Crítica | Lilo, Lilo, Crocodilo – Musical caprichoso que atinge todas as notas certas

Às vezes, de onde menos esperamos surgem as mensagens mais bonitas. Temos tanto a aprender com os animais que uma vida parece pouco. De CGI, ultrarrealistas ou de verdade em cena, filmes com animais transbordam uma sensação de que podemos ser pessoas melhores se paramos para ouvir o que nos cerca. E com Lilo, Lilo, Crocodilo, nova produção da Sony Pictures, isso não é diferente.

Baseado no clássico livro infantil de Bernard Waber, trata-se um conto fofo e peculiar sobre encontrar seu lugar no mundo, desempenhado por um olhar infantil que funciona, especialmente por beber da mesma fonte que filmes queridos como O Pequeno Stuart Little e Babe – O Porquinho Atrapalhado. Como tal, é necessário uma dose extra de suspensão da descrença para que toda a história – sem muita explicação lógica – faça algum sentido. Passado o estranhamento inicial, a aventura urbana diverte por saber exatamente onde deseja chegar e o tipo de filme que quer ser.

A trama e o elenco

Nesse mundo onde Lilo é um animal com inteligência e voz, o pequeno e doce crocodilo precisa lutar contra a primeira impressão das pessoas e provar seu valor sendo um ser “bonzinho” e estranhamente humanizado. Ele não consegue falar, mas sabe se expressar através da música. Acrescente algumas piadas bobinhas e um enredo verdadeiramente comovente e tudo isso se soma a um filme familiar, típico da Sessão da Tarde, mesmo que muitas de suas boas ideias sejam derivadas de outras obras semelhantes.

O cantor Shawn Mendes dubla o crocodilo cantante na versão original e empresta parte de seu carisma junto com a voz nas canções animadas – já que não é necessária uma atuação de fato. Esse plus infelizmente se perde na versão dublada em português, já que as canções traduzidas não são lá tão boas assim, mas nada que seja terrível. Após seu talento único ser descoberto pelo charlatão Hector P. Valenti (vivido por um Javier Bardem com sua energia vibrante), Lilo sofre de medo do palco, até ser aceito por uma família tradicional que o vê como um igual. E nessa busca por sua voz, o bichinho de computação gráfica também ajuda a família a se reencontrar e se reconectar com o amor que sentem uns pelos outros, ao mesmo tempo que abraçam seus erros e defeitos, especialmente o menino Josh (Winslow Fegley).

Ainda que não seja 100% original, o roteiro e a direção agregam uma sensibilidade que dá uma nova roupagem ao estilo, uma vez que mescla comédia, filme infantil e musical em um só lugar. Por vezes acerta mais nos números musicais, por vezes as piadas são boas. Mas nada é totalmente impecável. Lilo é de CGI, mas suas feições amigáveis e olhar inocente passam sentimentos bem reais. É o tipo de sentimentalismo que se espera de um filme assim, obviamente. Bardem, por sua vez, rouba a cena como o excêntrico e exagerado artista “pai” do crocodilo, mas sua presença sem dúvida deixa o filme – que possui atuações razoáveis – bem mais rico e alegre.

A direção

Os diretores Will Speck e Josh Gordon montaram uma visão animada do clássico livro infantil que se sustenta muito pelas boas sequências de dança pela cidade de Nova York. O roteiro é simples, raso em dar explicações lógicas, mas direto ao ponto no quesito aventura. Traça uma linha tênue entre emocionante e excessivamente piegas. A trama anda pra frente de forma bem natural, mesmo que seja um enredo curto demais para quase 2 horas de filme. O humor, bom, funciona se você tiver menos de 10 anos, caso contrário, algumas piadas podem se perder pelo caminho. Fora isso, algumas canções “chiclete” devem ecoar na nossa cabeça por algum tempo.

Conclusão

Através disso, Lilo, Lilo, Crocodilo adapta o clássico livro infantil de uma maneira jovial. É o simples conto comovente de um doce crocodilo cantor que ajuda os outros a encontrar sua voz. Um musical caprichoso que atinge todas as notas certas, ainda que lute para encontrar sintonia entre o humor e o drama. Voltado totalmente para o público infantil, mesmo com alguns problemas de coerência, o filme tem charme e algumas canções ridiculamente cativantes.

Javier Bardem – e todo seu talento – rouba o show, mas é o doce e inocente crocodilo cantor que vai roubar seu coração. Sem muita profundidade ou imersão, sua promessa é entreter e isso a obra faz muito bem. Enquanto Lilo desperta o melhor nas pessoas ao seu redor, filme também faz isso por nós. E, às vezes, é exatamente disso que precisamos.

NOTA: 7/10

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