantes, Depois do Universo fala de amor, música e doença. Mas sobretudo a esperança, que representa o ingrediente essencial de todos os três temas mencionados. A obra de Diego Freitas é otimista, que nos incentiva a ver o lado positivo das coisas e a não parar de procurar uma saída mesmo na finitude da vida.
Com seu roteiro honesto e direção sensível, Depois do Universo é um conto carinhoso de amor com notas afinadas de música para aquecer nossos corações após alguns anos recentes de angústia e medo do futuro. Um verdadeiro abraço para àqueles que estão enfrentando um momento particularmente difícil em suas vidas.
Além disso, marca a ótima estreia como atriz de sua protagonista, a cantora e compositora Giulia Be, mesmo que os personagens sejam, em geral, um pouco estereotipados e excessivamente perfeitos. Apesar do título, nem precisa ir tão longe para ver um filme tão gostosinho como este.
NOTA: 8/10
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