Terror em camadas. Essa é a melhor forma de descrever a sensação de assistir Noites Brutais (Barbarian), que chega ao Brasil pelo Star+. Como um mágico que tira truques inusitados da cartola, o roteiro inteligente brinca com suas malucas reviravoltas e leva o espectador por uma viagem terrivelmente intrigante do começo ao fim. É visível que o filme tem plena consciência dos clichês do gênero e, sem cair nas armadilhas convencionais, surpreende a cada nova esquina que dobra, sem deixar de provocar desconforto no público.
O diretor Zach Cregger arquiteta sequências intensas de suspense e introduz personagens questionáveis para servirem de refeição aos seus próprios medos. Quando menos esperamos, Noites Brutais parece dois filmes distintos, costurados por uma narrativa movida pelo choque das revelações que são dadas aos poucos. E, no meio do sangue e gore, ainda sobra espaço para abordar a cultura do cancelamento de Hollywood e seus predadores sexuais.
A trama e o elenco
Tudo começa de forma mundana, aparentemente, Tess (Georgina Campbell) e Keith (Bill Skarsgård) são indivíduos que alugaram a mesma casa no Airbnb, sem que um soubesse do outro. O lugar fica na pior zona possível de Detroit (e, sinceramente, nos faz perguntar se não viram uma foto ou avaliação antes, mas ok). Sem opções, a dupla de desconhecidos compartilham a noite enquanto Tess, engenhosa e inteligente, aborda a situação com muita apreensão e medo – apesar das garantias de Keith de que ele é “um cara legal”.
A tensão de gênero estabelecida é autêntica quando Keith tenta gestos hospitaleiros como convidar Tess para entrar ou servir seu chá. A cinematografia, por outro lado, acentua o contorno de Keith nas portas ou Tess trancando todas as portas sempre que está em uma nova sala. É apenas o começo do pesadelo de Tess depois de descobrir uma passagem secreta que leva ao terrível e inacreditável porão da casa. Desse ponto, tudo começa a mudar. Se os primeiros 15 minutos constroem um filme urbano e típico, depois disso, a escuridão começa a ganhar forma e o enredo muda completamente, assim como nossas desconfianças.
O roteiro acelera o ritmo com surpresas impressionantes que não vemos com tanta frequência nos lançamentos de terror atualmente. Fica claro que o roteirista está se divertindo enquanto brinca com as possibilidades sobre o que se trata o filme em si. Ao nos deixar fascinados com o quão abrupto o caos se estabelece, a trama nos prepara para o pior que está por vir, ao mesmo tempo que desce cada vez mais fundo nas profundezas macabras do local. Sua enigmática história mistura filmes dos anos 2000 como A Viagem Maldita, Abismo do Medo, e o mais evidente de todos, [REC], na mesma salada divertida que faz.
Quando o controverso personagem de Justin Long é inserido – em uma sequência quase anticlimática – é aí que a história se distorce de vez. E o filme, inteligente, sabe muito bem da natureza problemática da personalidade misógina do novo personagem, uma vez que não força simpatização e nem o coloca como “salvador”. Então, no lugar disso, trava uma batalha frenética pela sobrevivência que une vários subgêneros de terror, de thrillers de serial killer a fugas de cavernas bestiais. Com cenas grotescas e muito sangue, da metade para o final o filme sofre oscilações e caminha para uma zona mais comum, entregando um desfecho bom, mas não tanto quanto prometia fazer.
Conclusão
De fato, Noites Brutais é o tipo de filme que nos faz sair da zona de conforto, nos desafia a submergir na escuridão de uma trama visceral e com reviravoltas impossíveis de prever. Ao ir na contramão do convencional filme de horror preguiçoso e sua tendência de entregar apenas o que vai agradar o público, este aqui leva por um passeio divertido e intrigante em uma montanha-russa imprevisível.
Com exceção de algumas oscilações no desfecho – que falha em entregar tudo que promete – é seguro dizer que estamos diante de um dos filmes mais inteligentes do gênero de 2022 e que tem grande chance de se tornar um clássico adorado por fãs. Então entre, fique uma noite e nunca mais tire essa experiência maluca da sua mente.
NOTA: 9/10
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